“Popularidade é minha e faço o que quero dela”, teria dito Dilma: o fim de semana na política

Lava Jato segue "pegando fogo", em meio às novas notícias sobre a Odrebrecht e a Andrade Gutierrez na Lava Jato; confira o que foi destaque no final de semana

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em meio à 14ª fase da Operação Lava Jato, chamada Erga Omnes, na última sexta-feira, culminando com a prisão dos presidentes da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, o último final de semana foi movimentado no campo político. Soma-se a isso a pesquisa Datafolha, revelada pela Folha de S. Paulo no último sábado, que mostrou a popularidade da presidente Dilma Rousseff ainda mais em baixa. 

Além disso, destaque para falas da presidente e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foram reveladas em meio ao clima de tensão no PT em meio aos últimos acontecimentos. Confira as principais notícias do último final de semana:

Datafolha
A presidente Dilma Rousseff atinge um novo recorde de reprovação, conforme aponta a pesquisa Datafolha divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo do sábado. A presidente chega ao final do primeiro semestre de seu segundo mandato com a reprovação de 65% dos brasileiros, proporção esta de eleitores que considera o governo da presidente como “ruim” ou “péssimo”. 

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No histórico de pesquisas do instituto, essa taxa de reprovação só não é mais alta do que os 68% atingidos pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello em setembro de 1992, poucos dias antes do impeachment. Porém, considerando a margem de erro de dois pontos para mais ou para menos, trata-se de um empate técnico. Apenas 10% dos eleitores pensam que o governo da petista é “bom” ou “ótimo”. Na véspera de ser afastado da Presidência, em 1992, Collor tinha 9% de aprovação. Em relação a abril, a reprovação subiu 5 pontos e a aprovação oscilou três pontos para baixo. 

Em uma simulação realizada pelo Datafolha, caso fosse realizada hoje uma eleição para presidente da República, Aécio Neves (PSDB-MG) teria 35% das intenções de voto, com cerca de dez pontos de vantagem sobre o ex-presidente Lula (25%).

Em terceiro lugar estaria Marina Silva (PSB), com 18% das intenções de voto. O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), Eduardo Jorge (PV) e Luciana Genro (PSOL) alcançaram 2% cada um. O Datafolha também realizou uma simulação da disputa presidencial com o nome de Geraldo Alckmin (PSDB), governador de São Paulo. Neste caso, Lula e Marina empatariam tecnicamente em primeiro lugar com 26% e 25%, respectivamente. O governador de SP, Geraldo alckmin ficaria em terceiro lugar com 20%, enquanto Paes e Luciana Genro teriam 3% das intenções de voto, cada um. 

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Dilma comenta popularidade
Em meio à popularidade em queda, a coluna Radar Online, da Veja, revelou uma das conversas de Dilma Rousseff com seus aliados. Segundo a coluna, semanas atrás, no Palácio do Planalto, a presidente discutia com líderes de partidos aliados medidas do ajuste fiscal e, sobretudo, o veto à nova fórmula do fator previdenciário. Foi quando ela foi interpelada pelo líder do governo na Câmara, José Guimarães: “essa decisão pode afetar sua popularidade”, disse ele. 

Dilma devolveu, irritada: “a popularidade é minha e eu faço com ela o que eu quiser”, de acordo com o relato feito por um dos participantes.

Lula seria o próximo da Lava Jato
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria dito a aliados que as prisões dos presidentes da Odebrecht e Andrade Gutierrez são demonstrações de que ele será o próximo alvo da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, segundo uma reportagem da Folha de S. Paulo de sábado. 

De acordo com o jornal, Lula teria reclamado que, agora que é ex-presidente, não tem mais direito a foro privilegiado. A Operação Lava Jato investiga um esquema de cartel para vencer licitações de obras superfaturadas da Petrobras (PETR3PETR4).  Desde o fim de 2014, a informação, que circula no meio empresarial e entre políticos, era de que se Marcelo Odebrecht fosse preso, ele ”não cairia sozinho”.

Nas conversas, Lula teria reclamado sobre o comando de Dilma Rousseff na repercussão das prisões, no que chamou de inércia da presidente para contenção de danos, enquanto teria se queixado da atuação do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que teria convencido Dilma a minimizar o impacto político da operação. 

Uma reportagem da coluna Radar, da Veja, também destaca a reação de Lula à operação de ontem. Após a prisão dos maiores empreiteiros do Brasil, Lula estava “espumando de raiva” e, aos interlocutores, culpou o governo Dilma, qualificado de ”frouxo”, por  ter deixado a situação ter chegado a esse ponto, aponta a coluna.

Pânico no mundo político
E, de acordo com a coluna Painel, do mesmo jornal, a prisão de Marcelo Odebrecht levou pânico ao mundo político pelo grau de conhecimento que o presidente da empreiteira tem da engrenagem do financiamento eleitoral ao PT nos últimos anos.

Mesmo negando que a Odebrecht tenha participado do escândalo de corrupção na Petrobras, o executivo teria feito relatos de como a esquema abasteceu campanhas petistas em 2010 e 2014, informa a coluna. 

Além disso, segundo a revista Época, o pai de Marcelo Odebrecht e filho do fundador de Norberto Odebrecht, Emilio Odebrecht, teria dito que “se prenderem o Marcelo (Odebrecht), terão de arrumar mais três celas: uma para mim, outra para o Lula e outra ainda para a Dilma (Rousseff)”. 

“A publicação dá a sugestão de que o presidente da empreiteira teria avisado ao Palácio do Planalto que ‘não cairia sozinho'”.

Indiciados
Segundo o jornal O Globo, os empreiteiros Marcelo Odebrecht e Otávio Marques Azevedo assim como outros dez executivos de empreiteiras presos na última sexta-feira, serão indiciados pela Polícia Federal ainda esta semana, após serem ouvidos pelos delegados da Operação Lava-Jato, de acordo com o delegado Igor Romário de Paula, integrante da força-tarefa da Lava-Jato.

Volume morto
O clima de tensão que envolve o PT e seus líderes ganham novos contornos a cada dia. Segundo informações do jornal O Globo, Lula falou a um seleto grupo de padres no seu instituto na quinta-feira, criticando duramente a gestão de sua sucessora e atribuindo ao governo dela a crise vivida pelos petistas. “Dilma está no volume morto, o PT está abaixo do volume morto, e eu estou no volume morto”, sentenciou.

Para mostrar o quão ruim está a situação do partido, o ex-presidente apresentou uma pesquisa realizada pelo PT mostrando que até mesmo no berço do partido, a região do ABC em São Paulo já se revolta contra ele. “Acabamos de fazer uma pesquisa em Santo André e São Bernardo, e a nossa rejeição chega a 75%. Entreguei a pesquisa para Dilma, em que nós só temos 7% de bom e ótimo”, disse Lula aos religiosos.

Lula disse que na falta de dinheiro o PT tem que voltar a fazer política para retomar a sua credibilidade. Além disso, ele admitiu que Dilma mentiu na campanha presidencial de 2014 quando disse que não mexeria em direitos trabalhistas “nem que a vaca tussa”. 

Cardozo fala…
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que se o governo federal tentasse impedir qualquer empresa investigada por suspeitas de irregularidades de participar de licitações infringiria a lei e seria facilmente derrubada na Justiça.

“O afastamento sem um devido processo legal, sem dar [à empresa investigada] o direito de defesa, seria um evidente abuso de poder que, inexoravelmente, seria revisto pelo Poder Judiciário e ensejaria punição às autoridades responsáveis por esse tipo de decisão”, disse o ministro em entrevista cuja gravação em áudio foi distribuída à imprensa pela assessoria do ministério.

Cardozo ressaltou que o governo defende e garante a autonomia de todas as investigações da Polícia Federal, órgão subordinado ao Ministério da Justiça, e do Ministério Público Federal (MPF). O ministro voltou a repetir que o governo federal respeita as decisões judiciais e que, por isso, evita comentá-las.

Troca de mensagens
Os documentos obtidos na Operação Lava Jato trazem à tona a proximidade entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com executivos das principais empreiteiras do País, conforme destaca o jornal Folha de S. Paulo de hoje.

O relatório mostra a relação do ex-presidente, chamado de “Brahma”, com executivos da OAS e o lobby de Lula em favor das construtoras brasileiras em países da África e da América Latina.

Em sua página no Facebook, Lula se defendeu das acusações. Na mensagem, ele diz que “O Instituto Lula não recebe qualquer tipo de verba pública e financia suas atividades com doações espontâneas de pessoas físicas e jurídicas. Não acredite em boatos e espalhe a verdade”, postou.

Também foi publicada uma nota no site do Instituto Lula sobre o assunto: “o Instituto Lula financia suas atividades por meio de doações espontâneas de empresas privadas e pessoas físicas. Como qualquer entidade privada, o instituto declara suas movimentações à receita federal e cumpre todas suas obrigações tributárias. o instituto Lula não recebe qualquer tipo de verba pública”.

E, de acordo com o jornal O Globo, dirigentes do PT disseram que as implicações da Lava-Jato para o partido devem ser discutidas na reunião da Executiva Nacional, quinta-feira, em São Paulo. Alguns petistas temem que o depoimento do presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, preso na sexta-feira, possa causar problemas ao partido e ao governo.

Moody’s coloca empreiteiras em revisão
A agência de classificação de risco Moody’s colocou os ratings de crédito da Odebrecht e da Andrade Gutierrez em revisão para rebaixamento após as prisões de seus presidentes, Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo, respectivamente, na manhã de ontem, no âmbito da Operação Lava Jato. 

O rating em escala nacional atribuído à Odebrecht Engenharia e Construção S.A. (OEC) é  Aa1.br e em escala global, é Baa3, foram colocados em revisão. Já o rating da Andrade Gutierrez está em Ba2 em escala global, também colocado em revisão para rebaixamento. 

As revisões para rebaixamento foram motivadas pela percepção da Moody’s de aumento de risco de crédito para a Odebrecht e para a Andrade Gutierrez após os mandados de busca e apreensão emitidos ontem para as companhias e das prisões preventivas e temporárias de alguns de seus executivos.

Embora as investigações ainda estejam em andamento e eventuais sentenças ou penalidades ainda não tenham sido determinadas, esses eventos podem afetar negativamente a execução das estratégias de crescimento das empresas no curto prazo e pressionar ainda mais os já desafiadores fundamentos da indústria de engenharia e construção no Brasil, destacam os analistas da Moody’s.

E destacam que, embora seja difícil prever o prazo e o os desdobramentos jurídicos dessas investigações, o processo de revisão focará na capacidade prospectiva das companhias de suportar seus negócios e continuar operando em tal ambiente.  

No caso da Andrade Gutierrez, a Moody’s destaca que a empresa tem operação em mais de 20 países e liquidez suficiente para cobrir todos os seus próximos vencimentos da dívida, o que atenua parcialmente as implicações potencialmente negativas sobre o negócio no curto prazo. A agência destaca também que a Odebrecht atualmente tem liquidez suficiente para cobrir todos os vencimentos de dívida e garantias extrapatrimoniais, o que parcialmente mitiga potenciais implicações negativas sobre os negócios no curto prazo.


Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.