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SÃO PAULO – Em artigo, o editor-chefe da revista americana Americas Quaterly e vice-presidente da Americas Society/Council of the Americas, Brian Winter, destacou por que acredita que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concorrerá às eleições de 2018.
Para tanto, Winter recorre a uma conversa que teve com o também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele entrevistou o tucano em 2004 para ajudar o tucano a escrever seu livro de memórias em inglês e perguntou: “o que o Brasil tem de diferente do resto da América Latina?”.
“A resposta foi mais do que apenas linguagem e tamanho, explicou Cardoso. O Brasil é um país de tamanho continental, nascido de uma tremenda injustiça: a escravidão. Como resultado, sofreu desde a sua fundação a partir de desigualdades extremas, geografia difícil e outras forças que trabalharam para fragmentá-lo. Mas, ao contrário da América Latina continental de língua espanhola, que se dividiu em 16 países, o Brasil manteve sua unidade territorial. Sua história foi de um progresso quase constante, embora de uma base abismalmente baixa: de 1900 a 1980, a economia brasileira cresceu mais rapidamente do que qualquer outra grande nação, exceto o Japão. Um país na maior parte analfabeto e desnutrido tornou-se um país de renda média”, destaca o artigo.
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Esse sucesso, por mais relativo que seja, poderia ser atribuído a vários fatores, incluindo riqueza mineral, clima favorável e crença de certos imigrantes no futuro. No entanto, havia outro elemento, singularmente brasileiro, afirmou o ex-presidente tucano a Winter: mesmo com todas as mudanças de regime, “nunca houve uma grande ruptura”. “O mesmo grupo de pessoas, em termos gerais, manteve-se na dianteira do país, muitas vezes dominando o dinheiro e passando sua influência de uma geração para a outra”.
No artigo, Winter questiona como seria esse “peculiar atributo nacional”. “No livro, Cardoso descreveu isso como uma ‘propensão para o compromisso’, que ele chamou de ‘o traço mais necessário entre os políticos brasileiros’. Também poderia ser chamado de medo do confronto direto, um lema político de ‘live and let live’ – ou, alternativamente, o elitismo que promove a impunidade e muitos outros males. Também é verdade. Mas, pelo menos, essa tradição ajudou a nação a evitar os episódios traumáticos que muitas vezes separaram seus vizinhos (…). A política nos níveis mais altos no Brasil tem evitado soluções duras, acomodando ou cooptando o maior número possível de interesses diferentes e fazendo o que é necessário para manter um país inerentemente frágil”, afirma o artigo.
E é de olho nessas questões que Brian Winter reflete sobre a situação de Lula, que pode ter mais um passo para ser impedido de concorrer às eleições de outubro já na próxima semana, quando será julgado o seu caso na segunda instância. O jornalista recorre inclusive a uma fala de FHC para tratar sobre o assunto. Em dezembro, o tucano suscitou muitas críticas ao afirmar que “preferia combater Lula na urna a vê-lo na cadeia”.
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“‘Em democracias reais, o que importa é a regra da lei’, retrucou um blog de direita. Alguns até acusaram Cardoso de tentar influenciar a decisão dos juízes. Mas suspeito que suas declarações fossem simplesmente um aceno para a maneira antiga de fazer as coisas (…) Prender um ícone popular com uma liderança de dois dígitos nas pesquisas elevaria a agitação social e culminaria até em violência. Tiraria o direito de voto de milhões de pessoas. Seria algo desestimulante para quem quer que assumisse a presidência. Não é a tradição brasileira”, afirma o colunista.
Mas, claro, a tradição também é um ponto. Lula está envolvido na mesma investigação de corrupção que resultou na prisão de numerosas figuras anteriormente intocáveis na política e nos negócios, aponta Winter. “Como nada antes na história brasileira, a Operação Lava Jato despertou a esperança de que a impunidade da velha ordem morra e uma nova ordem, mais baseada em regras, prevalecerá. Os brasileiros de hoje são mais educados, melhor informados e mais polarizados – em suma, menos tolerantes à ‘propensão para o compromisso'”, afirma o artigo da Americas Quaterly. Vale destacar que, em 2016, a revista americana exaltou o juiz da Lava Jato Sérgio Moro como “caçador de corruptos”.
Mas qual lado prevalecerá? Vários juristas enfatizam que, mesmo que a decisão de 24 de janeiro seja contrária a Lula, ele terá inúmeras oportunidades para recorrer, de forma a mantê-lo livre e viável como candidato, com outros até prevendo que a incerteza poderia durar até o dia da eleição. “O código legal é extraordinariamente complexo do Brasil – outra consequência de sua tradição de continuidade – o que significa que, na prática, pode haver pelo menos algum critério individual na interpretação da lei. Brasília continua a ser um lugar onde os juízes socializam regularmente com senadores e às vezes com o presidente, e as pessoas mais poderosas falam em privado sobre estabilidade e reconciliação. Muitos deles insistem que, nessa conta, Lula estaria em uma ‘classe especial'”.
“Para mim, isso vai em linha com a visão de que, Lula poderá concorrer em outubro. De qualquer forma, pode se revelar assim a posição final do antigo e gentil Brasil”, conclui Brian Winter.
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