Por que ele decidiu largar uma promissora carreira no mercado financeiro e foi para a política

"Se nós temos a pretensão de fazer alguma coisa pelo Brasil, a hora é agora. Foi pensando nesse momento tão crítico que eu decidi oferecer minha contribuição", afirma o pré-candidato a deputado pelo Novo, Daniel José Oliveira

Lara Rizério

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SÃO PAULO – De origem humilde, ele superou muitos obstáculos. Graças a uma bolsa de estudos da Fundação Estudar, se formou em economia no Insper. Depois, concluiu mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de Yale, uma das principais universidades do mundo.

E, ao invés de dar continuidade à carreira profissional bem sucedida no mercado financeiro, ele abriu mão de tudo para se dedicar à política. O Podcast da Rio Bravo (confira clicando aqui) conversa com Daniel José Oliveira, de apenas 29 anos, pré-candidato do Partido Novo a deputado federal. 

Na entrevista, ele recupera sua própria trajetória para destacar a importância da educação no desenvolvimento dos jovens no Brasil e aponta o motivo para ter entrado na carreira política agora: “se nós temos a pretensão de fazer alguma coisa pelo Brasil, a hora é agora. Foi pensando nesse momento tão crítico que eu decidi oferecer minha contribuição”. Confira a entrevista abaixo:

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 Rio Bravo: É bastante comum ouvir falar em educação em termos abstratos, em forma de grandes ideias. De que maneira a educação pode de fato atacar os problemas mais sensíveis do país? Queria também que você aproveitasse e contasse um pouco da sua trajetória.

 Daniel José Oliveira: Muita gente discute educação de uma maneira muito etérea, de uma maneira muito teórica, falando que a educação é a chave de todos os problemas para a construção de um país melhor. Sem dúvida, eu acredito muito na educação e não é à toa que tenho trabalhado com isso nos últimos anos, trabalhando com educação pública e tentando ajudar os governos a melhorar a qualidade do uso do dinheiro público e também o aprendizado dos alunos.

Mas acho que a gente tem que descer alguns níveis de profundidade para entender realmente como é que se pode construir essa educação que tanto se precisa. Eu concordo que educação é superimportante, mas qual educação? Do que a gente está falando? A gente está falando de educação infantil, educação de jovens e adultos, educação básica, ensino técnico, ensino universitário? Que tipo de pessoas a gente quer formar no Brasil? Se a gente quer crescer daqui a tantas décadas 4% ou 5% ao ano, de que tipo de profissional a gente vai precisar? Que tipo de capital humano vai ser necessário para a gente construir esse país que a gente quer?

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 Penso muito em duas fases da educação que são muito críticas. A primeira delas é a educação infantil, que é onde a criança desenvolve a sua capacidade cognitiva. A primeira infância, os primeiros mil dias, os primeiros anos de vida de cada pessoa são muito importantes e críticos. Em segundo lugar, penso muito na idade dos 14 aos 16 anos, que é quando várias transformações acontecem na vida do menino e da menina e que, muitas vezes, ele não é acompanhado da forma adequada e não é educado da forma adequada.

É a fase onde boa parte do abandono escolar acontece, onde os jovens começam a pensar no dilema entre continuar estudando ou trabalhando e é uma fase em que a gente tem que prestar uma atenção especial, que é quando se resgata esses jovens, quando se pode tentar trazê-los para uma educação formal e mantê-los na escola para garantir que eles se formem um bom profissional, com condições para conseguir um emprego, continuar estudando se ele assim desejar ou tiver possibilidade e, enfim, seguir a sua vida.

 Falando um pouquinho da minha história, eu sou de Bragança Paulista, no interior de São Paulo, e fiz várias coisas nas três últimas décadas, desde que eu terminei o Ensino Médio, e que são improváveis para boa parte dos jovens que vieram nas condições parecidas com as minhas.

Eu estudei no Insper, em São Paulo, com bolsa de estudos da Fundação Estudar, me formei em Economia lá, fiz intercâmbio na Suíça, trabalhei no mercado financeiro tanto no sell side, no JP Morgan, quanto no buy side, na M Square. Fiz um ano de serviço de ajuda humanitária com refugiados de guerra do Iraque e da Síria. Tudo isso na Jordânia, morei lá por um ano, o que me levou a fazer o mestrado de Relações Internacionais nos Estados Unidos, na Universidade de Yale, mais uma vez com bolsa de estudos. E nos últimos tempos, após voltar de Yale, acabei decidindo por voltar ao Brasil e fazer parte do time Fundação da Falconi Educação, que é uma subsidiária da Falconi voltada só para projetos em educação pública.

 Nesses últimos dois anos, eu tenho me dedicado a isso, tenho trabalhado com educação. Mas eu digo que tudo isso que eu consegui fazer são, sem dúvida, coisas muito bacanas, mas bastante improváveis, porque venho de uma origem simples. Minha mãe começou a trabalhar aos 7 anos de idade, morou boa parte da vida dela numa casa de barro, de chão de terra batida, e até pouco tempo atrás trabalhou por décadas como diarista. Então, é uma família bastante simples. Meu pai, por outro lado, cresceu achando que ia ser padre, desistiu da ideia e resolveu popular o mundo comigo e meus dez irmãos – nós somos 11 irmãos – e sustentou a família sendo contínuo numa agência bancária, fazendo cafezinho e limpando a agência em Bragança Paulista, de onde eu vim. Para alguém que vem de uma realidade simples é muito improvável achar que, primeiro, vai estudar numa faculdade. Hoje em dia, são muito poucos os jovens que vêm de uma realidade simples como a minha e conseguem entrar na faculdade. Isso é muito raro, é um caminho muito difícil e uma porta muito estreita. Só 14% dos jovens têm acesso ao ensino superior. Só 7% deles terminam o ensino superior. Mas eu tive sorte nesse meio do caminho.

 Claro, teve muito esforço, muita dedicação, muitas noites em claro estudando, muitas vezes tendo que decidir entre comprar um almoço ou pagar o ônibus para voltar para casa e muitas vezes tendo que passar por situações difíceis, mas eu também tive uma sorte muito grande, porque eu sempre tive bolsa de estudos. Se tem uma coisa que me diferencia dos outros jovens das classes C, D e E, que vêm de uma situação vulnerável,  é que eu tive uma porta ali no começo de ter bolsa de estudos em uma escola particular que, apesar de não ser uma escola competitiva e que aprova as pessoas para os grandes vestibulares – não era a realidade daquela escola onde eu estudei –, me deu uma base mínima para que, se eu quisesse correr atrás e ralar, eu conseguiria abrir as portas que eu gostaria de tentar abrir.

Coisa que não acontece com quem estuda na escola pública. Então, se a gente quiser discutir formação dos jovens para o futuro e para o mercado de trabalho,  isso é tão distante para uma escola que não consegue ensinar o básico, que não consegue sequer pensar ou descobrir qual é o plano de vida ou estimular os jovens a criarem um plano de vida para eles. Qual é a perspectiva dessas pessoas? Quando eu falo com empregadores, donos de empresas e sócios de empresas grandes, e a gente entra nesse tópico da realidade do jovem, o que eu mais ouço é reclamação e até os empresários lamentando que os jovens, quando vêm até a empresas deles buscar o primeiro emprego, não conseguem calcular o troco, entender o pedido do cliente por ter dificuldade de ler, escrever um e-mail formal. Esse tipo de falta de referência que o jovem tem é uma consequência direta dessa escola que não ensina, não o estimula a sonhar e crescer na vida e que não dá o primeiro pontapé, uma rede de suporte, para ele tocar o seu próprio caminho.

Rio Bravo: O debate sobre desigualdade é um dos pontos centrais da conversação sobre economia e políticas públicas hoje. Novamente tomando como referência a sua trajetória, você acredita que é possível desenhar uma estratégia para enfrentar esse problema em São Paulo e no Brasil, em um sentido mais amplo?

Daniel José Oliveira: Você acha que, se a gente conseguisse no Brasil formar jovens minimamente capacitados para trabalhar, a gente não teria mais casos de empreendedores de sucesso e mais casos de superação, igual a gente vê, por exemplo, nos Estados Unidos e outros países? Olha, por exemplo, a fundadora da Sodiê Doces, que é um caso incrível, porque ela começou a trabalhar e a fazer bolo, trabalhou por décadas e veio de uma terceira geração de família de boia-fria. É um milagre. Ela, hoje, tem uma empresa que fatura centenas de milhões de reais por ano, sem ter tido uma educação formal, foi aprendendo ao longo do caminho. Agora, imagine para aquelas pessoas que talvez não tenham tanta iniciativa e tanta garra quanto ela, mas que também chegariam muito longe se tivessem uma base boa.

 Do que eu acho que a gente precisa são oportunidades um pouco mais iguais, um pouco melhores para aqueles que vêm de baixo. Se eu estudei em uma escola particular que não era competitiva para vestibular e consegui fazer um monte de coisa, sem ser um aluno genial… Porque eu me conheço e sei até onde vou e até onde não consigo ir, sei naquilo que eu sou bom e naquilo que eu não sou bom. Matéria em escola e estudar para provas não eram coisas que eu era bom. Eu nunca fui um aluno CDF. Aliás, o contrário, eu sempre fui um aluno bem mediano ou abaixo da média, sempre tirei nota vermelha, mas a partir do momento em que eu comecei a estudar e que eu comecei a ver que aquela educação poderia me levar mais longe, poderia abrir portas, aí foi o momento em que eu comecei a me dedicar para aquilo, porque eu vi uma utilidade na educação, um sentido naquilo que eu estava fazendo.

Não entendia por que tinha que estudar todas aquelas coisas. Mas entendia que, se estudasse todas aquelas coisas, outras coisas boas aconteceriam comigo. Essa é a ponte que boa parte das pessoas não conseguem ver e o que as deixa para trás. O que acredito que dá para a gente fazer é pensar como preparar melhor as pessoas para a vida.

Mas também muitas vezes tem esse debate de que a educação tem que preparar os jovens para a vida, mas esquece que para viver tem que trabalhar. Meu padrão de exigência antes era muito alto e está começando a cair conforme eu conheço a realidade.

Se a gente consegue formar esses caras para o mercado de trabalho, ensinar esses meninos e essas meninas a calcular troco, a entender pedido de cliente, a escrever um e-mail formal, a falar sem gírias, a saber lidar sob pressão, isso por si só já tem um impacto enorme na vida desses jovens de todas as classes, sobretudo aquelas mais vulneráveis, porque já dá as ferramentas mínimas que eles precisam para dar um passo adiante.

Aí depois eles vão querer aprender algo novo, vão descobrir algo de que gostam e ao longo do tempo vão conseguindo construir uma carreira melhor. Isso tem impacto direto também na economia. A gente tem um problema muito grande e seria talvez até uma presunção muito grande da minha parte achar que eu tenho a resposta para todas essas perguntas. Eu tenho ideias, pontos que eu acho que seriam críticos para melhorar a educação, como a qualidade da formação do professor, uma formação continuada do professor, como um currículo que seja simples e prático, de modo que o professor que está na periferia de São Paulo tenha as mesmas condições de preparar a sua aula que um professor que está em Atalaia do Norte, no Amazonas. Algo prático, simples, bem desenhado. E, por último, provas. A gente precisa acompanhar o aprendizado dos alunos, a gente precisa saber com mais frequência no que ele tem tido dificuldade e no que ele tem mandado bem, tem que fazer mais provas, tem que entender melhor o que o aluno tem aprendido ou não, até para saber como ensinar os professores. Focar em ajudar os professores a melhorarem naquilo em que os alunos têm dificuldade.

 Rio Bravo: Tendo visitado várias cidades brasileiras com IDH baixo, você acredita que as medidas para melhoria das condições de vida e, principalmente, na condição de formação desse jovem devem partir da iniciativa privada ou o Estado ainda tem papel decisivo a cumprir nesse sentido?

Daniel José Oliveira: Acho que é um pouco dos dois. Sobre as cidades com IDH muito baixo, eu visitei 20 delas durante o mestrado que eu fiz em Yale. Eu percorri o interior do Piauí, Maranhão, Pará e Amazonas para entender um pouco da realidade dessas cidades que realmente são as mais difíceis de a gente desenvolver. Se a gente chegar lá e conseguir ajudar esses lugares a se desenvolverem, a gente cumpriu boa parte do desafio, chegou nos lugares mais distantes.

O Estado é importante sim, sem dúvida, para fazer o trabalho básico. Eu sou a favor de um Estado mínimo. Mas quando eu digo que sou a favor do Estado mínimo não é que eu sou contra a existência do Estado. Não, eu sou a favor de um Estado que dedique a sua atenção para as coisas que importam, sou a favor de um Estado que deixe de alocar esforços e recursos em um monte de empresas estatais com as mais diversas finalidades e mais bizarras atribuições e que deixe de prestar atenção e alocar esforços e recursos nas centenas de agências, secretarias, ministérios com um monte de siglas, métodos duvidosos e resultados mais duvidosos ainda e passe a prestar atenção na sala de aula, no hospital ou no centro de atendimento básico de saúde local. O Estado tem um papel superimportante de ser esse suporte para as pessoas mais vulneráveis e que possibilite um impulsionamento, que dê um pontapé inicial para essas pessoas conseguirem encontrar o seu espaço e conseguirem construir as suas próprias trajetórias. Só que elas só vão construir as suas próprias trajetórias com a existência do setor privado, de empresas.

 Rio Bravo: Em um momento em que há muita desconfiança em torno da classe política, você acredita que participar desse processo é o caminho mais adequado? Quais são os custos pessoais, o trade-off que você está fazendo para fazer esse investimento?

Daniel José Oliveira: É muito importante sim se envolver com a política, porque o Brasil está na UTI. Se a gente tem alguma pretensão – seja a minha geração, dos mais jovens ou dos mais velhos – de fazer alguma coisa pelo Brasil, a hora é agora, porque se a gente não fizer agora, aí a solução é, como diz o meu amigo professor Christian Lohbauer, uma passagem de avião. A gente tem a chance de, no ano que vem, mudar o curso do Brasil através de uma renovação política em peso.

Foi pensando nisso, nesse momento tão crítico que a gente tem como país, que eu achei que poderia dar uma contribuição e tentar entrar nesse jogo, tentar fazer a minha parte. Junto comigo há uma série de outros jovens, uma série de outras pessoas já com mais experiência que estão afim de entrar no jogo, de participar da vida política, de tentar dar a sua contribuição através das eleições do ano que vem. Apesar de ser muito importante, é uma trajetória muito difícil, porque todo o sistema, como ele é desenhado, é feito para a gente não conseguir entrar.

Os políticos de carreira criaram barreiras de entrada enormes. Eles criaram um modelo de negócio muito bom, que é altamente rentável para eles, com margens enormes. Os partidos, que hoje são franquias, conseguem ter resultados financeiros excelentes com o nosso dinheiro; e uma barreira de entrada incrível, uma barreira de entrada que praticamente garante que eles vão ter sucesso no ano que vem.

Mas se a gente ficar parado, a certeza que eu tenho é que eles vão ter sim sucesso no ano que vem. A decisão que eu tomei depois de refletir bastante foi de sair do meu emprego. Eu ganhava bem, eu ajudo meus pais em casa, ajudo com as contas de casa. E aí, de repente, de uma hora para outra, eu deixei de ganhar X para ganhar zero e comecei a usar meu dinheiro, as minhas economias, que não são tão grandes, para tentar construir esse caminho para 2018. E tem sido uma experiência muito interessante.

Tenho aprendido muito, conversado com muitas pessoas, buscado o apoio de várias pessoas e a receptividade tem sido muito grande. Eu estou muito animado. Isso não isenta o fato de que é sim um desafio muito grande. Conseguir 100 mil votos, 120 mil votos em São Paulo é um desafio astronômico, mas a gente precisa fazer isso, precisa tentar dar alguma contribuição.

O Jeff Bezos, fundador da Amazon, fala que quando ele tem que tomar alguma decisão muito difícil ele usa o regret minimization framework. Apesar do nome complexo, a ideia é muito simples. É pensar, projetar lá na frente, em quando eu chegar com meus 80 anos e olhar para trás, ver se eu me arrependeria ou não de ter tomado aquela decisão. Para mim, essa resposta fica muito simples. Eu me imaginando com 80 anos e olhando para trás, a melhor decisão que eu posso fazer é sim sair do meu emprego, deixar de ganhar o meu dinheiro, abrir mão um pouco da trajetória no setor privado que eu poderia ter, da perspectiva de virar sócio da consultoria, da perspectiva de em quatro, cinco, dez anos conseguir juntar um pequeno patrimônio… abrir mão de tudo isso para tentar sim fazer uma contribuição no ano que vem. A sociedade pede no ano que vem algo novo. A sociedade não aguenta mais esse político tradicional e ela quer sim ver quais são as opções de novas lideranças políticas.

Pode ser sim um momento muito bom para eu e várias outras pessoas nos apresentarmos como opções para a sociedade, de falar “olha, a gente estudou, ralou muito, conseguiu construir uma trajetória profissional bacana apesar de sermos jovens, boa parte de nós, e a gente se coloca à disposição para ser uma opção nas eleições do ano que vem, seja para deputado estadual, deputado federal… Enfim, a gente se coloca como opção para a sociedade se ela estiver afim de mudar a situação do Brasil”. Eu, hoje, sou postulante pelo Partido Novo para concorrer para deputado federal no ano que vem e estou superanimado e muito motivado para tentar fazer alguma coisa que seja bacana e que mude o caminho das coisas e que a gente consiga dar os primeiros passos para construir um país que a gente gostaria, moderno e justo.

Rio Bravo: Então, uma vez que você chegue lá, você não teme ser desenganado com as condições políticas do país ou mesmo com o sistema, que é tão fechado e que está ajustado para servir a essa velha política?

Daniel José Oliveira: Não. Eu posso ser inocente. Vai ser muito difícil, eu tenho uma curva de aprendizado. E eu também não posso achar que tudo que os políticos tradicionais fizeram até hoje são coisas inúteis. A gente teve vitórias. Olha só esse ano, por exemplo.

A reforma trabalhista foi uma mega vitória, tomara que a gente consiga passar essa reforma da Previdência e lá na frente vai ter uma reforma tributária muito importante. Então, a classe política também deu a sua contribuição e eu não tenho dúvida de que eu vou ter que trabalhar com ela se eu chegar lá. 2018 não vai ser o ano em que a gente vai tirar todos os políticos tradicionais e colocar todos os políticos novos. Eu não sou inocente de achar que isso vai acontecer. O que eu espero, sendo bastante realista, se eu entrar lá e chegar em Brasília em 2019, é em primeiro lugar aprender muito. Há uma curva de aprendizado, sim, e ela talvez não seja tão rápida, talvez demore mais do que eu gostaria.

Vou ter sim que trabalhar com os políticos de carreira, com aqueles que estão hoje lá em Brasília, e trabalhar junto com eles para que as coisas que são importantes aconteçam, porque se a gente também os coloca como inimigos, a gente não consegue fazer nada e não adianta chegar lá se você não tiver uma pequena influência sobre o andar das coisas. A gente tem que buscar ser pragmático, buscar dar a nossa contribuição, e a nossa contribuição vem também do quanto a gente consegue trabalhar com essas lideranças políticas tradicionais. É superimportante a gente ter isso em mente. Não adianta nada chegar lá e ficar criticando, a gente tem que sentar junto e trabalhar, por mais que muitas vezes a gente não goste muito de quem está sentado na nossa frente.

 Rio Bravo: Grosso modo, é bastante perigoso utilizar a generalização em nome dos jovens, por exemplo, como se fossem os jovens um bloco fechado. Ainda assim, você vê o jovem brasileiro entre 18 e 30 anos interessado nesse tipo de debate político no longo prazo, em pensar o país no longo prazo? Falando especificamente da sua geração.

Daniel José Oliveira: Acho que tem dois pontos na sua pergunta que vale detalhar. O primeiro deles é: será que são só os jovens que estão mais envolvidos com a política? O segundo é: a gente está falando de política ou de pensar o Brasil no longo prazo, planejamento estratégico para o Brasil? Essa discussão do planejamento estratégico para o Brasil, eu acho que está muito distante, acho que ela ainda não começou. Acho que a gente ainda não tem maturidade para ela. Já deveria, mas ainda não tem.

O Brasil, hoje, pensa em 2018, nada além disso. Essa discussão estratégica de país ainda é inexistente. Agora, a participação política da população de modo geral aumentou muito, o que é muito bom, porque é o primeiro passo para a gente construir essa visão de longo prazo que a gente quer para o país. Acho que não só os jovens. Claro, os jovens têm, naturalmente, um ímpeto maior para participar da política, porque essa é a alma do jovem, de desafiar o status quo, de criar algo que não existe. Agora, quando eu chego em casa e converso com a minha mãe sobre o que está acontecendo no Brasil hoje… Ela, que não teve uma formação muito grande, mas que tem corrido atrás – ela fez supletivo para terminar o Ensino Fundamental, fez supletivo para terminar o Ensino Médio e algumas semanas atrás fez o Enem – eu comecei a me ver em discussões que eu nunca imaginaria ter com a minha mãe.

Ela vira para mim e fala sobre Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Lewandowski e eu falo ‘Meu Deus do céu, ela conhece quem são os membros do STF’, coisa que há alguns anos atrás era inimaginável. Hoje em dia, os brasileiros sabem mais quem são os 11 ministros do STF do que quem são os 11 jogadores da seleção brasileira, isso a um ano de Copa do Mundo. Então, mostra muito que a gente como país tem amadurecido no envolvimento político. Isso é muito, muito bom, porém é o que eu disse, a gente ainda está pensando só em 2018 e depois vai pensar no ano seguinte e depois nas próximas eleições. A gente ainda não tem uma ideia de onde quer chegar como país, de quem quer ser como nação, de como a gente quer resolver os nossos problemas e de como a gente quer, de uma maneira mais ampla, contribuir para o mundo.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.