Os principais testes para Michel Temer em 2017

Ano que inicia parece ser bastante desafiador para o presidente

Bloomberg

(Bloomberg) – O presidente Michel Temer tem navegado em mares agitados, 4 meses após o impeachment de sua antecessora Dilma Rousseff. A sua maioria no Congresso tem dado sinais de fragmentação, após a PEC do teto dos gastos ter passado no Senado com margem bem menor do que a esperada e alguns líderes de sua base terem manifestado publicamente descontentamento com a distribuição de poderes entre aliados.

  • Protestos nos últimos meses contra corrupção e medidas de corte dos gastos públicos expõem a impaciência entre os brasileiros com a classe política como um todo
  • Maior ameaça são provavelmente as investigações em curso sobre acusações de financiamento ilegal nas eleições de 2014
  • Essa linha de investigação pode, em tese, levar ao afastamento de Temer antes que conclua seu mandato, no fim de 2018. E o presidente se comprometeu a não buscar m segundo mandato.
  • Quais são os problemas de Temer no Congresso?
    • Temer é um presidente impopular que está conduzindo medidas de austeridade igualmente sem popularidade em meio à pior recessão do país. Chegará o momento em que tanto parlamentares como a população em geral exigirão resultados. Apesar de a maioria da classe política apoiar a reforma fiscal, quanto mais perto ficarem as eleições de 2018, maior será a propensão dos políticos em se distanciar de programas de contenção de gastos, como a proposta para elevar a idade de aposentadoria.
  • A agenda legislativa está comprometida?
    • Não necessariamente. Líderes das duas casas do Congresso serão escolhidos em fevereiro, após o retorno do recesso parlamentar, e os candidatos a esses cargos buscam, no atual momento, mostrar independência em relação ao governo. Prevalece entre parlamentares o entendimento de que o custo de não apoiar reformas econômicas propostas por Temer é muito alto.
  • O que pode surgir da investigação da campanha de 2014?
    • A investigação representa um risco pequeno, mas crescente, para Temer. A apuração conduzida pelo Tribunal Superior Eleitoral é sobre acusações de financiamento ilegal da Odebrecht para a chapa Dilma-Temer em 2014. A decisão do TSE é esperada para a primeira metade de 2017 e poderia, em tese, derrubar Temer. As chances de Temer não terminar seu mandato estão em 20%, de acordo com a Eurasia.
  • O que há a favor de Temer?
    • Juízes provavelmente pensarão duas vezes antes de mergulhar o Brasil em uma nova crise política. Além disso, Temer já disse que recorreria ao STF em caso de anulação do resultado da eleição de 2014. A trramitaçã deste recurso poderia se estender até o final de seu governo.
  • Investigações da Lava Jato podem atingir o presidente?
    • Apesar de Temer ter sido citado em delações premiadas, não há sinal de uma “bala de prata” capaz de derrubá- lo. Diversos parlamentares e membros do gabinete de Temer ainda estão sob o escrutínio dos investigadores da Lava Jato. A eventual queda de ministros e outros aliados do governo no Congresso Nacional poderia dificultar votações e tensionar o mercado, diz Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice.
  • Protestos contra Temer irão aumentar?
    • A economia fraca e uma controversa reforma da Previdência no Congresso devem fomentar protestos. “É de se esperar que as ruas continuem barulhentas”, diz João Augusto de Castro Neves, diretor para América Latina da Eurasia. Contudo, os protestos teriam de ser expressivos ou violentos para colocar em risco o mandato de um presidente que já demonstrou sua disposição a implementar medidas impopulares e que diz não buscar se reeleger.
  • Quando a economia irá se recuperar?
    • Quanto mais a economia demorar a se recuperar, maior é o risco de Temer perder suporte. Ao contrário de Dilma, o presidente não parece disposto a defender intervenção do governo na economia. Sua abordagem de restabelecer a confiança por intermédio da disciplina fiscal ainda não impulsionou investimentos e consumo, uma vez que famílias e empresas lutam para reduzir suas dívidas. Temer tem resistido ao apelo por mais estímulos, preferindo medidas de longo prazo para ampliar a produtividade. Com economistas entrevistados pelo BC prevendo crescimento em 2017 de apenas 0,5% e com projeções de alta do desemprego para ao redor de 13% no início de 2017, Temer terá de escolher entre a adoção de mais medidas populistas ou o risco de perder ainda mais apoio.

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