Promessa de Palocci de entregar STF, decepção com Moro: as revelações de Janot além do “caso Gilmar Mendes”

Ex-procurador-Geral da República revela até mesmo um pedido de Temer para que não investigasse o ex-deputado, Eduardo Cunha

Ricardo Bomfim

Ex-procurador-Geral da República, Rodrigo Janot (Crédito: Agência Brasil)

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SÃO PAULO – O noticiário político brasileiro foi abalado na noite de ontem pelas revelações do ex-procurador-Geral da República (PGR), Rodrigo Janot, de que chegou a ir armado a uma sessão do Supremo Tribunal Federal (STF) para matar Gilmar Mendes, mas que não disparou contra o ministro.

Porém, segundo tem sido noticiado, Janot está lançando um livro que conta com muito mais revelações.

O livro de memórias do ex-PGR, chamado “Nada menos que tudo: Bastidores da operação que colocou o sistema político em xeque” vai ser lançado ainda este mês e, nas redes sociais, há muitas alegações de que a fala impactante de Janot sobre Gilmar Mendes teve como objetivo aumentar a repercussão para a publicação.

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A despeito disso, uma das revelações antecipadas por ele em entrevista para a revista Veja é a de que o ex-ministro da Fazenda petista, Antonio Palocci, tentou fechar uma delação que envolveria denúncias contra cinco ministros do STF.

“Ele citou a Rosa Weber, o Luiz Fux, o Fachin, mas era igual a biscoito de polvilho, só fazia barulho”, disse o ex-PGR à Veja.

Janot afirmou ainda não ter dúvidas de que o ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, é corrupto. “É impossível que o Lula não fosse um dos chefes de todo esse esquema. Não tenho dúvida de que ele é corrupto. Da mesma forma que não tenho nenhuma dúvida de que a Dilma não é corrupta.”

Apesar disso, o ex-PGR revelou estar decepcionado com o ministro da Justiça, Sérgio Moro, pois considerou que as delações delegadas por ele à força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba como a do executivo da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e o doleiro Alberto Youssef, estavam muito rasas.

“No início da operação, a força-­tarefa de Curitiba pediu que eu delegasse a ela o direito de fechar as primeiras colaborações premiadas. Deleguei e me arrependi”, afirmou.

Janot revelou ainda que o ex-presidente Michel Temer pediu que ele cometesse um crime ao pedir que poupasse o ex-deputado Eduardo Cunha de qualquer investigação.

“Pouco antes do início do processo de impeachment da Dilma, recebi um convite para ir ao Jaburu encontrar o vice-presidente. Lá, ele (Temer), depois de um pequeno rodeio, falou assim: ‘Estamos aqui para conversar não com o procurador-geral, mas com o patriota’.

E entra o Henrique Eduardo Alves e reafirma: ‘Estamos aqui falando com o patriota e queríamos chamar o senhor para não permitir que o Brasil entre numa ‘situação de risco’. Esse homem é um louco. O senhor tem de parar essa investigação’. O louco era o deputado Eduardo Cunha. Custei a acreditar que estava ouvindo aquilo e disse que aquela conversa estava errada. Diante da minha reação, Temer ainda insistiu: ‘O Henrique não está falando com o procurador-geral, ele está falando a um patriota. Não há gravidade na proposta que ele está fazendo’. Eles queriam que eu praticasse um crime, o de prevaricação. Falei alguns palavrões indizíveis antes de ir embora.”, disse Janot à publicação.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.