Planalto e Itamaraty divergem sobre tom de reação a ameaças de gestão Trump a Moraes

Chefe da diplomacia dos Estados Unidos afirmou que governo americano avalia sanções a ministro do Supremo brasileiro

Agência O Globo

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, observa sua chegada ao Quai d'Orsay, no Ministério das Relações Exteriores da França, antes de uma reunião bilateral com seu homólogo francês em Paris, França, em 17 de abril de 2025. JULIEN DE ROSA/Pool via REUTERS
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, observa sua chegada ao Quai d'Orsay, no Ministério das Relações Exteriores da França, antes de uma reunião bilateral com seu homólogo francês em Paris, França, em 17 de abril de 2025. JULIEN DE ROSA/Pool via REUTERS

Publicidade

O silêncio do governo brasileiro diante da possibilidade de o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, adotar sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, foi motivado por divergências internas sobre o tom a ser adotado. Segundo relato de um interlocutor que acompanha as discussões, enquanto no Palácio do Planalto o entendimento é pela necessidade de uma rápida resposta, que deixe claro que essas ameaças são consideradas ingerência sobre a soberania do Brasil, no Itamaraty prevalece a ideia de que é melhor não reagir enquanto não houver algo concreto.

A avaliação da área diplomática é que não vale a pena entrar justamente no embate midiático que a oposição ao governo, capitaneada pelo deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, tenta incitar. O filho 03 de Bolsonaro deixou o mandato na Câmara e foi para os EUA em março deste ano. Lá, ele faz campanha contra Moraes e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo um integrante do governo, na quinta-feira, um dia depois de o secretário de Estado americano, Marco Rubio, declarar que as sanções poderiam ser adotadas, a Presidência da República determinou ao Itamaraty que fosse divulgada uma nota. O texto, porém, não saiu, mas continua no radar. O tom a ser usado com Washington ainda será escolhido.

Por enquanto, venceu a linha mais contida e, diante de divergências internas no governo, a ordem foi aguardar.

Na quarta-feira, durante audiência na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes dos EUA, o chefe da diplomacia do presidente Donald Trump afirmou que Moraes poderá ser alvo de sanções. Foi a primeira vez que um integrante do governo americano admitiu publicamente essa possibilidade. O ministro poderia enfrentar bloqueio de bens e contas bancárias no país, além de ter o visto cancelado e ser proibido de entrar nos EUA.

— Isso está sob análise neste momento, e há uma grande possibilidade de que isso aconteça — afirmou Rubio, ao responder a uma pergunta nesse sentido feita pelo deputado republicano Cory Mills (Flórida).

Continua depois da publicidade

De acordo com a colunista do GLOBO, Bela Megale, magistrados do STF avaliam que a defesa de Moraes precisa ocorrer por vias diplomáticas e não ser capitaneada pelo próprio tribunal. A avaliação dos ministros é que a ameaça de punir Moraes pela atuação dele como ministro do Supremo é uma afronta ao Estado brasileiro e não só à corte.

Nos EUA, parlamentares republicanos e aliados do bolsonarismo dizem que Moraes teria transformado o sistema judicial do país em uma arma política. O governo americano usa como base a Lei Global Magnitsky, que permite punições a autoridades estrangeiras acusadas de corrupção ou graves violações de direitos humanos.

Desde que Trump tomou posse, em janeiro deste ano, Rubio jamais conversou com o chanceler Mauro Vieira, ao contrário do que acontecia na gestão do ex-presidente Joe Biden. Vieira e o então secretário de Estado, Antony Blinken, falavam-se com frequência. Nas palavras de um importante integrante do governo, hoje há uma “tensão silenciosa”.