Por que a economia brasileira está se segregando cada vez mais da política?

Nunca houve tanto alento para a tese de segregação entre a economia e a política, "não tanto pela pujança da primeira, mas pelo apodrecimento da segunda", avalia gestora Rio Bravo

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Denúncia contra Michel Temer, votação sobre o destino de Aécio Neves (PSDB-MG). A complexidade sobre as tramas políticas é imensa em Brasília. Mas, apesar do tumulto, o último mês deu sinalizações bastante importantes sobre o distanciamento entre a crise política da economia, apontou a gestora Rio Bravo em carta de estratégia. 

“Não obstante o tumulto em Brasília, [setembro] é o melhor mês da economia desde o início da administração de Michel Temer”, apontam os gestores, exemplificando com dados de indicadores de atividade positivos, principalmente da indústria, crescendo 0,8%, enquanto a inflação medida pelo IPCA-15 foi mais baixa do que o esperado, mais uma vez, e a queda do desemprego continua, “sugerindo mais firmeza na recuperação do que a maioria dos técnicos estava disposta a admitir e assim impulsionando certa tendência de revisão para cima das expectativas para o PIB de 2018”, avaliam.

Além disso, o Banco Central do Brasil empreendeu novo corte da taxa Selic, chegando a 8,25%, mas com indicações de que o ciclo de baixas está se aproximando de seu final. Isso porque, por boas razões, a trajetória da política monetária nos próximos anos parece entrar em território não mapeado, tanto pelas hesitações em se imaginar um outro ciclo de baixa começando com a Selic no patamar de 7%, quanto pelas incertezas sobre o ocupante do Palácio do Planalto a partir de 2018, diz a gestora.

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Conforme aponta a Rio Bravo, a recuperação da política fiscal e da dinâmica de dívida que vigorou entre 1998 e 2009 significaria atingir níveis não vistos antes de juros nominais. Isso levaria a muitas implicações interessantes tanto no valor dos ativos quanto na organização do crédito.

“A administração de Michel Temer permitiu um vislumbre sobre reformas, que provavelmente
voltarão à ribalta na campanha presidencial e certamente ocuparão muito destaque nos
primeiros momentos do novo presidente e em uma intensidade maior. Não há dúvida de que o
progressivo, e provavelmente irreversível, encolhimento da figura política de Lula permite a
conjectura de que as eleições estarão mais carregadas de candidatos e propostas pró-mercado. Essas percepções têm animado os mercados até mais que os sinais concretos de recuperação da economia”, avaliam.

Assim, em setembro, a bolsa atingiu pontuação recorde, com ganho de 3,6% e com a capitalização de mercado voltando a superar US$ 1 trilhão. “A tendência é boa, mas o recorde é ilusório, pois a capitalização de mercado já esteve próxima de US$ 1,8 trilhão em 2009, de tal sorte que ainda há muito espaço para cima, se for apenas para recuperar os picos alcançados no passado”, avalia.

De toda maneira, aponta a Rio Bravo, nunca houve tanto alento para a tese de segregação entre a economia e a política, “não tanto pela pujança da primeira, mas pelo apodrecimento da segunda, que entrou em um estado de decomposição do qual apenas se livrará com as eleições”.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.