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SÃO PAULO – A pouco mais de um mês do primeiro turno, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) negou o pedido de registro de candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a disputa pelo Palácio do Planalto e deu um prazo de dez dias, a contar do último sábado (1), para que o PT apresentasse um substituto, caso queira ter um representante na corrida presidencial. O partido também foi impedido de apresentar Lula como candidato, mas conseguiu manter o acesso ao horário de propaganda eleitoral no rádio e na televisão.
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Nos últimos dias, voltaram a ganhar força especulações sobre o momento em que seria realizada oficialmente a substituição de Lula por seu vice, Fernando Haddad, tornando o “plano B”, enfim, “plano A”. Com o indeferimento do pedido de registro, muitos imaginavam que o processo seria catalisado, mas, ao que parece, Lula deverá usar o tempo que ainda dispõe para desenhar a estratégia que lhe parece mais adequada. A decisão frustrou aliados e uma ala do petismo.
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O episódio evidenciou novamente a divisão interna que se formou no partido, entre aqueles que defendem a resistência em torno do nome de Lula e os que pedem uma postura mais pragmática, temendo que a falta de tempo afete o desempenho de Haddad na disputa. Nos bastidores, aliados do ex-prefeito paulistano mostram-se contrariados. Para eles, o momento ideal para a substituição seria logo após a negativa do TSE. Mas, por que isso não aconteceu?
Para o analista político Carlos Eduardo Borenstein, da consultoria Arko Advice, uma das razões para a manutenção da candidatura de Lula e a apresentação de recursos junto ao STF (Supremo Tribunal Federal) e à ONU (Organização das Nações Unidas) seria a atual baixa transferência de votos ao “plano B”, Fernando Haddad, que hoje ocupa a vice na chapa.
“A transferência de votos ainda é muito pequena. A própria alteração das regras eleitorais também atrapalha, com o candidato tendo que aparecer em 75% da propaganda e com a prisão de Lula, que o impede de percorrer o país para fazer campanha. Na avaliação de Lula, pode ser que a substituição neste momento atrapalhe na transferência de votos”, observa Borenstein.
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Segundo pesquisa Datafolha, realizada nos dias 20 e 21 de agosto, Lula tem 39% das intenções de voto no cenário em que sua candidatura é considerada. Na sua ausência, Haddad recebe apoio de 4% dos eleitores. O desempenho do ex-prefeito de São Paulo é menor em 18 pontos percentuais que o resultado apresentado pelo deputado Jair Bolsonaro (PSL), que lidera a corrida nesta simulação.
De acordo com levantamento XP/Ipespe, feito entre 27 e 29 de agosto, Haddad tem 13% das intenções de voto quando seu nome é associado à informação de que seria o candidato apoiado por Lula. O desempenho indica uma transferência de apenas 32% dos votos do ex-presidente.
“Lula pode entender que, se sair de cena agora e lançar Haddad, talvez a transferência continue como está, muito frágil. Ele quer alimentar essa possibilidade para manter o eleitorado fiel e, no momento em que julgar mais propício, fazer a substituição”, complementa Borenstein.
Para ele, também pode haver uma preocupação com o perfil de Haddad, muito distinto ao do ex-presidente, o que pode dificultar na associação entre as duas imagens pelo eleitor lulista. As dificuldades em ter Lula, preso há quase cinco meses após condenação em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, como parte da campanha podem elevar a sombra de adversários no mesmo espectro político.
“Se a transferência seguir como está, tende a ocorrer uma disputa maior por parte das outras candidaturas por esse voto de Lula no Nordeste, principalmente Ciro Gomes. É um eleitor que ficará sem candidato”, lembra o analista. Segundo o Datafolha, o percentual de brancos, nulos e indecisos salta de 14%, quando Lula aparece como candidato, para 28% na sua ausência.
Outro obstáculo ao crescimento de Haddad nas pesquisas é seu elevado nível de desconhecimento entre os eleitores, sobretudo aqueles localizados fora da região Sudeste. A tabela abaixo mostra uma comparação com outros candidatos:
CANDIDATO | SUDESTE | SUL | NORDESTE | CENTRO-OESTE | NORTE | SP | RJ | MG | DF | PE | TOTAL |
Ciro Gomes | 17% | 18% | 17% | 19% | 20% | 16% | 12% | 22% | 11% | 24% | 18% |
Fernando Haddad | 30% | 48% | 51% | 49% | 54% | 17% | 37% | 48% | 41% | 57% | 41% |
Geraldo Alckmin | 7% | 14% | 18% | 10% | 14% | 2% | 13% | 14% | 9% | 22% | 12% |
Jair Bolsonaro | 19% | 19% | 29% | 15% | 23% | 19% | 11% | 24% | 12% | 29% | 21% |
Marina Silva | 6% | 10% | 8% | 5% | 6% | 7% | 5% | 7% | 6% | 9% | 7% |
Fonte: Datafolha (BR-04023/2018)
Para Thiago Vidal, analista político da Prospectiva Consultoria, os cenários mais prováveis hoje são os que consideram o PT respeitando o prazo de 10 dias dado para a substituição de candidato, mesmo que ainda entre com recursos na Justiça contra o indeferimento do pedido de registro de Lula.
O especialista chama atenção para a vitória nos acréscimos que o partido conquistou no julgamento da última sexta-feira, quando teve mantido seu horário para propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão, embora o ex-presidente não possa mais ser apresentado como candidato.
“Dos males, acabou sendo o menor”, observa. “Não vejo esse arrastar [da substituição de Lula] como sendo muito traumático ao PT. Seria se o partido não tivesse propaganda na televisão até a substituição. No fundo, é uma ótima forma de Haddad conseguir a transferência de votos. Ele é muito desconhecido e tem potencial considerável”, complementa.
Vidal acredita que um dos maiores riscos à candidatura petista neste momento é se o partido optar por não substituir Lula até 11 de setembro, o que poderia culminar em um impedimento de participar da corrida presidencial. Tal cenário, contudo, é tido como menos provável.
O analista político reconhece o risco de o PT perder votos para adversários na esquerda durante a substituição de candidato. Por outro lado, ele chama atenção para o fato de o partido contar com sólida estrutura, sobretudo no Nordeste, onde mantém candidaturas fortes ou aliou-se a nomes fortes na disputa por governos estaduais – caso de Rui Costa, na Bahia; Wellington Dias, no Piauí; Camilo Santana, no Ceará; Fátima Bezerra, no Rio Grande do Norte; e Flávio Dino, no Maranhão, por exemplo.
“Quando o PT definir seu candidato, acho muito pouco provável que eles [outros candidatos da esquerda] ocupem esse espaço. O fato de ser apenas uma região na qual Marina Silva e Ciro Gomes vão bem é insuficiente. Temos que considerar a estrutura e o potencial que o PT tem na região”, conclui.
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