“País foi sequestrado por um bando de políticos inescrupulosos”, diz Joaquim Barbosa

Para ex-presidente do STF, país "entrou numa fase de instabilidade crônica, da qual talvez só saia em 2018"

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Em uma entrevista de fôlego à jornalista Maria Cristina Fernandes, do Valor Econômico, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa defendeu a necessidade de uma agenda de reformas previdenciária e trabalhista, mas criticou o que chamou de “visão ultraliberal” do governo, além de questionar a legitimidade que Michel Temer tem de conduzir esse processo. O ex-ministro da corte também lamentou a perda de influência internacional do Brasil e a luta pela sobrevivência por parte da classe política, que tem tomado decisões no Legislativo em uma espécie de dois pesos e duas medidas.

“Nosso país foi sequestrado por um bando de políticos inescrupulosos que reduziram nossas instituições a frangalhos. Em nenhum país do mundo, um chefe de governo permaneceria um dia sequer no cargo depois de acusações tão graves quanto aquelas que foram feitas contra Temer. O Brasil entrou numa fase de instabilidade crônica, da qual talvez só saia em 2018”, afirmou o ex-magistrado. Na avaliação de Barbosa, “Temer deveria ter tido a honradez de deixar a Presidência”. Ele acredita que o que foi revelado pelo peemedebista se mostrou muito mais grave do que as justificativas usadas para o impeachment de Dilma Rousseff, que chamou de “controverso” e “patético”.

O jurista acredita que os deputados e senadores “instauraram no Brasil a ordem jurídica deles, e não a das nossas instituições. O Brasil teve um processo de impeachment controverso e patético e o mundo inteiro assistiu”. Na avaliação de Barbosa, os novos balões de ensaio lançados na direção do parlamentarismo escondem um interesse de “perpetuação no poder” e autoproteção às investigações. “Seria mais um golpe brutal nas instituições”, afirmou. “O país vive há quase 130 anos sob um regime presidencialista. Seria uma irresponsabilidade absurda testar um experimento exótico desse, como se fosse um brinquedinho, um ioiô”.

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Apesar do discurso de candidato e a popularidade de outras lideranças em pré-campanha, Barbosa nega o interesse em disputar as eleições. Apesar das críticas à classe política, o ex-ministro também elogiou Paulo Hartung, governador de Santa Catarina. “Se eu entrasse nisso, iria chamá-lo”, afirmou. Do lado econômico, ele defendeu um Estado “desengajado”, advogando pela saída da condição de sócio majoritário de empresas. Barbosa fez menção a bancos públicos, como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, mas não avançou sobre a Petrobras. “É uma empresa complexa, de um setor estratégico, com um imenso ‘savoir-fair’ que não pode ser desprezado nem tratado com ligeireza”.

Na avaliação de Barbosa, reformar a Previdência é necessário, mas é necessária moderação. “São reformas importantes, talvez não com essa visão ultraliberal que se quer implantar, que mexem no cerne do pacto social, mas é muito grave que estejam sendo conduzidas por um governo que não foi respaldado pelo voto”, disse. Do lado da reforma trabalhista, afirmou que há “muita velharia na CLT”, mas que houve um desequilíbrio no que foi aprovado pelo Legislativo, com a contribuição patronal passando incólume ao passo que os sindicatos foram penalizados.

Tido por muitos petistas como algoz do partido por conta de sua atuação no caso do Mensalão, o ex-presidente do Supremo acredita que o partido lançará candidato em 2018, mas diz que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria decidir não disputar. “Acho que ele não deveria ser candidato. Vai rachar o país ainda mais. Já está em idade de usufruir da vida e do dinheiro que ganhou com suas palestras. Só que o estão empurrando para ser candidato, com essa cruzada que o coloca contra a parede. É um ódio irracional esse que apareceu no país”.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.