Pedro Guimarães, presidente da Caixa, pede demissão após denúncias de assédio sexual

Ministério Público Federal investiga denúncias de funcionárias do banco público contra o executivo, que é um dos nomes mais próximos de Bolsonaro

Anderson Figo Marcos Mortari

Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

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Alvo de denúncias de assédio sexual por funcionárias da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, presidente do banco público, entregou uma carta de demissão ao presidente Jair Bolsonaro (PL) nesta quarta-feira (29). O executivo estava no cargo desde janeiro de 2019.

A decisão ocorreu um dia após o site “Metrópoles” publicar reportagem revelando acusações de funcionárias da instituição sobre abordagens inapropriadas de Pedro Guimarães e conduta incompatível com o ambiente profissional.

Pedro Guimarães era um dos nomes de confiança de Bolsonaro e do ministro Paulo Guedes (Economia). Ele acompanhava o chefe do Poder Executivo em viagens oficiais e era convidado assíduo das transmissões semanais do mandatário nas redes sociais.

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O Ministério Público Federal abriu uma investigação para apurar os fatos, mas os detalhes do caso permanecem sob sigilo.

Na carta entregue a Bolsonaro, Pedro Guimarães nega as acusações de várias funcionárias e fala em uma “avalanche de notícias e informações equivocadas” em “uma situação cruel, injusta, desigual e que será corrigida na hora certa com a força da verdade”.

O executivo disse que, desde que assumiu o comando da Caixa, dedicou-se “ao desenvolvimento de um trabalho de gestão que prima pela garantia da igualdade de gêneros, tendo como um de seus principais pilares o reconhecimento da relevância da liderança feminina em todos os níveis da empresa, buscando o desenvolvimento de relações respeitosas no ambiente de trabalho e por meio de meritocracia”.

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“As acusações noticiadas não são verdadeiras! Repito: as acusações não são verdadeiras e não refletem a minha postura profissional e nem pessoal. Tenho a plena certeza de que estas acusações não se sustentarão ao passar por uma avaliação técnica e isenta”, escreveu.

“Todavia, não posso prejudicar a instituição ou o governo sendo um alvo para o rancor político em um ano eleitoral”, continuou.

Poucas horas após a reportagem do site “Metrópoles” vir à tona, assessores do presidente Jair Bolsonaro já avaliavam que a situação de Pedro Guimarães no comando da Caixa Econômica Federal tornara-se insustentável.

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Na manhã desta quarta-feira (29), o executivo compareceu a um evento para funcionários do banco público, em Brasília, acompanhado da esposa. Em seu discurso, ele não fez qualquer referência às acusações de assédio sexual e disse que tem “uma vida inteira pautada pela ética”.

Novo comando

O presidente Jair Bolsonaro escolheu Daniella Marques, secretária especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia, considerada braço direito do ministro Paulo Guedes, para suceder Pedro Guimarães no comando da Caixa Econômica Federal.

Na equipe econômica do governo federal, Daniella Marques vinha liderando a agenda Brasil Pra Elas, focada no público feminino.

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As denúncias contra Pedro Guimarães, figura muito próxima ao presidente Jair Bolsonaro, geram preocupação entre aliados do mandatário, que enfrenta momento delicado em sua campanha pela reeleição. Há uma avaliação de que o episódio deve dificultar os esforços do presidente em diminuir as resistências do eleitorado feminino à sua candidatura.

O InfoMoney entrou em contato com a Caixa, mas até o momento de publicação desta reportagem ainda não tinha obtido retorno.

Ao “Metrópoles”, o banco público enviou uma nota dizendo que “não tem conhecimento das denúncias apresentadas, que adota medidas de eliminação de condutas relacionadas a qualquer tipo de assédio e que possui canal de denúncias por meio do qual são apuradas quaisquer supostas irregularidades atribuídas à conduta de qualquer empregado, independente da função hierárquica, que garante o anonimato, o sigilo e o correto processamento das denúncias”.

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A jornalista Ana Flor publicou em blog no portal “G1” que o comando da Caixa sabia dos supostos casos de assédio e acobertou as denúncias, inclusive com promoções. Fontes ouvidas pela jornalista disseram que os primeiros casos aconteceram ainda no primeiro ano de gestão do executivo.

Confira a íntegra da carta de demissão que Pedro Guimarães entregou ao presidente Jair Bolsonaro:

À população brasileira e, em especial, aos colaboradores e clientes da CAIXA:

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A partir de uma avalanche de notícias e informações equivocadas, minha esposa, meus dois filhos, meu casamento de 18 anos e eu fomos atingidos por diversas acusações feitas antes que se possa contrapor um mínimo de argumentos de defesa. É uma situação cruel, injusta, desigual e que será corrigida na hora certa com a força da verdade.

Foi indicada a existência de um inquérito sigiloso instaurado no Ministério Público Federal, objetivando apurar denúncias de casos de assédio sexual, no qual eu seria supostamente investigado. Diante do conteúdo das acusações pessoais, graves e que atingem diretamente a minha imagem, além da de minha família, venho a público me manifestar.

Ao longo dos últimos anos, desde a assunção da Presidência da CAIXA, tenho me dedicado ao desenvolvimento de um trabalho de gestão que prima pela garantia da igualdade de gêneros, tendo como um de seus principais pilares o reconhecimento da relevância da liderança feminina em todos os níveis da empresa, buscando o desenvolvimento de relações respeitosas no ambiente de trabalho e por meio de meritocracia.

Como resultados diretos, além das muitas premiações recebidas, a CAIXA foi certificada na 6ª edição do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), além também de ter recebido o selo de Melhor Empresa para Trabalhar em 2021 – Great Place To Work®️, por exigir de seus agentes e colaboradores, em todos os níveis, a observância dos pilares Credibilidade, Respeito, Imparcialidade e Orgulho.

Essas são apenas algumas das importantes conquistas realizadas nesse trabalho, sempre pautado pela visão do respeito, da igualdade, da regularidade e da meritocracia, buscando oferecer o melhor resultado para a sociedade brasileira em todas as nossas atividades.

Na atuação como Presidente da CAIXA, sempre me empenhei no combate a toda forma de assédio, repelindo toda e qualquer forma de violência, em quaisquer de suas possíveis configurações. A ascensão profissional sempre decorre, em minha forma de ver, da capacidade e do merecimento, e nunca como qualquer possibilidade de troca de favores ou de pagamento por qualquer vantagem que possa ser oferecida.

As acusações noticiadas não são verdadeiras! Repito: as acusações não são verdadeiras e não refletem a minha postura profissional e nem pessoal. Tenho a plena certeza de que estas acusações não se sustentarão ao passar por uma avaliação técnica e isenta.

Todavia, não posso prejudicar a instituição ou o governo sendo um alvo para o rancor político em um ano eleitoral. Se foi o propósito de colaborar que me fez aceitar o honroso desafio de presidir com integridade absoluta a CAIXA, é com o mesmo propósito de colaboração que tenho de me afastar neste momento para não esmorecer o acervo de realizações que não pertence a mim pessoalmente, pertence a toda a equipe que valorosamente pertence à CAIXA e também ao apoio de todos as horas que sempre recebi do Senhor Presidente da República, Jair Bolsonaro.

Junto-me à minha família para me defender das perversidades lançadas contra mim, com o coração tranquilo daqueles que não temem o que não fizeram.

Por fim, registro a minha confiança de que a verdade prevalecerá.

Pedro Guimarães

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.