Primeira grande crise de Temer explodiu: como isso impactará o já contestado governo?

A tese de que a Lava Jato atingiria o governo Michel Temer já existia e se comprovou nesta segunda-feira; para analistas, o cenário deve ser de continuidade da instabilidade e afastamento de Jucá não estancará crise

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Como se não bastassem as crises iniciais envolvendo as discussões sobre a legitimidade do seu governo, a polêmica sobre a formação do ministério e os protestos contra o governo, Michel Temer enfrenta o que, na visão de muitos analistas, era o seu principal ponto fraco: a Operação Lava Jato.

As desconfianças do mercado e da população, que já começaram com a nomeação de investigados e citados em ministérios, ganharam o seu ponto alto na manhã desta segunda-feira, quando foram divulgados trechos de gravações obtidas pelo jornal Folha de S. Paulo que mostram conversas entre o ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR), e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Nas gravações, o ministro sugere que seria preciso mudar o governo para “estancar” uma “sangria”. Segundo as informações do jornal, o ministro estaria se referindo à Operação Lava Jato, que investiga fraudes e irregularidades em contratos da Petrobras.Os diálogos ocorreram em março deste ano e o ex-presidente da Transpetro estaria negociando delação premiada com a PGR (Procuradoria Geral da República). A notícia fez, inclusive, com que Jucá se licenciasse do governo Temer; ele afirmou que deixará o cargo a partir da próxima terça-feira (24) até que a PGR (Procuradoria Geral da República) se manifeste sobre o caso. 

“O caso Jucá é um problema sério. Mostra como a Lava Jato, uma das causas para queda de Dilma, ameaça o governo Temer. Além disso, a gravação e a divulgação da conversa indica briga de bastidor entre alas do PMDB”, afirma o analista político da MCM Consultores, Ricardo Ribeiro. Já a Rosenberg Consultores Associados destaca que “a capitulação de Jucá se torna um revés significativo ao governo interino, exatamente em um momento de alta  sensibilidade popular às investigações de corrupção”. Já para a Arko Advice, a crise é potencialmente explosiva para o novo governo, sendo a “primeira grande crise política de Temer em apenas 2 semanas de cargo”. Enquanto isso, diz a Eurasia, o caso Jucá representa um risco limitado para a votação da agenda de reformas econômicas, apesar do desgaste. 

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Na avaliação do analista político Juliano Griebeler, da Barral M. Jorge, ao nomear senadores e deputados que estão sob investigação da Operação Lava-Jato, Temer assumiu o risco político de que novas fases da investigação pudessem criar instabilidade em seu governo provisório.  “O vazamento ocorre em um momento delicado, uma vez que Jucá tem sido um dos principais articuladores do governo no Senado Federal e nesta semana ocorrerá a primeira importante votação para Temer no Congresso, a votação da nova meta fiscal”, afirma. Desta forma, para ele, a votação da meta deve ser afetada; além disso, os partidos da oposição tentarão utilizar o fato para dificultar a atuação do governo provisório, destaca o analista. 

Juliano Griebeler reforça que os partidos da nova oposição, como PT, PDT e PSOL já mostram atuação. Nesta manhã, a assessoria de imprensa da bancada do PSOL na Câmara dos Deputados informou que entrará com uma representação contra o ministro do Planejamento, Romero Jucá, na PGR (Procuradoria Geral da República ), sugerindo prisão do peemedebista por obstrução da Justiça. A expectativa é de que o partido vá à PGR ainda na tarde desta segunda. Além disso, o senador Telmário Mota (PDT-RR) também anunciou que vai ingressar no Conselho de Ética do Senado com pedido de cassação do mandato de Jucá, senador licenciado para ocupar o ministério.

Lava Jato tem vida própria
Para o analista político da Barral M. Jorge, durante a entrevista para explicar o áudio, Jucá ainda se mostrava relutante em sair do ministério. Porém, após reuniões com o “núcleo duro” do governo, Jucá divulgou que iria pedir licença do cargo. Isso indica que a atitude de Temer foi rápida; porém, mesmo assim, o governo provisório sai com sua imagem enfraquecida, uma vez que tentava sinalizar que o seu governo seria diferente do anterior. 

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Neste cenário, pelo menos no curto prazo, as chances da presidente afastada Dilma Rousseff voltar ao poder aumentam, pois o discurso dela ganha forças (inclusive, porque a conversa entre Jucá e Machado indica intenção de barrar a Lava Jato). Porém, avalia o analista, ainda é muito cedo para avaliar como será o cenário quando se der a votação do impeachment definitivo da presidente. 

Por enquanto, Michel Temer deverá se concentrar na pauta econômica, sendo este até um dos motivos para a licença do ministro do Planejamento. De acordo com Jucá e Renan Calheiros, a proposta da meta fiscal de um déficit de R$ 170,5 bilhões será votada nesta terça-feira às 11h (horário de Brasília); segundo Griebeler, a votação será crucial para indicar a base de apoio do presidente em exercício após este início turbulento. 

Para a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, o afastamento de Jucá ainda não vai estancar crise. “Entendo que o afastamento de Jucá é algo temporário, uma tentativa de estancar a crise”, afirmou a economista em entrevista para a Bloomberg. Porém, a crise não se estancará ainda e uma coisa é certa: a incerteza do mercado aumentou. 

Por outro lado, afirma, é cedo para dizer que o episódio colocará em risco a aprovação de medidas fiscais. “A reação do mercado depende muito de como essa crise vai evoluir, a partir do momento em que Jucá se afastar”, ressalta. “O mercado achava que a Lava Jato não fosse atingir tão cedo o governo Temer, que tinha gostado bastante da equipe econômica e das propostas ventiladas”, avalia Solange. 

Porém, ressalta Griebeler, se algo foi confirmado hoje, é que a Lava Jato tem força própria. Com as notícias de que Sérgio Machado também gravou José Sarney e Renan Calheiros (e que o potencial explosivo dessas gravações poderia ser ainda maior), uma certeza pairou no mercado nesta sessão: a instabilidade prosseguirá. 

(Com Bloomberg)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.