Por que acreditar em um novo segundo turno entre PT e PSDB nas próximas eleições?

Para Marcelo Issa, diretor da Pulso Público, eleições de 2014 poderão lembrar pleito de 2002, quando polarização prevaleceu, mas em nível mais baixo que nas disputas seguintes

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Há uma série de riscos por trás das candidaturas das principais apostas de tucanos e petistas para as próximas eleições presidenciais, mas o cenário tende a repetir a polarização dos dois partidos em uma eventual disputa de segundo turno. A leitura é do cientista político Marcelo Issa, diretor da consultoria Pulso Público. Para ele, a confirmação dessa situação depende do desfecho do processo envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pode torná-lo inelegível pela Lei da Ficha Limpa. Caso a candidatura do principal nome do PT se mantenha, cresce a possibilidade da repetição da polarização que se tornou frequente na maioria das eleições presidenciais desde a redemocratização. Do lado do PSDB, o principal nome seria o do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, recentemente consagrado presidente da legenda.

“O governador Geraldo Alckmin já faz movimentos — e boa parte deles com sinalizações de êxito — no sentido de compor uma aliança de partidos em torno do nome dele, porque toda essa infraestrutura eleitoral e partidária não desaparece de uma hora para outra, são 20 anos de polarização. De 1994 a 2014, PT e PSDB sempre concentraram no primeiro turno mais de 75% dos votos, à exceção de 2002, quando ainda houve uma concentração muito grande, na casa de 69%. Entendo que, mantida a candidatura do ex-presidente Lula, o desgaste destes dois partidos nos últimos anos deve nos levar a um cenário parecido com 2002, com uma concentração menor dos votos nos dois partidos, mas uma tendência ainda de vermos PT e PSDB no segundo turno”, observou Issa em entrevista ao programa Conexão Brasília da última semana.

A despeito do controle maior da máquina partidária e do maior colégio eleitoral do país, ainda é cedo para dar como certa a candidatura de Alckmin. Na avaliação de Issa, ainda há fatores que merecem ser observados com atenção, sob risco de novos nomes emergirem para ocupar espaços não preenchidos pelo governador até março do ano que vem.  

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“Talvez seja um pouco para dizer [se a candidatura de Alckmin está consolidada]. Se não houver, de fato, um crescimento expressivo do nome do governador Geraldo Alckmin até o final do primeiro trimestre do ano que vem, realmente alguma alternativa deve começar a se construir no campo da centro-direita, mas por enquanto eu entendo que os atores políticos e os próprios partidos têm plena consciência de que é necessário conceder alguma infraestrutura mais adequada para que esse processo ocorra”, afirmou o cientista político.

“É claro que haverá uma série de negociações para a conformação dessa conjuntura, o governador é um homem muito habilidoso nesse tipo de construção. Ele certamente precisará de um vice nordestino — talvez o nome mais interessante neste momento seja o do prefeito de Salvador (BA), ACM Neto. Mas eu diria que o maior risco de uma campanha do governador Geraldo Alckmin seja, justamente, a gestão do PSDB. Ou seja, o tratamento que o partido vem dando aos sucessivos envolvimentos de membros em escândalos bastante difíceis de serem contraditados, especialmente o caso do senador Aécio Neves (MG), que até pouco tempo atrás era presidente do partido. Porque é muito difícil o PSDB se apresentar como partido mais ético ou mais comprometido com a questão ética que o PT quando trata seu principal dirigente ou um dos principais da mesma forma que o PT manejou ou vem manejando a questão do ex-presidente Lula”, explicou.

Para o êxito da candidatura de Alckmin, será necessária a costura de um amplo acordo entre os partidos de centro, utilizando a própria máquina paulista como instrumento, na escolha da chapa que disputará sua sucessão, na definição dos candidatos ao Senado etc. A acomodação de uma gama tão aberta de partidos será prova preliminar ao governador, que beneficiou-se de um jogo de “resta um” para figurar como o maior nome da centro-direita para o próximo pleito presidencial — no momento. Também representam desafios ao tucano o crescimento nas pesquisas eleitorais e a construção de uma imagem que interesse o eleitorado, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, onde há uma diferença expressiva em relação ao ex-presidente Lula. Há ainda um calcanhar de aquiles do governador: corre no Superior Tribunal de Justiça um pedido de instauração de inquérito contra ele. O tucano é acusado de receber recursos de caixa dois da empreiteira Odebrecht nas últimas duas eleições que disputou.

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Apesar dos riscos que pairam sobre as principais candidaturas petista e tucana, há grandes chances de uma reedição da já tradicional polarização na próxima disputa presidencial, a despeito dos sinais de expectativas por mudanças dados por grande parte do eleitorado. Nada novo sob o Sol.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.