Prensado entre resistências e cenário externo, Ibovespa deve ter semana volátil

Feriado nos EUA não irá trazer alívio ao índice, com agenda carregada e expectativas sobre China e a crise na Europa

Julia Ramos M. Leite

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SÃO PAULO – O cenário externo deve continuar como foco e limitador do movimento do Ibovespa na próxima semana, após trazer bastante volatilidade ao índice nos últimos dias.

Se por um lado os dados de atividade dos EUA mostram certa evolução e o Fed segue injetando liquidez nos mercados, por outro, China e Europa emitem sinais não tão positivos assim. Enquanto a primeira dá continuidade a medidas de aperto monetário, a saúde fiscal europeia volta ao noticiário – agora, com foco na Irlanda.

Para Fernando Góes, analista da Link Trade, o movimento volátil do Ibovespa reflete exatamente os dados externos divergentes. “Segue essa divergência de expectativas e de notícias, e fica difícil dar um direcional claro no curto prazo”, explica.

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Silvio Campos Neto, economista chefe do Banco Schahin, também não vê uma tendência clara para a bolsa por enquanto, já que ela segue muito dependente de dados externos. “Acho que há dificuldades para a bolsa manter uma tendência firme, pelo menos no curto prazo”, aponta.

De olho no leste
Mas quais os destaques no noticiário internacional devem guiar o Ibovespa? Assim como na última semana, o primeiro deles é o “efeito China”. “Temos que olhar primeiro até que ponto esse aperto monetário na China é realmente forte ou se é só um ajuste”, destaca Góes.

Cabe lembrar que, na sexta-feira (19), o gigante asiático elevou pela segunda vez em duas semanas o compulsório, voltando a trazer certo mau humor aos mercados. “A elevação do compulsório já trouxe uma piora no preço das commodities logo após o anúncio, certamente isso traz impacto para as bolsas, especialmente para a brasileira, que tem uma relação muito forte com o comportamento desses preços e com qualquer tipo de informação que venha da China”, explica Campos Neto. Com isso, a China se coloca como o primeiro ponto de atenção e limitador para o desempenho do mercado.

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Apesar de menos proeminente no final da semana, o desenrolar da crise fiscal europeia também deve ficar em foco nos próximos dias – já que, como lembra Góes, a questão pode ter sido momentaneamente aliviada por promessas de ajuda, mas está longe de ter sido resolvida.

Além da situação fiscal, a Europa também traz diversos indicadores de peso na semana, incluindo a revisão do PIB (Produto Interno Bruto) do Reino Unido, confiança do consumidor e pedidos à indústria na Zona do Euro. Também estão previstos diversos indicadores da economia alemã – que é, para Góes, um caso a parte no continente.

“A Alemanha é a grande bóia salva-vidas da Europa. Se os indicadores vierem abaixo do esperado, é muito ruim, porque é o país que está segurando a crise. Se vier muito melhor do que o esperado, ajuda, claro. Já se vier em linha, é bom, mas também não é uma solução”, frisa.

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EUA: agenda pesada e Black Friday
Apesar do foco da semana ser voltado para o noticiário chinês e europeu, os EUA não devem ficar completamente fora do radar. A agenda norte-americana traz números importantes, especialmente na terça-feira (23) e quarta-feira (24), como revisão do PIB do terceiro trimestre, venda de imóveis novos, pedidos de bens duráveis, gastos e renda do consumidor e a ata do Fomc (Federal Open Market Committee).

Vale lembrar que a semana é mais curta nos EUA, com o feriado de ação de graças na quinta-feira (25). Isso, contudo, não traz tranquilidade, já que na sexta-feira (26) acontece a tão esperada Black Friday, quando começam as liquidações nas lojas de varejo por lá.

“Apesar da agenda vazia, é um dia de muita importância”, explica Campos Neto. Isso porque o dia consiste em um termômetro importante do consumo no país, especialmente num momento onde há toda essa preocupação com a atividade econômica interna. “As informações que surgirem do comportamento de consumo e vendas do varejo vão certamente influenciar os mercados e podem dar um direcionamento mais claro do que esperar não só para sexta, mas para o restante do ano”, destaca.

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Resistências
A proximidade de sua máxima histórica também pode pesar sobre o Ibovespa na próxima semana. Segundo Góes, o mercado, que vinha em uma tendência de alta bem resolvida, sofreu um pesado baque recentemente, entre expectativas de aperto monetário na China e dúvidas sobre a saúde fiscal irlandesa. Essa queda penetrou pontos importantes do gráfico, deixando o cenário um pouco indeciso.

“Seguramos os 68.800 pontos, que é um suporte importante, onde passa a banda inferior do canal de alta, mas o patamar dos 72 mil agora é uma resistência”, aponta o analista. Com isso, em sua visão, a volatilidade tenda a aumentar bastante. “Acredito que o mercado vai ter uma dificuldade para passar essa faixa entre 71 e 72 mil pontos”, frisa Góes.

Com essa indecisão, Góes vê a possibilidade de o Ibovespa desenhar uma figura de queda, indo para os 66 mil pontos. “Hoje, eu diria que a maior probabilidade é que a volatilidade siga alta e que o mercado tenha chance de fazer uma correção maior, até 66 mil – o que não tiraria o Ibovespa de sua tendência de alta, e pode até ser um bom ponto de compra”, explica o analista da Link.

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Brasil?
Os analistas não veem grandes efeitos do noticiário interno para a bolsa. Para Campos Neto, o efeito maior do noticiário doméstico será sobre as taxas de juros futuros.

“Do ponto de vista da bolsa, o foco maior é o ambiente externo. Do ponto de vista doméstico, o efeito maior de notícias, especialmente da formação do novo governo, tem se mostrado mais na taxa de juros futuros, com todas essas incertezas sobre políticas fiscais e a continuidade do banco central”, aponta.

Sem sinal
Entre tantas referências externas – em sua maioria, incertas – a palavra para definir a tendência do Ibovespa na semana é “instabilidade”. Campos Neto, contudo, ressalta que não espera uma volatilidade muito grande. “Não vejo movimentos bruscos, mas diante da falta de um sinal muito claro no momento, acredito que altos e baixos ainda devem continuar nos próximos dias”, afirma.

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Da mesma forma, Góes classifica o momento como indeciso. “Dá para ver a coisa se arrumando e ter sido só um susto, e também dá para ver as coisas piorarem”, diz ele, resumindo o momento complicado para o índice.

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