Personagens: José Alencar e sua trajetória de sucesso na política e na vida empresarial

Conhecido por defender juros menores, o ex-vice-presidente da República também fez fortuna à frente da Coteminas

Anderson Figo

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SÃO PAULO – Há quase dois anos, a primeira matéria da série Personagens do Mercado revelou seu principal intuito: buscar contar a história de quem escreveu a história das bolsas. Para o investidor, lições inteligentes deixadas por personalidades interessantes, casos impressionantes ou situações curiosas. Uma homenagem da InfoMoney a quem fez e sempre fará parte da rotina dos mercados.

Nesta terça-feira (29), o Brasil perdeu um destes elementos. Personagens do Mercado desta vez fala sobre a trajetória de sucesso de José Alencar Gomes da Silva, ex-vice-presidente da República, que morreu nesta tarde, aos 79 anos, em São Paulo. Alencar lutava contra um câncer no abdome há mais de treze anos, durante os quais passou por 17 procedimentos cirúrgicos.

Conhecido por suas posições nacionalistas e pela defesa dos juros menores, Alencar trilhou não somente um caminho respeitável na política nacional, como também obteve êxito em sua carreira corporativa. Nascido em uma família simples (foi o 11º filho da família) em Muriaé, Minas Gerais, ele abriu seu primeiro negócio aos 18 anos, uma loja em Caratinga, com ajuda financeira de seu irmão. Mas foi à frente da Coteminas (CTNM4), a maior empresa do setor têxtil do País e um dos mais importantes grupos econômicos do Brasil, com fábricas aqui e no exterior, que Alencar fez fortuna.

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Dos primeiros passos à criação da Coteminas
Por vir de uma família simples do interior mineiro, Alencar sempre soube que para atingir seus objetivos seria preciso caminhar com seus próprios pés. Assim, aos 14 anos ele saiu de casa para trabalhar como vendedor de tecidos em uma loja em Muriaé. Nesta época, por conta da distância do pequeno vilarejo em que seus pais viviam, Alencar passava as noites no corredor do Hotel da Estação, pois seu salário não era suficiente para arcar com os custos da estadia em um quarto.

Aos 16 anos, em 1947, Alencar mudou-se de Muriaé para Caratinga, sobrevivendo do dinheiro que conseguia com pequenos serviços informais. Foi em Caratinga que conheceu Mariza Campos, com quem se casou. Foi lá também que Alencar teve outras aventuras amorosas que renderam frutos: sua filha Rosemary, que foi reconhecida por ele apenas no ano passado. Com Mariza, Alencar teve três filhos: Maria da Graça, Patrícia e Josué. 

Quando completou 18 anos, Alencar foi emancipado pelo pai e, contando com o apoio financeiro de seu irmão Geraldo Gomes da Silva, abriu seu primeiro negócio: uma lojinha conhecida por “A Queimadeira”, onde eram vendidos tecidos, calçados, chapéus e outros produtos desta linha. Foi por conta deste negócio que o ex-vice-presidente tomou gosto por juros baixos a fim de ganhar clientes da concorrência, costumava dizer Alencar em entrevistas.

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O segundo negócio de Alencar foi na área de cereais por atacado, também em Caratinga, em sociedade com José Carlos de Oliveira, Wantuil Teixeira de Paula e seu irmão Antônio Gomes da Silva Filho, dando origem à uma fábrica de macarrão denominada “Santa Cruz”. Mas, não parou por ai. No final de 1959, quando seu irmão Geraldo faleceu, Alencar assumiu os negócios deixados por ele na empresa de tecidos União dos Cometas, transformando-a, em 1963, na Companhia Industrial de Roupas União dos Cometas, que mais tarde passaria a se chamar Wembley Roupas S.A.

Apenas em 1967, em parceria com o empresário e deputado Luiz de Paula Ferreira, Alencar deu o lance que mudaria sua vida: fundou, em Montes Claros, a Companhia de Tecidos Norte de Minas, a Coteminas, inaugurando em 1975 a mais moderna fábrica de fiação e tecidos que o País já conheceu.

Springs Global
Com os ventos soprando à favor da Coteminas, Alencar teve a oportunidade de torná-la uma multinacional em 2005, quando investiu US$ 1,6 bilhão em uma fusão com a gigante norte-americana de tecidos Springs – nascendo assim a Springs Global (SGPS3), controlada pela filial brasileira, com 50% das ações do grupo.

Atualmente, a Coteminas é controlada pela família de Alencar e representa a maior companhia do setor têxtil do País, além de um dos mais importantes grupos econômicos no Brasil. Já a Springs Global chega a faturar nada menos que US$ 2,4 bilhões por ano, com 25 fábricas espalhadas pelo mundo. O capital social da empresa foi aberto na BM&F Bovespa em 1992. Em 2009, a Springs Global comprou a MMartan com o objetivo de investir R$ 55 milhões na rede de varejo para também transformá-la em uma marca global.

A carreira política
O engajamento político de Alencar teve início no final da década de 1980 e iníco dos anos 1990, quando o empresário entrou para a vida pública ocupando a presidência da Fiemg (Federação das Indústrias de Minas Gerais), posição que ocupou de 1989 a 1994. Em 2011, Alencar disputou uma vaga para o Senado e foi eleito com quase três milhões de votos.

Uma vez no Senado, Alencar presidiu a Comissão Permanente de Serviço de Infraestrutura, além de ter sido membro da Comissão Permanente de Assuntos Econômicos e da Comissão Permanente de Assuntos Sociais. Por conta de sua postura econômica firme, defensora dos juros mais baixos, em 2002, Alencar foi convidado por Luiz Inácio Lula da Silva, que há anos concorria à presidência da República, a ser candidato a vice-presidente na chapa que concorreria ao principal cargo público do País naquele ano. Ambos venceram.

Apesar da vitória petista nas eleições de 2002, muitos eleitores do partido ainda tinham um pé atrás em relação ao então vice-presidente, pois Alencar permeneceu como membro do PL. Apenas em 2005 Alencar deixou o PL para filiar-se ao PMR (Partido Municipalista Renovador) – em seguida rebatizado de PRB (Partido Republicano Brasileiro).

Na ocasião, o vice-presidente defendeu a investigação sobre as operações de privatização realizadas ao longo do governo de Fernando Henrique Cardoso. Alencar também chegou até mesmo a criticar o próprio governo Lula de não colocar em prática o discurso da campanha eleitoral, visando o fim das práticas adotadas pelo governo FHC.

Já em 2007, na posse do segundo mandato como vice-presidente ainda ao lado de Lula, Alencar voltou a atacar o governo dizendo em público que o País seguia com juros altos e elevados custos de capital. Segundo ele, a política monetária da época abria espaço para pensar que “foi feito um pacto com o diabo” – frase que o tornou ainda mais popular. 

Alencar permaneceu como vice-presidente até o final do mandato em 2010, quando finalmente se tornou membro honorário do PT. O ex-vice-presidente custou a conquistar os petistas por conta de seu histórico de empresário.

Vencido pelo câncer
A carreira empresarial e política de Alencar sempre andou ao lado de seu delicado histórico médico. A luta contra o câncer começou em 1997, quando foi diagnosticado com câncer de próstata. Após ter se submetido a inúmeras cirurgias, o tumor na próstata foi retirado, mas meses depois a doença voltou com ainda mais força, se espalhando para o abdome.

Por mais de 13 anos, Alencar lutou contra a doença – que se agravou nos últimos dois anos -, passando por mais de 17 intervenções cirúrgicas. Na segunda-feira (28), em situação considerada crítica, ele foi internado novamente na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, onde faleceu na tarde desta terça-feira.

A notícia da morte do ex-vice-presidente foi recebida com pesar por Lula e pela presidente Dilma Rousseff, que estão em Portugal. “Era uma relação de irmãos e companheiros”, disse Lula à jornalistas após ser avisado do falecimento do amigo. “Ele foi inesquecível para o nosso País, todo nós estamos muito emocionados”, afirmou, por sua vez, Dilma.

Quem também se manifestou foi o atual vice-presidente da República, Michel Temer: “a perda de José Alencar é imensa devido à grande estatura que ele alcançou durante sua vida, seja como empresário, seja como político. Sempre de forma irreparável e exemplar. José Alencar foi exemplo de luta, perseverança e superação para todos os brasileiros”.

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