Para entrar para a história: o que deu certo e o que deu errado na Copa das Copas

Enquanto os temores com violência, falta de infraestrutura e confusões não se concretizaram e o evento se mostrou um sucesso, a seleção brasileira foi a maior decepção da Copa do Mundo

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Após ter uma certa apreensão no início com a Copa do Mundo –  em meio a estádios ainda inacabados e problemas de infraestrutura, além de apreensão em meio às expectativas de uma possível escalada da violência -, o Brasil deve sair do evento com a sensação de dever cumprido. Ou melhor, a sensação é que o País até ficou acima das expectativas. 

Afinal, o Brasil passou de ter uma expectativa pela Copa do Medo para ser a Copa das Copas, não somente dentro, mas como também fora de campo. Como ressaltaram jornalistas de diversos jornais internacionais, mesmo que com alguns contratempos, está a melhor Copa em que eles já estiveram. 

A BBC, na última sexta-feira, realizou uma votação, com a Copa do Mundo no Brasil sendo escolhida por 39% dos internautas como a melhor da história. A Copa da Itália, em 1990, ficou em segundo lugar com 10,5% e a da Inglaterra, realizada em 1966, com 8,8% dos votos.

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Os gols incríveis, como o “peixinho” do holandês Van Persie contra a Espanha, o de James Rodriguez contra o Uruguai ficarão marcados na memória, sendo a “cereja” do bolo o gol de Mario Gotze na final entre Alemanha e Argentina, sagrando os germânicos como tetracampeões. Com isso, a Copa do Mundo de 2014 atingiu uma outra marca histórica: o torneio no Brasil igualou o recorde de gols da Copa de 1998, realizada na França, com os dois eventos contando com 171 gols em 64 jogos.

A arbitragem – muito criticada -, as surpresas com a chegada da Costa Rica e da Colômbia até as fases de quartas de final são destacados pela agência britânica. E algo não tão feliz para os brasileiros também foi lembrado: a humilhação brasileira em meio ao atropelamento que os alemães impuseram na seleção canarinho ao vencer por 7 a 1, ressaltado pela BBC e também pelo Wall Street Journal.  

Conforme ressaltou o jornalista Joshua Robinson, do WSJ, ele está “extremamente grato” pelos momentos loucos que viu durante a Copa do Mundo. E ressaltou que os jogos não foram a única surpresa positiva.

Os jogos não são a única coisa sobre a qual a Copa do Mundo foi bastante “desorientadora” para ele. “Cerca de duas semanas atrás, no aeroporto de Recife, eu realmente perdi a noção de onde eu estava. Olhando para uma placa de ‘chegadas’, cheio de nomes de cidades brasileiras, eu tinha certeza que eu poderia ter vindo de praticamente qualquer um deles a apenas 15 minutos antes. Salvador? Talvez. Belém? Natal? Sim, talvez Natal. Foi só quando eu ouvi alguém dizer a palavra Fortaleza que clicou. Fortaleza, era onde eu estava!”

Ele ressalta que o torneio  se espalhou por 12 cidades deste imenso país, em que ele teve que fazer 19 voos (e uma viagem de ônibus de sete horas). “Em retrospecto, foi uma loucura”.

Violência, falta de infraestrutura: problemas foram dirimidos
E, se os aeroportos não foram um caos, outros pontos também ficaram acima das expectativas. Se, antes, os estrangeiros chegaram a recomendar que os turistas trouxerem a “bolsa para o ladrão”, a violência não foi um grande problema, com praticamente todas as partidas sendo realizadas sem grandes traumas.

O temor de apagões e racionamento, em meio aos baixos níveis dos reservatórios, também não se concretizou – apesar do risco ainda existir para os próximos meses. Dentre uma das exceções durante a Copa, esteve o apagão ocorrido durante o jogo da semifinal na Vila Madalena, bairro de São Paulo que ficou conhecido como ponto de encontro dos torcedores. O apagão ocorreu às 18h10 (horário de Brasília), do dia 9, um dia depois da “pane” brasileira contra a Alemanha. A pane na Vila Madalena, contudo, ocorreu durante o dérbi entre Argentina e Holanda. O motivo do apagão teria sido o lançamento de um objeto nos fios, em um ponto onde está o circuito que alimenta as ruas.

E o impacto pode ser, mesmo que não muito grande, bom para a economia. De acordo com cálculo realizado pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) anunciado na semana passada, a Copa do Mundo deve ter um impacto positivo de R$ 30 bilhões na Copa. 

A avaliação da Copa de 2014 leva em consideração os impactos iniciais – diretos, indiretos e induzidos, ao considerar os investimentos em infraestrutura (R$ 9,1 bilhões), os gastos de turistas (R$ 448 milhões) e os investimentos do COL (R$ 311 milhões); deste número, obteve-se o efeito multiplicador na cadeia produtiva. O Ministério do Turismo afirmou ainda que a Copa do Mundo gerou 1 milhão de postos de trabalho, diretos e indiretos.

Enquanto isso, as manifestações, um grande temor no pré-evento, não se concretizaram. Nas semanas anteriores, policiais de algumas cidades e trabalhadores que prestam serviços de transportes paralisaram e levaram o caos para essas regiões, mas os protestos logo foram revertidos durante a Copa.

A população, além das centrais sindicais, também mostrou descontentamento antes do início do evento, mas estas insatisfações diminuíram durante a Copa. A última pesquisa Datafolha, divulgada no começo de julho, mostrou que a proporção de eleitores favoráveis à Copa subiu de 51% para 63%, enquanto orgulho com a realização do evento subiu de 45% para 60% em apenas um mês. Ou seja, os eleitores passaram a apoiar o evento. 

Enquanto isso, não houve uma grande epidemia de doenças, como muitos acreditavam que ia existir, principalmente de dengue e sarampo. 

Preços exorbitantes, queda de viaduto e vexame da seleção: os pontos negativos
Por outro lado, a Copa do Mundo será lembrada pelos seus preços bastante salgados, pelo menos em relação aos serviços. Unidades do Procon nas cidades-sede do evento receberam várias denúncias por práticas abusivas, indo desde a cobrança de até R$ 120 por período em estacionamento de estádios, preços diferentes para estrangeiros, corridas de táxi sem taxímetro, entre outros.

Conforme destacou um levantamento realizado pelo G1 no meio da Copa, os preços subiram até 500% nos arredores dos estádios. Cerveja, refrigerante, cachorro quente e estacionamento ficaram mais caros. 

Enquanto isso, um acontecimento afetou a imagem do evento: a queda do viaduto em Belo Horizonte (MG) no início de julho, que foi planejado originalmente para a Copa, com duas mortes e vinte pessoas feridas. O acidente foi destaque na imprensa internacional, como no FT, que destacou que, enquanto a Copa do Mundo estava acontecendo sem incidentes graves, “a queda do viaduto é um lembrete das críticas anteriores ao torneio sobre os preparativos apressados”. E muitas das doze cidades-sede engavetaram ou atrasaram projetos de infraestrutura para o evento para até depois da Copa.

O FT cita o exemplo de Cuiabá (MT), que manteve as suas obras mesmo com alguns jogos em curso. E, um pouco antes do torneio, duas pessoas foram mortas quando um guindaste caiu durante as obras da Arena Corinthians, em São Paulo. “Muitos estádios mal tiveram tempo para um teste adequado antes do início do torneio”, ressalta o jornal.

Apesar dos contratempos, o saldo da Copa foi extremamente positivo para o Brasil, com o mundo agora conhecendo bem mais o País, que ficará muito além da imagem somente de carnaval e futebol. Aliás, sobre o último quesito, o Brasil decepcionou. Enquanto quase todos os economistas que fizeram modelos sobre a Copa previram o Brasil campeão, a realidade decepcionou, ainda mais após a traumatizante derrota por 7 a 1 para a Alemanha nas semifinais. Enquanto esperava-se um passeio em campo e um desastre na organização da Copa, o contrário aconteceu. O futebol, dentro ou fora de campo, sempre rende muitas surpresas. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.