Por que adversários de Lula querem o petista disputando as eleições?

Enquanto uma parcela da sociedade clama pela confirmação da sentença proferida pelo juiz federal Sergio Moro, no mundo político há poucos que de fato querem ver o ex-presidente impedido de disputar a sucessão de Michel Temer

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A uma semana do julgamento de recurso da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a condenação, em primeira instância, a nove anos e seis meses pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP), os ânimos se acirram no ambiente jurídico e fora dele. Enquanto uma parcela da sociedade clama pela confirmação da sentença proferida pelo juiz federal Sergio Moro e outra pede sua absolvição, no mundo político há poucos que de fato querem ver o ex-presidente impedido de disputar as próximas eleições ou atrás das grades.

Condenado em primeira instância no âmbito da operação Lava Jato, Lula pode ser enquadrado pela Lei da Ficha Limpa e obrigado a abandonar sua candidatura à presidência da República, caso tenha sentença confirmada pelos desembargadores da 8ª turma do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) e recursos da defesa recusados. Hoje, o ex-presidente lidera com folga em todos os cenários de primeiro turno levantados pelos principais institutos de pesquisa.

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Levando em consideração tal contexto, parte da estratégia do líder petista passa pela procrastinação do processo. Embora a sentença proferida em julho do ano passado não seja uma unanimidade na sociedade e meio jurídico, poucos acreditam na possibilidade de absolvição de Lula a essa altura do jogo. A ideia seria avançar com a candidatura do ex-presidente até o ponto mais distante possível. Assim, caso seja impedido, Lula teria maior potencial de transferência de votos a um nome por ele apoiado. Se, por ventura, conseguir manter o direito de disputar a sucessão do presidente Michel Temer, ainda melhor para o PT.

No meio dessas duas possibilidades, há uma zona cinzenta e incerta que pode implicar em grande desafio às instituições brasileiras. Tal situação pode ser representada pela hipotética imagem do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) retirando votos das urnas por uma (atrasada) impugnação da candidatura do petista em plena corrida eleitoral ou ao seu cabo, o que certamente produziria traumas. Dependendo do desfecho da situação de Lula sobre a possibilidade ou não de disputar a próxima eleição presidencial, há consequências sociais imaginadas por parte do mundo político. Nenhum futuro presidente quer pegar o País ainda mais dividido. Ao mesmo tempo, cresce na oposição a percepção de que desta vez é possível derrotar Lula nas urnas. Com os desgastes sofridos pelo petista com os processos que responde e a indicação de Dilma Rousseff para comandar o país, é difícil acreditar que o ex-presidente não esteja desgastado.

“O PSDB inteiro diz que Lula tem que ser candidato para ser derrotado na urna. É o mantra dos tucanos”, observou o analista político Richard Back, da XP Investimentos. Segundo ele, as motivações para tal posição seriam diversas: “Tem o mais pitoresco: ‘imagina se Lula é preso hoje e amanhã falece na cadeia’. Isso tem uma consequência difícil de se avaliar. Também existe o desejo de ganhar de Lula na urna, para encerrar a história do mito, evitando um varguismo, que até hoje está vivo na sociedade. Tem uma parte da política que não quer ex-presidente preso, e isso seve para Temer em 2019. Em Brasília, é difícil encontrar alguém que diga que quer Lula na cadeia amanhã”.

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No fim do ano passado, durante convenção do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que prefere derrotar Lula nas urnas do que vê-lo preso. “Eu já ganhei do Lula duas vezes e temos energia para combatê-lo cara a cara”, disse. No último domingo, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu que o líder petista se candidate e concorra, porque acredita que ele irá perder — e que será o momento de provar que seu legado foi ruim. “É importante que ele dispute, porque eu tenho muita convicção que ele vai perder as eleições. E é importante que a gente desmonte a tese de que o Lula é imbatível, que o legado dele foi uma maravilha”, disse.

Tal leitura é compartilhada pelo presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson. Em entrevista publicada pelo jornal Folha de S. Paulo na última quarta-feira (17), o ex-deputado federal disse que Lula corre o risco de conseguir disputar a eleição e fracassar. “Vai correr o risco gravemente de ter um mandato de segurança ao seu favor, disputar a eleição e depois não computar o voto”, disse. “Você enterra o mito na eleição. Senão ele vai ficar a vida inteira gritando que foi vítima do [juiz federal] Sergio Moro, do Tribunal do Rio Grande do Sul (TRF-4), dos procuradores da República”, complementou.

Para o analista de cenários Leopoldo Vieira, da consultoria Idealpolitik, haveria ainda certo “efeito Orloff”, que faz com que políticos se imaginem no futuro em condição parecida à do ex-presidente. “A principal mensagem de um 3 a 0 [no julgamento de recurso no TRF-4] é ao sistema político: se fazem isso com o líder mais popular do establishment, o que poderão fazer com os menos populares depois disso?”, observa.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.