Próximo presidente eleito pode enfrentar fantasma do impeachment a partir de 2020

Com a tendência de manutenção do quadro de pulverização de partidos com representação no parlamento, apoio minoritário da população ao eleito e recursos escassos disponíveis, crescem os desafios à futura gestão

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Independentemente do nome escolhido pelos brasileiros para suceder Michel Temer na presidência da República pelos próximos quatro anos, uma das poucas certezas hoje apontadas pelos analistas políticos é de um governo marcado por dificuldades na gestão da relação com a base aliada no Poder Legislativo. Com a tendência de manutenção do quadro de pulverização de partidos com representação no parlamento, apoio minoritário da população ao eleito e recursos escassos disponíveis, crescem os desafios à futura gestão. Este foi um dos temas da última edição do programa Conexão Brasília, transmitido sexta-feira pela InfoMoneyTV (confira a íntegra no vídeo acima).

“O país elegeu quatro presidentes nos últimos 30 anos e dois sofreram impeachment. O impeachment é 50% das chances no futuro. Não podemos desconsiderá-lo”, observou João Villaverde, analista sênior de Brasil da Medley Global Advisors, durante o programa. Autor do livro “Perigosas pedaladas — os bastidores da crise que abalou o Brasil e levou ao fim o governo Dilma Rousseff”, o especialista chama atenção para momentos distintos para a governabilidade ao longo de um mandato presidencial.

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“A governabilidade tem dois momentos. Um será apenas o ano de 2019. Este quem quer que seja atravessa. Agora, minha dúvida é: e a partir de 2020? Porque, vindo as reformas, e me parece que pelo menos a da Previdência vem, nenhuma ataca o problema do emprego. O país, que está há cinco anos em crise, vai ter mais um: em 2019, não haverá muita medida a tomar, ainda mais em um governo que inicia. Então, esse presidente chega em 2020, a vitória eleitoral já baixou, a sensação de que nada mudou começa a florescer, a popularidade naturalmente cai e, se ele não tiver capacidade de navegar no Congresso Nacional, é impeachment. É a história do Brasil”, complementou Villaverde.

Como pontuou o analista no programa, uma coisa é ganhar a eleição (o que já é bastante difícil), outra, mais simples, é atravessar o primeiro ano de mandato. Agora, os grandes desafios de gestão de governo estão nos anos seguintes. Foi o que se observou nos mandatos de Dilma Rousseff e Fernando Collor de Mello anteriormente.

“Existe o caminho dos cargos, mas também o de patrocinar reformas que os parlamentares vendem para seus públicos, a partir da escolha do relator etc. Há formas de atravessar isso, mas tudo passa por uma compreensão de como é o jogo político. Ou você joga assim ou não participa. Os dois que escolheram bater de frente sofreram impeachment. Não se bate de frente com o Congresso. Temos um regime presidencialista, mas meio parlamentarista. Já que é assim, é melhor que seja um presidente ou uma presidente que tenha capacidade de negociação. Se não souber negociar, não atravessa”, concluiu.

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Entre os candidatos mais bem posicionados nas pesquisas eleitorais, o analista político Paulo Gama, da XP Investimentos, avalia nomes como o do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) e da ex-senadora Marina Silva (Rede) como os que inspiram maior cautela na construção de um ambiente favorável à governabilidade, em função dos possíveis comportamentos adotados.

“Bolsonaro é uma figura que faz questão de mostrar que não tem interlocução clara com o Congresso e diz que não está disposto a jogar esse jogo. Aí, é questão de saber, se eleito, sentado na cadeira, o quanto ele conseguiria manter o discurso ou quanto seria forçado a entrar nessa lógica. Não digo nem lógica de práticas ilícitas, mas a lógica do dia a dia de negociação com o Congresso, que vai ser muito parecido com o que temos hoje. Ou ele fica disposto a sentar com essas pessoas, para negociar dentro da política lícita, para conversar, ceder espaço, ou vai ter muita dificuldade”, pontuou.

Do lado de Marina Silva, o analista disse que a ideia de construir um “conselho dos bons” pode ser interessante, mas pouco prática. “É uma ideia que tem pouca conexão como a maneira como o Congresso funciona”, ponderou.

“O presidente que ganhar chega forte. O Congresso é governista por natureza, o governo tem o monopólio da negociação com ele. Sabendo lidar, ele consegue. Mas precisa saber lidar, é preciso ter disposição para jogar o jogo com essas regras. Não é o presidente que define a regra de como o Congresso vai funcionar. Tem que ser alguém que consiga jogar o jogo com as regras que estão postas agora. Mas nenhum dos presidentes tem vida fácil”, concluiu Gama.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.