Próximo presidente será menos intervencionista e gastador, diz J.R. Mendonça de Barros

Ex-secretário do Ministério da Fazenda afirma que o crescimento do PIB deve ser fraco ao menos até 2015

João Sandrini

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(SÃO PAULO) – O ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda (primeiro governo FHC) e sócio da MB Associados, José Roberto Mendonça de Barros, acredita que qualquer um dos principais candidatos na eleição de 2014 será um presidente menos intervencionista e gastador que a atual – isso pode acontecer mesmo que Dilma se reeleja. “É evidente que os gastos públicos e as intervenções já passaram do ponto e estão destruindo as expectativas”, afirma. Leia a seguir os principais trechos da entrevista exclusiva ao InfoMoney:

ELEIÇÃO

Qualquer candidato que vença a próxima eleição presidencial vai ser menos intervencionista e menos gastador. É evidente que os gastos e as intervenções já passaram do ponto e estão destruindo as expectativas. Vai haver um rearranjo em 2015. Os períodos mais difíceis são uma pré-condição para a solução de problemas porque normalmente levam a um afinamento da agenda. Mas é preciso entender o problema porque, enquanto isso não acontece, não tem conserto. O governo ainda defende que o que está fazendo é o correto mesmo que já esteja óbvio de que não é só um cenário internacional difícil. A Dilma já não é mais tão favoritíssima após as manifestações das ruas. O governo associava a felicidade da população à posse de bens. O que as ruas mostraram é que há um desejo de qualidade de vida que depende da melhoria dos serviços públicos. É uma novidade total. Foram muitos anos sem incerteza política de curto prazo. Não é um risco político de sociedade rachada, como no Egito, na Turquia ou na Argentina. Mas é uma incerteza porque ninguém sabe o que vai acontecer. Com a incerteza, o investimento se retrai ou permanece em torno de 18% do PIB. Os empresários continuam de péssimo humor e não damos um passo além.

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FREIOS DO PIB

Acho que a atividade econômica será fraca provavelmente até 2015. Estamos emendando o final de uma era com a sucessão presidencial. É uma dificuldade gerada por uma mudança de caráter estrutural que não é muito positiva para o crescimento do Brasil aliada à incerteza natural de uma eleição presidencial. É o fim de uma era por vários fatores:

1) Acabou o crescimento acelerado na China, com consequência para os preços de commodities. Os otimistas acham que a China consegue manter um crescimento por volta de 7% ao ano. Os pessimistas acham que será menos que isso. Nós achamos que serão 6%. Não é pouco, mas a China cresceu a taxas de dois dígitos por 30 anos. Isso nos atrapalha tanto quanto nos ajudou no período anterior;

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2) Todo mundo concorda que estamos perto do fim do período de juros internacionais muito baixos, que já dura cinco anos. O Federal Reserve vai dar essa virada na política monetária por uma razão boa, que é a retomada do crescimento do PIB americano. Isso já tem levado os juros a um movimento de alta. O dia em que o Fed começar a se mexer mesmo, deve subir mais ainda até um patamar próximo à normalidade. Isso aumenta a atratividade dos investimentos nos EUA e diminui a de países emergentes, em particular a daqueles que estão com maior dificuldade de crescimento como o Brasil. Acho que o investimento estrangeiro direto vai cair, o que nos trará ainda mais dificuldades;

3) Após crescer a taxas chinesas nos últimos anos, o crescimento muito rápido da demanda interna acabou. Houve a emergência da nova classe média e a incorporação ao mercado de alguns milhões de pessoas,que antes de não tinham acesso a crédito ou instrumentos financeiros, como cartão de crédito. Só que esse “efeito-inclusão” já passou em sua maior parte. Não há mais 13 milhões de famílias que vão passar a receber o Bolsa-Família. Será um crescimento vegetativo. Também há muitas famílias endividadas que precisam reduzir os débitos. O consumo vai subir mais de acordo com a melhoria dos fundamentos da renda das pessoas. A demanda já está crescendo bem menos. Acho que o consumo vai crescer pouco durante um período e, quando houver a retomada, o crescimento vai ser menor;

4) A folga fiscal também acabou. A arrecadação federal cresceu muito acima do PIB nos últimos anos. Nosso sistema tributário é uma máquina de coletar impostos, mas não tem mais como continuar aumentando no mesmo ritmo. O governo usou mal essa grande arrecadação em gastos de custeio e despesas permanentes, sobrando muito pouco para investimentos. Há 10 anos que os investimentos estão estagnados em cerca de 3% do PIB. No Chile, é 5%. Na China, nem se fala. A calamidade nos transportes mata o crescimento.

PIB POTENCIAL

Até quatro anos atrás, tínhamos um potencial de crescimento do PIB de 4% a 4,5%. Hoje é 2,5% a 3%. No curtíssimo prazo, é menor que 3%. O crescimento médio do governo Dilma é menor que 2% até agora e vai ser pouco superior a 2% durante os quatro anos de mandato. Como é um período longo de tempo, não dá para dizer que é apenas uma coincidência. E 2015 também não deve ser muito diferente. Quem quer que ganhe a eleição vai ter que fazer um ajuste. É a armadilha do crescimento baixo.

BNDES

O fim do experimento do BNDES de financiar campeões nacionais também atrapalha o crescimento. O governo usou a estratégia de financiar largamente algumas empresas pensando que elas se tornariam o que foi a Samsung ou a LG para a Coreia do Sul, que seriam companhias que induziriam o crescimento. Mas isso fracassou. A débâcle do grupo EBX é o caso mais emblemático. É verdade que nem todos os campeões foram um fracasso. Mas a BRF e a Fibria podem ser considerados bons projetos porque já eram bons projetos antes do BNDES adotar essa política. A Vale é campeã por méritos próprios, e não por políticas do governo. Ao mesmo tempo, a Petrobras e a Eletrobras estão de joelhos e são limitadas como puxadores de crescimento. A Eletrobras depende do Tesouro Nacional porque nenhuma empresa, estatal ou privada, consegue se manter inteira após um corte de geração de caixa como o que foi feito [na renovação das concessões de geradoras e transmissoras]. A Petrobras abriu o bico porque o que lhe foi pedido foi exagerado. Os frigoríficos não puxaram o crescimento e ainda concentraram demais o mercado de carnes. O BNDES aumentou a dívida pública, o que tem efeito na política fiscal.

A MÃE DE TODOS OS ERROS

Talvez a mãe de todos os erros tenha sido não ter percebido a dificuldade de aumento da oferta, lançando um programa atrás do outro para estimular a demanda. Isso só aumentou pressão inflacionária. Estamos em meio a um ciclo de aumento dos juros, mas o expansionismo fiscal é inconsistente com o objetivo de controle da inflação. No câmbio, o governo também foi na direção errada e teve que voltar atrás agora. O excesso de mudanças de regras e de interferências também é um equívoco.

GASTOS PÚBLICOS

É preciso cortar gastos públicos. Não dá para ter um expansionismos fiscal dessa natureza porque aumenta a dívida com uma alocação de gastos pouco produtiva. É preciso assumir gastos sociais, mas há um inchaço com os atuais 40 ministérios. É difícil cortar gastos quando se cria uma base aliada em que todo mundo quer seu ministério. O Fabio Giambiagi [economista e professor que trabalhou no BNDES e Ipea por vários anos] diz que a gente está criando um problema gigantesco na Previdência. Enquanto isso, a base aliada está discutindo o fim do fator previdenciário. Essa bomba vai explodir com o fim do bônus demográfico [quando a população ativa entrar em declínio].

CONCESSÕES

A parte de infraestrutura ainda não deslanchou. As regras até agora têm sido confusas e mudam muito. Os atrasos nos leilões das rodovias mostram isso. A insistência no trem-bala é incompreensível. A escassez de infraestrutura trava outros investimentos que dela dependem, como no agronegócio. Tem que resolver a questão regulatória do petróleo, da energia e de outras concessões. O governo tem um desejo de querer controlar tudo e acaba saindo algo prejudicial ao crescimento. O governo que mais acreditou no Estado nas últimas décadas prejudicou muito a Petrobras e a Eletrobras. A regulação é inconsistente e muito ruim.

IMPOSTOS

Acho difícil crescer com a carga tributária que temos. Tem que ir aos poucos baixando. Num mundo com a atual mobilidade de capital, não vai vir dinheiro pra cá. Ao invés disso, vai vir importação porque é mais barato produzir em outros países. O mercado de trabalho também precisa ser menos regulado, e não mais. O custo do mercado de trabalho tira a competição para produzir qualquer coisa.

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