Por que o “sai Cunha, entra Renan” pode não ser suficiente para salvar a Dilma?

Comando do impeachment passou de Eduardo Cunha para Renan Calheiros, adversário de Michel Temer dentro do PMDB; contudo, senadores petistas veem grandes chances da presidente ser afastada

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Nesta terça-feira (19), são iniciados os trabalhos no Senado com relação ao pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, após ser aceito pela Câmara dos Deputados. O pedido é lido no Plenário e os líderes dos partidos do Senado irão escolher os 21 membros da comissão especial, que examinará o tema. 

Com essa nova fase, o mercado torce para que não se perca o ritmo impresso na Câmara para o Senado, o que poderia esfriar a tese do impedimento de Dilma. Além disso, os olhos se voltam para o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), que tem uma relação amistosa com a presidente, ao contrário de Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados que não escondeu o desejo de acelerar o processo. Além disso, Renan é adversário histórico do vice-presidente Michel Temer dentro do PMDB, que é o principal beneficiário do impedimento de Dilma.

Na segunda-feira, Renan deu sinais de que não pretende acelerar nem retardar o processo de impeachment e emitiu outros recados. Ele ironizou as justificativas dos deputados que votaram no domingo ao dizer que não haverá na Casa voto a favor ou contra o impedimento em função do que a “família quer ou não” e  também declarou que o Senado vai “observar todos os prazos” e garantirá o direito de defesa da presidente. 

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“A Constituição diz que cabe ao Senado processar e julgar. No Senado, com certeza não vai ter voto em função do que a família quer ou não. O julgamento será de mérito, se há ou não crime de responsabilidade. Vamos em todos os momentos do processo nos guiar pelo cumprimento do papel do Senado Federal”, afirmou.

Porém, conforme destaca a Bloomberg, analistas do mercado contam com a vitória expressiva do “sim” na Câmara como um acelerador do processo no Senado. “Talvez o Senado não agilize o andamento como ocorreu na Câmara, mas o processo vai caminhar”, diz Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria Integrada. “Não há espaço para segurar o processo depois do que aconteceu na Câmara.” 

 Enquanto isso, o cenário é de preocupação para o governo. A avaliação feita por senadores do PT e de outros partidos da base aliada é de que a chance de afastamento da presidente Dilma é de 90%, segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo.  

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Essa visão é chancelada por vários senadores, segundo o Estadão, dentre eles Lindbergh Farias (PT-RJ) e Telmário Motta (PDT-RR). Durante a discussão, em tom de brincadeira, um deles chegou a comentar que a chance alcançaria 100%, diz o jornal.  Contudo, publicamente, os aliados afirmam que a oposição não teve a esperada vitória acachapante na Câmara. No Senado, a discussão recomeçará. 

No Senado são necessários 41 votos dos 81 senadores – maioria simples – para que processo seja admitido e aberto, quando Dilma seria afastada; os últimos levantamentos de jornais apontam para um número superior a isso. Segundo o Estadão e O Globo, 46 estão a favor do impeachment e, segundo a Folha, 48. Os três jornais apontam 20 senadores contra o impedimento de Dilma. Dois terços, ou 54 senadores, são necessários para condenar a presidente e afastá-la de vez do cargo em um prazo de até 180 dias após o afastamento. Durante esse período, a presidência passa às mãos do vice Michel Temer.

Caso Dilma seja afastada, a situação fica ainda mais complicada. O próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu, em reunião na última segunda-feira com o presidente do PT Rui Falcão e movimentos de esquerda, que a presidente dificilmente retornará ao Planalto caso o Senado aprove a abertura do processo de impeachment na Casa.

Prazos podem retardar, porém…
Renan vem se mantendo irredutível na intenção de não acelerar os prazos e apontou que seguirá estritamente o rito, mesmo em meio à intensa pressão de aliados de Michel Temer, com uma eventual votação para o afastamento de Dilma só acontecendo na terceira semana de maio, por volta do dia 17, de acordo com informações do Valor. Ontem, o presidente do PMDB, Romero Jucá, disse que Dilma poderia ser afastada em até 15 dias. Uma das preocupações do vice seria evitar que, caso Dilma mantenha o poder por mais tempo, sejam adotadas medidas que prejudiquem o novo governo. 

Porém, há sinais de que o ritmo pode ser um pouco mais rápido. “O Renan está numa sinuca de bico”, diz Paulo Petrassi, sócio-gestor da Leme Investimentos, à Bloomberg. Pela magnitude dos votos obtido pelo impeachment na Câmara, Renan deve no mínimo ser neutro, podendo até adotar um ritmo mais rápido, segundo o profissional. “Ele não vai ficar na frente, criando obstáculos diante da votação. Sabemos que o PMDB pula rápido para onde está o poder.” Segundo o Valor, em um cenário mais razoável, com os senadores trabalhando inclusive nas segundas e sextas-feiras, ainda é mais provável que o plenário vote uma saída provisória de Dilma, por até seis meses, por volta do dia 11. 

Desta forma, os aliados de Dilma se unem em busca de estratégias contra o impeachment no Senado. Ontem, após se reunir para avaliar a aprovação da admissibilidade do processo de Dilma Rousseff, a bancada do PT na Câmara dos Deputados disse que vai buscar na mobilização popular forças para tentar barrar o processo no Senado. 

Em nota, a bancada petista voltou a acusar Cunha e Temer de planejarem “um golpe”. “No Senado Federal, serão duas votações. É com ampla mobilização popular que impediremos o golpe patrocinado por Michel Temer e Eduardo Cunha, que querem chegar ao governo sem o voto do povo”, diz trecho do documento.

Assim, os aliados da presidente se preparam para próximos trinta dias bastante complicados. Segundo um dos aliados ouvidos pelo Estadão, a situação é “muito difícil”. Porém, ainda não é “irreversível”.

(Com Agência Brasil e Bloomberg)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.