Quais são os impactos da prisão do líder do governo no Senado?

Delcídio Amaral teria sido flagrado na tentativa de prejudicar as investigações ao oferecer auxílios que vão desde uma mesada generosa até o apoio em fugas ao exterior

Lara Rizério

Publicidade

SÃO PAULO – A Polícia Federal prendeu, nesta quarta-feira (25), o senador Delcídio Amaral (PT-MS), líder do governo no Senado, responsável por boa parte da articulação política devido ao bom trânsito entre peemedebistas, petistas e até tucanos. Juntamente com o parlamentar, foram presos o banqueiro André Esteves – dono do BTG Pactual -, Diogo Ferreira e Edson Ribeiro Filho – respectivamente, chefe de gabinete e advogado do senador.

Conforme contaram os jornalistas do portal Fato Online, o clima já havia esquentado na noite da véspera, quando Delcídio – conhecido por integrar uma espécie de gabinete de crise do ex-presidente Lula para monitorar os efeitos da Operação Lava Jato – foi informado de que haveria uma reunião secreta da 2ª turma do Supremo Tribunal Federal. Na manhã daquele dia, o senador havia marcado um café da manhã com o empresário Maurício de Barros Bumlai, filho de José Carlos Bumlai – que iria prestar depoimento na CPI do BNDES. A prisão do empresário do agronegócio, no entanto, obrigou o cancelamento do encontro.

Um dia depois, mal sabia Delcídio que seria a sua vez. É a primeira vez que um senador em exercício do mandato é preso – o que só pode ocorrer em caso de flagrante ou de atividades orquestradas para atrapalhar as investigações. O parlamentar teria sido flagrado na tentativa de prejudicar as investigações ao oferecer auxílios que vão desde uma mesada generosa de R$ 50 mil até apoio em fugas ao exterior ao ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, preso pela Lava Jato desde o ano passado.

Masterclass

O Poder da Renda Fixa Turbo

Aprenda na prática como aumentar o seu patrimônio com rentabilidade, simplicidade e segurança (e ainda ganhe 02 presentes do InfoMoney)

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

A prisão de um dos nomes de maior importância do governo no Congresso e, em parte, responsável por um clima mais pacífico no Senado para apoio a medidas defendidas pelo Planalto, representa uma dura derrota à gestão de Dilma Rousseff. Além do PT e de Lula, a presidente agora vê seu governo em posição de maior vulnerabilidade com relação às investigações na Petrobras. Para o analista político da consultoria Arko Advice Carlos Eduardo Borenstein, as iniciativas de Delcídio para frear as delações de Cerveró mostra a dimensão da preocupação do Planalto com o teor das informações. Parece que o ex-diretor sabia demais.

Borenstein destaca ainda o cenário de substituição da liderança do governo no Senado, após a prisão preventiva de Delcídio, embora ainda seja cedo avaliar se ele permanecerá encarcerado ou se voltará a atuar na casa em breve. Os quatro vice-líderes do governo no Senado vão substituir interinamente o líder do governo na Casa. Até a semana que vem, quando será escolhido o substituto definitivo, os senadores Hélio José (PSD-DF), Paulo Rocha (PT-PA), Wellington Fagundes (PR-MT) e Telmário Mota (PDT-RR) vão responder pela liderança do governo no Senado.

Ao que indica a legislação brasileira, o Senado terá de votar, em 24 horas, o futuro do parlamentar – se continuará preso ou será solto e voltará a atuar na casa. De todo modo, a perda de prestígio de Delcídio gera instabilidade para o governo no Senado e compromete a tramitação de pautas importantes para a estabilidade das contas públicas. O senador é relator do projeto da repatriação no Senado, uma das esperanças do governo para aumentar a arrecadação no ano que vem. 

Continua depois da publicidade

De acordo com o analista político da Arko Advice Cristiano Noronha, o foco, que estava muito centrado no presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também deve mudar um pouco, mas o processo contra o parlamentar deve continuar seguindo normalmente. O Conselho de Ética da Câmara, presidido pelo deputado José Carlos Araújo (PSD-BA), pretende votar o relatório sobre o processo contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no dia 1º de dezembro.

De acordo com Noronha, a nova ação da Lava Jato também serve como um recado para aqueles que pretendem obstruir as investigações. Após as vitórias da semana passada, essas ações da Lava Jato representam um balde água fria no governo, e devem trazer maior instabilidade. O mercado já percebeu e o Ibovespa tem marcado realização nesta sessão, com queda na casa de 2%. “Isso mostra que a Lava Jato vai seguir avançando. No caso de Delcídio, que teria usado o cargo para blindar algum tipo de avanço, não foi obtido sucesso. Isso pode aumentar o clima de apreensão por parte dos parlamentares e dificultar as coisas para o governo”, complementou Borenstein.

Se o desenrolar da Lava Jato aumenta as chances de impeachment da presidente Dilma Rousseff por elevar a temperatura na política e envolver mais o PT, Noronha afirma que é muito cedo dizer. Por enquanto, o que foi divulgado e trata da famigerada refinaria de Pasadena, nos EUA, envolve apenas o senador Delcídio dentro do partido. 

Continua depois da publicidade


É hora ou não é de comprar ações da Petrobras? Veja essa análise especial antes de decidir:

Leia também:

Você investe pelo banco? Curso gratuito mostra como até dobrar o retorno de suas aplicações

Publicidade


Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.