Pastore alerta para alto endividamento imobiliário no Brasil: “vai dar bobagem”

Ex-presidente do Banco Central destaca deterioração do modelo econômico e diz que crédito ficará mais caro se o Brasil perder o grau de investimento

Lara Rizério

O economista Affonso-Celso Pastore

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SÃO PAULO – Durante palestra chamada “Como fazer o Brasil crescer de forma ampla e sustentável” que fez no 8º Seminário Internacional da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), o ex-presidente do Banco Central, Affonso Celso Pastore, demonstrou preocupações acerca do modelo de crescimento da economia brasileira. 

Pastore destacou o retrocesso nos processos de reforma econômica que ocorreram nas últimas décadas, através de reformas fiscais e privatizações avaliando que, após este processo ter se mantido durante o governo Lula, sofreu deterioração no atual governo da presidente Dilma Rousseff. “Estas reformas, em que o Brasil conseguiu registrar um alento no campo econômico, de repente sumiram do mapa”.

Conforme destacou o economista, o Brasil não registra um crescimento forte e vem se financiando através de um déficit na conta corrente, o que é uma tendência bastante preocupante. Associado ainda ao quadro de menor bonança com relação aos preços das commodities com a desaceleração do crescimento chinês, as perspectivas para a economia brasileira não são nada positivas. 

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Por fim, completa o quadro a queda na taxa de juros reais, que vem registrando baixa desde 2011, uma baixa “corajosa”, segundo o economista, mas não no sentido positivo, uma vez que demonstra a interferência do governo. Porém, aponta, abaixar a taxa de juros real não vai despertar o “espírito animal dos mercados” para realizar mais investimentos. 

Com relação à política fiscal, Pastore destacou que ela é bastante expansionista mesmo após o arrefecimento da crise de 2008, o que não seria mais recomendado. Além disso, as desonerações foram feitas de modo ineficiente e o fato do próprio BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) determinar quem são os “campeões nacionais” são políticas que demonstram alguns dos problemas do governo.

E, avalia, a concessão de crédito pelo BNDES cresceu de forma bastante forte, o que traz problemas para o governo. Isso não por conta da carteira de crédito do banco de fomento, mas pelo fato de que o governo não consegue reaver o seu investimento, ao cobrar dos empréstimos a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) em 5% ao ano, enquanto a Selic está a 9% ao ano.

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Em meio a esse cenário, “só pode levar ao downgrade da nota de crédito soberana do Brasil”, destacou. “O Brasil não está deixando de crescer por acaso, ele entrou numa rota ideológica nociva que não existia antes no governo Lula. O governo Lula não se meteu com a economia, era 100% pragmatismo e 0% ideológico. Atualmente, o sinal se inverteu”.

E, se o Brasil perder o grau de investimento, o investidor brasileiro que for tomar empréstimos no exterior terá que pagar taxas de juros bem superiores às atuais. A fala do ex-presidente do Banco Central ocorre em um ambiente em que as agências de classificação de risco Moody’s e Standard & Poor’s alteraram a perspectiva de rating do País para negativa.

E destacou que estamos vivendo um novo ciclo econômico agora, com a Europa dando sinais de melhora e os Estados Unidos retomando a trajetória de crescimento, uma vez que espera que os fluxos de capitais voltem ao mercado norte-americano.

Endividamento imobiliário: “vai dar bobagem”
Além disso, Pastore alertou os riscos para a economia, mais à frente, do elevado grau de endividamento da população brasileira em relação aos financiamentos imobiliários. “Isso vai dar bobagem, como deu no mundo inteiro”, ressaltou o economista em sessão de perguntas e respostas. 

E ressaltou o quão danoso isso pode ser para a economia e sobre as finanças de uma família cujas dívidas superam a renda caso ocorra uma crise. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.