Por que Henrique Meirelles fora da Fazenda pode ser boa notícia para Michel Temer?

Chances de ministro deixar cargo no governo aumentaram nos últimos dias, mas isso não necessariamente é ruim para eventual plano de reeleição do presidente

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A possibilidade de Henrique Meirelles deixar o Ministério da Fazenda em abril para avançar em uma possível candidatura à presidência gerou uma onda de especulações acerca do possível substituto no comando da política econômica do governo em mais um ano importante, ainda que a maior bandeira (a reforma da Previdência) por ora esteja enterrada. Contudo, para além da seara econômica, uma eventual ofensiva do ministro pode trazer reflexos relevantes à corrida ao Palácio do Planalto.

Isso porque a simultaneidade das candidaturas do presidente Michel Temer (que até o momento nega interesse em tentar a reeleição) e seu ministro é tida como improvável. Os dois disputariam um mesmo espectro eleitoral, hoje muito estreito: o governismo. Embora o emedebista hoje negue interesse em disputar a reeleição, este ainda é um cenário considerado por analistas, o que já naturalmente o colocaria em rota de colisão com o atual capitão da equipe econômica.

É crível que Meirelles, se candidato, adote um discurso em defesa de muitos dos feitos do governo, tendo em vista o protagonismo que assumiu ao comandar a pauta econômica pós-impeachment. Levando-se em consideração a baixa aprovação da atual gestão à frente do Planalto, o espaço é reduzido. Sendo assim, a fragmentação traz riscos ainda maiores e prejudicar todo o campo pró-reformas econômicas.

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Tal cenário, por si, seria uma força favorável à costura de um acordo entre alguns dos principais partidos da coalizão governista. Alguém poderá ser levado a recuar. Além disso, as maiores dificuldades de financiamento das campanhas pelas regras vigentes pode ajudar nas negociações entre as legendas. Ninguém quer desperdiçar recursos escassos com candidaturas fadadas a morrer na praia se elas não servirem sequer para ajudar em outros objetivos, como a construção de bancadas sólidas no Congresso.

Bom para Temer?

Pela legislação eleitoral, Henrique Meirelles teria de abandonar o cargo no governo até 7 de abril para concorrer à presidência da República. A julgar pelas recentes movimentações no tabuleiro, não são desprezíveis as chances de o ministro atender a este prazo de desincompatibilização, principalmente quando se avalia seu sonho antigo de comandar o país.

Mesmo que a saída do ministério se confirme, não há garantias da candidatura. Muitas costuras ainda precisarão ser feitas. Caso continue no PSD, o ministro terá de enfrentar os interesses de Gilberto Kassab em uma costura com o PSDB, em torno da candidatura de Geraldo Alckmin, tendo como contrapartida a vice-candidatura ao governo de São Paulo. Se decidir migrar para outro partido, tampouco será fácil construir necessário apoio interno para se lançar. Isso vale para o MDB, de Michel Temer, sigla para a qual o ministro poderia se transferir.

É exatamente este quadro de dificuldades que precisa ser considerado no momento. Embora para Temer, caso queira tentar a reeleição, a sombra gerada por uma possível candidatura de Meirelles seja ruim, neste momento sua saída do ministério, paradoxalmente, pode ser positiva. É o que explica o analista político Ricardo Ribeiro, da MCM Consultores.

“A Michel Temer, o dono da bola no que diz respeito à decisão do MDB sobre a candidatura presidencial do partido, não interessa aparecer tão cedo como quase candidato; e essa seria a conclusão natural decorrente da permanência de Meirelles na Fazenda”, afirmou especialista.

“Além disso, é conveniente a Temer e seu grupo político manter Meirelles como alternativa, no caso de a melhora da economia e o investimento na agenda da segurança pública não reduzirem, mesmo que moderadamente, a impopularidade do presidente e do governo. No mínimo, manter de pé a possibilidade de Meirelles ser candidato aumentará o cacife para eventuais negociações com Alckmin e o PSDB”, concluiu.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.