Por que governos populistas não são bons para estatais

Isso pode ser observado atualmente na gestão da presidente Dilma Rousseff, que está ficando marcada pela quantidade exacerbada de intervenções, que já prejudicaram muito as estatais

Arthur Ordones

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SÃO PAULO – Governos populistas muitas vezes são alvos de críticas por conta do seu excesso de interferências em diversos setores da economia. Isso pode ser observado atualmente na gestão da presidente Dilma Rousseff,  marcada por diversas intervenções, seja no setor elétrico, nos juros dos bancos públicos, no câmbio, nas decisões de política monetária do Banco Central, no preço da gasolina, e muitos outros setores.

As empresas estatais talvez sejam as que mais tenham sentido os efeitos dessas medidas. Um exemplo é o setor elétrico, que viu suas ações caírem forte no ano passado, após a aprovação da MP 579, que renovou as concessões dos serviços de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, e reduziu as tarifas da conta de luz para os consumidores finais. A medida sancionada pela presidente levou os papéis da Eletrobras (ELET6), por exemplo, ao seu menor patamar histórico, já que o governo não abriu mão de tributos como PIS e Cofins. A perda contábil da empresa chegou a R$ 10 bilhões, de acordo com o presidente da companhia, José da Costa Carvalho Neto.

Outra empresa muito prejudicada por intervenções governamentais foi a Petrobras, com o congelamento de preços da gasolina. A medida obrigou a companhia a pagar R$ 1,35 pelo litro de combustível importado, que tinha que ser vendido para as distribuidoras por R$ 1,05, causando assim um enorme prejuízo à estatal. A intervenção visou controlar a inflação, descontrolada por conta de mais uma interferência do governo, dessa vez na política monetária, que quis o juros no menor patamar histórico por interesses políticos. 

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Desempenho das cinco estatais com maior participação no Ibovespa
Desde o início do governo Dilma, em janeiro de 2011, quatro das cinco empresas estatais com maior participação no Ibovespa tiveram queda acumulada de suas ações, sendo que três delas foram expressivas. A Petrobras (PETR4), entre janeiro de 2011 e o dia 21 de maio de 2013, registrou queda de 19,26%. A Eletrobras caiu 51,91%, enquanto a Cesp perdeu 9,24% no período. O Banco do Brasil sofreu desvalorização de 3,25%. A única que se salvou foi a Cemig, que subiu 65,42% nesses dois anos e meio.

Após ser prejudicada por intervenção, Petrobras se recupera
De acordo com Flavio Conde, analista da Gradual Investimentos, a intervenção do governo, com o congelamento de preços, foi o motivo principal da queda de lucratividade da Petrobras, que prejudicou muito a companhia. No entanto, segundo ele, a estatal fez o que deveria ter feito e começou a adotar alguns programas de redução de despesas e custos, e isso está indo muito bem.

“A empresa já está mais lucrativa e eficiente. Quando ela precisava rever urgentemente seu plano de investimentos, que era grande demais, veio a Graça Foster, e a entrada dela foi e é muito positiva, pois ela entrou pra colocar a Petrobras nos trilhos e está fazendo isso bem”, afirmou Conde.

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Para o analista, as ações já deveriam estar num patamar mais alto, mas não estão porque o petróleo parou de subir lá fora – e até recuou – sem falar que existe um volume muito alto de investidor estrangeiro vendido no Ibovespa. “Para eles conseguirem manter essas posições lucrativas, o índice não pode subir mais fortemente, então eles tentam segurar o benchmark com posições vendidas de Petrobras e Vale”, explicou.

“Nossa expectativa para as ações da Petrobras PN (PETR4), em 12 meses, é de R$ 25,00, hoje está em R$ 19,92. Já para Petrobras ON (PETR3), esperamos que chegue a R$ 23,75 em 12 meses. Os investidores devem continuar comprados nesse papel”, completou.

MP 579: o pior já passou
A MP 579 fez o preço das tarifas, para quem adotasse as novas regras, cair fortemente. Segundo Conde, as empresas que aderiram, tiveram um grande recuo no resultado, como vimos no primeiro trimestre com Eletrobras e outras empresas. “Mesmo as que não aceitaram entrar e fizeram suas renovações, tiveram pelo investidor um reconhecimento de que o valor da empresa, dentro desse cenário, deveria ser bem mais baixo. A expectativa do setor em 2013 é menos negativa do que era anteriormente”, afirmou o analista.

De agosto até novembro houve um pessimismo muito grande e as ações foram lá para baixo, mas agora já começaram a precificar um cenário “menos ruim”, de acordo com Conde. “Cemig (CMIG3), Cesp (CESP6), Copel (CPLE6), CPFL (CPFE3) e Transmissão Paulista (TRPL3) estão subindo, enquanto o Ibovespa está caindo”, finalizou.

Intervenções no setor de bancos prejudicaram mais os privados que os estatais
A redução drástica da taxa Selic afetou a carteira de títulos que os bancos carregam, ou seja, essas carteiras estão rentabilizando menos. O analista da Gradual explicou que o governo usou o Banco do Brasil (BBAS3) e a Caixa para oferecer produtos e serviços com taxas menores, como a taxa do cheque especial, crédito imobiliário e etc.

“Tudo isso fez com que a rentabilidade do sistema e os ganhos nas operações diminuíssem. Esse foi o único caso de intervenção governamental que prejudicou empresas privadas ao invés de estatais. Isso foi muito ruim para os bancos privados, pois os governos usaram os bancos públicos pra forçar os privados, que tiveram que acompanhar as taxas das estatais para não perder clientes. Os bancos estatais não foram prejudicados porque compensaram com o volume”, explicou.

Confira as tabelas:

As 5 empresas privadas com maior participação no Ibovespa:

Empresa Ticker Participação no Ibovespa Variação entre JAN11 e MAI13
Vale VALE5 8,021% -28,07%
OGX OGXP3 4,924% -91,15%
Itaú Unibanco ITUB4 4,631% -3,42%
Bradesco BBDC4 3,623% 23,76%
BM&FBovespa BVMF3 2,809% 20,51%

As 5 empresas estatais com maior participação no Ibovespa:

Empresa Ticker Participação no Ibovespa Variação entre JAN11 e MAI13
Petrobras PETR4 8,036% -19,26%
Banco do Brasil BBAS3 3,013% -3,25%
Cemig CMIG4 1,655% 65,42%
Eletrobras ELET6 0,709% -51,91%
Cesp CESP6 0,569% -9,24%

Não são todos que veem as intervenções com maus olhos
Apesar das consequencias negativas para algumas das empresas estatais, as intervenções do governo são medidas necessarias, de acordo com o sócio da gestora Eagle, Paulo Possas, em carta aos cotistas de dezembro de 2012.

Para ele, existe um certo exagero nas críticas ao atual governo a respeito desse assunto. “Em todos os temas nós precisávamos de uma intervenção séria do Estado. Câmbio a R$ 1,60, juros de cartão a 10% ao mês, energia (hidroelétrica) sendo a terceira mais cara do planeta, ciranda financeira e a péssima qualidade da telefonia móvel eram intoleráveis. Em todos os casos a ação do governo ia incomodar e gerar gritarias”, afirmou Possas. No entanto, o sócio também reconhece que houveram problemas  de execução em algumas das intervenções, levando alguns setores ao prejuízo.

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