Paraguai chama embaixador e suspende negociação de Itaipu após denúncia de espionagem

Governo exige explicações do Brasil após revelação de operação hacker para obter dados estratégicos sobre tratado energético

Marina Verenicz

Hidrelétria de Itaipu vista do lado paraguaio - 
11/10/2021
(Foto: REUTERS/Cesar Olmedo)
Hidrelétria de Itaipu vista do lado paraguaio - 11/10/2021 (Foto: REUTERS/Cesar Olmedo)

O governo do Paraguai anunciou, nesta terça-feira (1º), a convocação do embaixador paraguaio no Brasil, Juan Ángel Delgadillo, e a suspensão das negociações sobre o tratado da usina hidrelétrica de Itaipu, após vir a público uma denúncia de espionagem conduzida pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) contra autoridades paraguaias.

A medida, anunciada pelo ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Rubén Ramírez Lezcano, é vista como um sinal formal de descontentamento diplomático e busca pressionar o Brasil a fornecer explicações detalhadas sobre a operação.

Segundo o portal UOL, a Abin realizou uma ação hacker para obter informações sigilosas relacionadas à renegociação do Anexo C do tratado de Itaipu — cláusula que trata da comercialização de energia entre os dois países.

Operação

A ação teria sido planejada no final do governo de Jair Bolsonaro (PL) e executada já na atual gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conforme depoimentos prestados por servidores da própria Abin à Polícia Federal.

Em nota divulgada na segunda (31), o Itamaraty confirmou que a operação foi iniciada durante o governo anterior, mas afirmou que o governo Lula encerrou a ação em março de 2023, assim que tomou conhecimento dos detalhes.

O chanceler paraguaio havia inicialmente dito que o país não detectou indícios de invasão em seus sistemas, mas mudou de posição após a nota oficial brasileira confirmar a existência da espionagem.

“Essa é uma violação do direito internacional, uma intromissão nos assuntos internos por parte de um país sobre outro”, disse Ramírez em coletiva de imprensa.

Como resposta, o Paraguai suspendeu por tempo indeterminado as negociações sobre o Anexo C do tratado de Itaipu, considerado estratégico para ambos os países, e anunciou a abertura de uma investigação interna para apurar se houve efetiva invasão e captura de dados por parte do Brasil.

Ramírez também afirmou que o governo vai pedir explicações formais ao embaixador brasileiro no Paraguai sobre os detalhes da operação conduzida pela Abin.

A revelação causou forte repercussão política em Brasília. A operação hacker teria utilizado ferramentas como o software Cobalt Strike, com agentes da Abin realizando viagens ao Chile e Panamá para disfarçar a origem dos ataques.

Segundo fontes ligadas à investigação da PF, os alvos incluíam autoridades do Congresso, do Executivo e do setor energético paraguaio, cujas informações teriam sido capturadas meses antes da assinatura do novo acordo sobre tarifas de energia em maio de 2024.