Pesquisa compara Dilma a FHC, mas revela pessimismo ainda maior entre os brasileiros

Hoje, 51% dos brasileiros acreditam que a atual crise é mais grave do que as anteriores, enquanto, para 29% dos entrevistados ela é tão grave como as outras, e apenas 16% acreditam ser menos grave

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Um estudo preparado pelo Ibope Inteligência fez um raio-x entre a atual crise vivida pela presidente Dilma Rousseff e um momento com significativas semelhanças na história recente brasileira: a reeleição de Fernando Henrique Cardoso, quando a economia também desafiava sua capacidade de conduzir o país por mais quatro anos, a despeito de um cenário mais confortável no campo político. Foram colocados na balança dos pesquisadores do instituto os meses de dezembro de 1998 e 2014, e março e setembro de 1999 e 2015. O estudo foi citado pelo colunista do jornal O Estado de S. Paulo José Roberto de Toledo nesta segunda-feira (19), e posteriormente obtidas pelo InfoMoney.

Conforme o próprio jornalista destacou em sua análise, o contexto de inflação e dólar em alta, taxa de desemprego de 7% e PIB (Produto Interno Bruto) em baixa é similar para ambos os presidentes durante a transição do primeiro para o segundo mantado. Os dois também tiveram que enfrentar o constrangedor coro do impeachment, sendo para a petista mais massivo devido a um nível de percepção ainda pior por parte dos brasileiros, conforme mostra o estudo do Ibope.

Mas antes de entrar na avaliação sobre o humor dos entrevistados, merece destaque o comparativo da pesquisa entre as duas situações sob a ótica dos mais diversos indicadores. Para FHC, a taxa básica de juros (Selic) era de 29,2% ao ano em 1998 – ano da reeleição -, saltando para 45% em março de 1999, depois recuando para 19,5% em setembro do mesmo ano. No caso de Dilma, a Selic era de 11,7% em dezembro do ano passado, subiu para 12,7% em março e em setembro fechou a 14,3%.

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A inflação, por sua vez, era de 1,7% ao ano pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em dezembro de 1998, subiu para 3% em março seguinte, depois foi a 6,3% em setembro. Para Dilma, o índice era de 6,4% em dezembro de 2014, depois atingiu 8,1% em março para fechar setembro em 9,5%. Já o câmbio na era FHC foi de R$ 1,21 em dezembro, subiu para R$ 1,72 em março e fechou em R$ 1,92 em novembro – alta acumulada de 59%. Na passagem do primeiro para o segundo mandato de Dilma, a cotação da moeda americana saltou de R$ 2,66 em dezembro, para R$ 3,21 em março e R$ 3,97 em setembro – alta acumulada de 49%.

Do lado do desemprego, em dezembro de 1998, o país apresentou uma taxa de 6,3%, que subiu para 8,2% em março do ano seguinte, para depois apresentar recuo para 7,4% em setembro. Do último mês do ano passado, o indicador saiu de 4,3%, para 6,2% em março e 7,6% em setembro. Já o PIB na era tucana saiu de -0,2% em dezembro de 1998, para -2,6% em março e -3,3% em setembro, ao passo que na atual gestão petista foi do mesmo patamar de -0,2% em dezembro do ano passado, para -2% em março e -2,5% em setembro. No geral, são cenários não muito distintos se for levada em consideração essa ótica levantada pelo Ibope: do lado dos juros e do PIB, Dilma leva vantagem, ao passo que FHC tinha momento mais favorável para inflação, câmbio e taxa de desemprego. No entanto, quando o assunto é percepção popular, o tucano tinha vida muito mais tranquila. A tabela a seguir ilustra melhor:

Fernando Henrique Dilma Rousseff
dez/98 mar/99 set/99 dez/2014 mar/2014 set/2014
Inflação 46% aumentará/ 36% não mudará/ 10% diminuirá 62%/ 20%/ 10% 51%/ 36%/ 9% 72%/ 16%/ 7% 77%/ 12%/ 8% 76%/ 10%/ 9%
Desemprego 68%/ 13%/ 14% 73%/ 13%/ 10% 20%/ 49%/ 26% 55%/ 26%/ 15% 67%/ 14%/ 15% 70%/ 11%/ 16%
Própria renda 22%/ 49%/ 22% 20%/ 49%/ 26% 16%/ 60%/ 19% 35%/ 44%/ 15% 17%/ 42%/ 38% 15%/ 42%/ 39%

Fonte: Ibope Inteligência

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Como era de se esperar, juntamente com o maior pessimismo com relação ao futuro, a deterioração da popularidade de Dilma ocorreu em um ritmo mais acentuado. Em dezembro de 1998, 40% dos brasileiros avaliavam o governo FHC como ótimo/bom, contra 43% julgavam-no regular e 15%, ruim/péssimo. Em março do ano seguinte, a proporção passou para, respectivamente, 22%, 34% e 41%. Em setembro, alcançou 16% para ótimo/bom, 30% para regular e 51% ruim/péssimo. Já no caso da atual presidente, em dezembro de 2014, 40% avaliavam sua gestão como ótima/boa, contra 32% que achavam regular e 27% ruim/péssima. A proporção evoluiu para 12%, 23% e 64% em março deste ano, e para 10%, 21% e 69% em setembro.

Hoje, 51% dos brasileiros acreditam que a atual crise é mais grave do que as anteriores, enquanto, para 29% dos entrevistados ela é tão grave como as outras, e apenas 16% acreditam ser menos grave. 2% disseram que a crise não é grave e 2% não souberam opinar ou preferiram não responder. Enquanto em dezembro apenas 22% achavam que a crise era difícil de superar, no mês passado o percentual cresceu para 71%. 68% acreditam que o Brasil está menos preparado para superar a crise econômica. Os números apresentados pelo Ibope deixam claro o contexto no qual as dificuldades de Dilma no campo político se inserem. Voto e apoio se baseiam no sentimento do eleitor, precisamente ancorada nas experiências que ele tem no presente em sua vida. Nomes que fizeram parte da gestão petista no passado já reconhecem que os avanços sociais recentes estão em risco e algum retrocesso já começou nas grandes cidades, sobretudo nas periferias.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.