Paulson dá lugar a Geithner: nome agrada, mas liderar Tesouro não será fácil

Atual chairman do Fed de Nova York traz bom equilíbrio entre continuidade e mudança, mas o que não lhe faltará serão desafios

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SÃO PAULO – De acordo com a mídia norte-americana, o posto de novo secretário do Tesouro dos EUA do governo de Barack Obama já tem dono: Timothy Geithner, atual presidente do Federal Reserve de Nova York, assumirá a pasta em um momento histórico de deterioração econômica norte-americana e reestruturação do sistema financeiro em Wall Street.

A nomeação não chega a ser propriamente uma surpresa, uma vez que Geithner já era amplamente apontado como um dos favoritos para substituir Henry Paulson. Ainda assim, o anúncio não deixou de impactar os mercados – e positivamente, trazendo forte rali às bolsas norte-americanas nos últimos minutos do pregão.

A julgar pelas considerações tecidas, a recepção positiva de Geithner não é exclusividade dos investidores. Analistas da BMO Capital Markets e do Société Générale também viram com bons olhos a nomeação de Geithner, embora o otimismo venha permeado por inúmeras ressalvas. Afinal, o cenário é desafiador até mesmo para os mais capacitados.

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Continuidade – boa ou ruim?

“Timothy Geithner traz um bom equilíbrio entre continuidade e mudança”, afirma a equipe do Société Générale. Enquanto “mudança” encabeça as propostas de Barack Obama, Geithner de fato está mais para uma continuidade da era Paulson. Não que isto seja propriamente negativo, pelo contrário.

Mais que atual chairman do Fed de Nova York, Geithner vem sendo uma das figuras mais ativas no combate à crise imobiliária e financeira norte-americana desde seu início, por volta da metade do ano passado, estando profundamente envolvido nas operações de socorro ao Bear Stearns e à seguradora AIG, por exemplo. “O próximo secretário do Tesouro não terá tempo para desperdiçar e Geithner tem a base para assumir as rédeas do posto já no primeiro dia”, afirma o Société.

“Claramente, a administração Obama deseja uma continuidade das medidas e programas agressivos que já vêm sendo colocados em prática no combate à crise”, opina, por sua vez, a equipe da BMO. Ainda assim, há os que vêem em tal continuidade um fator negativo. Afinal, a postura adotada por Bernanke e Paulson não vem sendo lá propriamente bem-sucedida: a crise se arrasta por mais de um ano, tendo instaurado no país uma profunda recessão.

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“O Departamento do Tesouro sob a chefia de Paulson vem perseguindo uma estratégia certa, mas recheada de erros táticos e problemas internos de comunicação que erodiram a confiança pública acerca dos propósitos do Tarp (Troubled Assets Relief Program) em estabilizar o sistema financeiro”, julga o Société Générale.

Era Geithner deve trazer maior rigidez

Embora certa seqüência das medidas de Paulson possa ser esperada, Geithner não deve ser visto exatamente como um sucessor do secretário republicano. Além de suas escassas aparições públicas, Geithner também é conhecido por seu clamor por uma postura mais rígida de regulação dos mercados. Um de seus últimos discursos veio pautado pela necessidade de que as instituições considerem a estabilidade do sistema financeiro como um todo na administração dos riscos de seus portfólios.

“A atual estrutura convencional de administração de riscos dá muito enfoque na ameaça em que erros de avaliação constituem à própria companhia, menosprezando seus impactos sobre as demais firmas. Uma complexa teia de regras que cria incentivos perversos para arbitragem e evasão e cria enormes fendas em nossa autoridade regulatória”, afirmou Geithner.

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Para a equipe do Société Générale, os US$ 350 bilhões restantes do Tarp devem ser utilizados não somente em novas injeções de recursos para amenizar os efeitos da desalavancagem nas instituições financeiras, mas bem como em esforços que busquem minimizar a onda de execuções hipotecárias no país, cerne da atual crise e cujo combate é a “única forma de se deter a atual espiral negativa que rege os preços dos imóveis nos EUA”.

A tarefa de Geithner é dura e recheada de desafios. Além da cifra restante do Tarp, o novo secretário do Tesouro dos EUA possui questões difíceis pela frente, como socorrer ou não – e se sim, de que forma – o setor automobilístico do país. Isto para não falar na situação das agências Fannie Mae e Freddie Mac, bem como nas controversas questões de política fiscal.

Compartilhando a dura tarefa

Mas Geithner não está sozinho no gabinete de Obama na dura empreitada de amenizar as turbulências que se abatem sobre os mercados e sobre a economia norte-americana. Junto com a nomeação de seu secretário de Tesouro, o recém-eleito presidente democrata também anunciou o nome de Lawrence Summers para a liderança de seu time de conselheiros econômicos.

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O nome de Summers também é de bom grado aos mercados. Professor de Harvard e ex-economista chefe do Banco Mundial, o que não falta a Summers é conhecimento e experiência. Além disso, o economista vem se manifestando recentemente a favor da idéia de um novo plano de estímulos fiscais à economia dos EUA, vindo ao encontro dos desejos dos investidores.

“Um tempo em que a confiança quanto aos mercados imobiliário, financeiro e corporativo vem se deteriorando cada vez mais não é um tempo para que o governo tome passos retrógrados”, afirmou em um discurso feito em setembro.

Confira abaixo um resumo das biografias de Timothy Geithner e Lawrence Summers:

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Timothy F. Geithner

É presidente do Federal Reserve de Nova York desde novembro de 2003, além de membro do Fomc (Federal Open Market Committee), comitê que decide a política monetária dos EUA. Ele também atuou no Departamento de Tesouro norte-americano em 1988 e por mais cinco administrações passando por vários cargos. Entre 1999 e 2001, atuou como subsecretário do Tesouro para Assuntos Internacionais nas administrações dos secretários Robert Rubin e Lawrence Summers.

Foi diretor do Departamento de Desenvolvimento Político e Revisão do FMI (Fundo Monetário Internacional) de 2001 até 2003. Antes de aderir ao Tesouro, Geithner trabalhou para a Kissinger Associates Inc.

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Lawrence H. Summers

É professor da Universidade de Harvard, instituição que também presidiu de julho de 2001 até junho de 2006. Antes, entre 1991 e 1993, foi economista chefe do Banco Mundial. Lá trabalhou no desenho de estratégias para ajuda a países em desenvolvimento, serviu no comitê de empréstimos do banco e guiou o setor de pesquisa bancária e estatística. A sua pesquisa esteve focada na demonstração da influência do alto retorno do investimento na educação em meninas nos países em desenvolvimento. Em 1993, foi nomeado subsecretário do Tesouro. Em 1995 e 1997, atuou em conjunto com Rubin no desenho de respostas às crises financeiras do México e da Ásia.

Entre 1999 e 2001, serviu como secretário do Tesouro na administração de Bill Clinton, depois da saída de Robert E. Rubin. Durante seu mandato, o governo norte-americano recomprou títulos da dívida com o uso de excesso de recursos do orçamento pela primeira vez desde a década de 1920. Liderou esforços para modernizar o sistema financeiro e, internacionalmente, trabalhou para inserir a China na OMC (Organização Mundial do Comércio).