Parlamentares driblam Constituição e entram em ‘recesso branco’; entenda consequências

Mesmo sem votar Lei de Diretrizes Orçamentárias, Câmara e Senado aprovaram requerimentos assinados por líderes partidários e implementam férias entre 20 e 31 de julho

Marcos Mortari

Publicidade

SÃO PAULO – A partir da próxima segunda-feira (20), deputados e senadores entrarão em seu tradicional recesso parlamentar, que deverá se alongar até o fim do mês. O período de férias foi possível graças a requerimentos assinados por líderes partidários e aprovados na Câmara e no Senado, que permitiram um drible à determinação constitucional de que a pausa nas atividades do Legislativo só podem ocorrer depois da aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias, enviada pelo governo. Com isso, todas as pautas pendentes ficarão para a pauta de agosto – caso da própria LDO.

O relatório final da LDO foi apresentado nesta semana pela Comissão Mista de Orçamento e deveria ser submetida a plenário. O texto, que teve o deputado Ricardo Teobaldo (PTB-PE), manteve meta de superávit primário de R$ 126,7 bilhões para União, estados e municípios em 2016, cerca de 2% do PIB (Produto Interno Bruto) estimado. Vale ressaltar que a meta oficial para este ano é de 1,13% do PIB, com expectativas de que não será atingido. Nesta semana, chegou a ser conversada, inclusive um ajuste para baixo neste percentual ou a criação de uma banda mais flexível.

O chamado “recesso branco” traz dores de cabeça ao governo em sua corrida contra o tempo pela aprovação de novas medidas para o ajuste fiscal. Na última semana antes da paralisação nas atividades do Congresso, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, bem que tentou que o projeto de lei da “reoneração” na folha de pagamentos fosse aprovado com agilidade, ou até mesmo a recém-desenterrada repatriação de recursos mantidos por brasileiros no exterior – medida que ajudaria no equilíbrio das contas e permitiria a reforma do ICMS, em uma tentativa de se atenuar a “guerra fiscal” entre as unidades da federação.

Continua depois da publicidade

Mais do que os esforços que os articuladores políticos do governo de Dilma Rousseff para fazer com que as medidas de ajuste fiscal entrem e vigor o quanto antes e tragam efeitos ainda neste ano, a aparente tranquilidade que um recesso parlamentar pode gerar não deve passar de ilusão. Fora de atividade, muitos parlamentares voltarão às suas bases e ficarão em contato por mais tempo com as reclamações e pressões de seus eleitores. Certamente isso pesará no retorno de deputados e senadores a Brasília, o que poderá provocar ainda mais dificuldades para o Planalto na aprovação de seus projetos.

A maior tendência de contaminação dos parlamentares pelo pessimismo de suas bases pode incidir, inclusive, sobre outra questão delicada para o governo: a aprovação de suas contas referentes a 2014, hoje em discussão no Tribunal de Contas da União. Vale lembrar que o TCU deu prazo até a próxima quarta-feira para o governo explicar 13 irregularidades identificadas, dentre elas as famosas “pedaladas fiscais” – o chamado atraso nos repasses do Tesouro aos bancos públicos responsáveis pela execução de programas sociais.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.