Os principais pontos dos áudios que caíram como uma “bomba” na política nesta semana

Ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado abalou o mundo político nesta semana com a divulgação de diversos áudios; veja os principais pontos

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A semana foi bastante movimentada para o presidente interino Michel Temer. Ele teve que lidar com uma baixa de um dos principais nomes da equipe econômica, o agora ex-ministro do Planejamento Romero Jucá, logo no início da semana, quando foi revelado o primeiro áudio de uma série que envolveu também outros caciques do PMDB: o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e o ex-presidente da República e ex-senador José Sarney (PMDB-AP), que geraram turbulências para o interino. 

Porém, os áudios de Machado com caciques do PMDB também implicaram outros atores importantes do mundo político – caso da presidente afastada Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG), também foi implicado. 

Confira abaixo os trechos de destaque das conversas gravadas por Sérgio Machado, que teve sua delação premiada homologada:

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ROMERO JUCÁ

Romero Jucá

Jucá e o “pacto para deter Lava Jato”

JUCÁ – Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem ‘ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’. Entendeu? Então… Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.

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MACHADO – Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta à calma, ninguém aguenta mais. Essa cagada desses procuradores de São Paulo ajudou muito. [referência possível ao pedido de prisão de Lula pelo Ministério Público de SP e à condução coercitiva dele para depor no caso da Lava jato]

JUCÁ – Os caras fizeram para poder inviabilizar ele de ir para um ministério. Agora vira obstrução da Justiça, não está deixando o cara, entendeu? Foi um ato violento…

MACHADO –…E burro […] Tem que ter uma paz, um…

JUCÁ – Eu acho que tem que ter um pacto.

Jucá: caiu a ficha do PSDB

MACHADO – Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já.

JUCÁ – Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador].

MACHADO – Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu?

JUCÁ – Também. Todo mundo na bandeja para ser comido.

[…]

MACHADO – O primeiro a ser comido vai ser o Aécio.

JUCÁ – Todos, porra. E vão pegando e vão…

RENAN CALHEIROS 

Renan Calheiros

Renan: delação premiada e todos p* com a Dilma

RENAN – Antes de passar a borracha, precisa fazer três coisas, que alguns do Supremo [inaudível] fazer. Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação e estabelece isso.

MACHADO – Acaba com esse negócio da segunda instância, que está apavorando todo mundo.

RENAN – A lei diz que não pode prender depois da segunda instância, e ele aí dá uma decisão, interpreta isso e acaba isso.

MACHADO – Acaba isso.

RENAN – E, em segundo lugar, negocia a transição com eles [ministros do STF].

MACHADO – Com eles, eles têm que estar juntos. E eles não negociam com ela [Dilma].

RENAN – Não negociam porque todos estão putos com ela. Ela me disse e é verdade mesmo, nessa crise toda –estavam dizendo que ela estava abatida, ela não está abatida, ela tem uma bravura pessoal que é uma coisa inacreditável, ela está gripada, muito gripada– aí ela disse: ‘Renan, eu recebi aqui o Lewandowski,
querendo conversar um pouco sobre uma saída para o Brasil, sobre as dificuldades, sobre a necessidade de conter o Supremo como guardião da Constituição. O Lewandowski só veio falar de aumento, isso é uma coisa inacreditável’.

Renan fala sobre Lula e Aécio

MACHADO – Tá mesmo. Ela acabou. E o Lula, como foi a conversa com o Lula?

RENAN – O Lula está consciente, o Lula disse, acha que a qualquer momento pode ser preso. Acho até que ele sabia desse pedido de prisão lá…

MACHADO – E ele estava, está disposto a assumir o governo?

RENAN – Aí eu defendi, me perguntou, me chamou num canto. Eu acho que essa hipótese, eu disse a ele, tem que ser guardada, não pode falar nisso. Porque se houver um quadro, que é pior que há, de radicalização institucional, e ela resolva ficar, para guerra…

MACHADO – Ela não tem força, Renan.

RENAN – Mas aí, nesse caso, ela tem que se ancorar nele. Que é para ir para lá e montar um governo. Esse aí é o parlamentarismo sem o Lula, é o branco, entendeu?

[…]

MACHADO – E tá todo mundo sentindo um aperto nos ombros. Está todo mundo sentindo um aperto nos ombros.

RENAN – E tudo com medo.

MACHADO – Renan, não sobra ninguém, Renan!

RENAN – Aécio está com medo. [me procurou] ‘Renan, queria que você visse para mim esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa.’

MACHADO – Renan, eu fui do PSDB dez anos, Renan. Não sobra ninguém, Renan.

Renan sobre Rodrigo Janot: “mau caráter” e “evitar recondução”

MACHADO – Agora esse Janot, Renan, é o maior mau-caráter da face da terra.

RENAN – Mau caráter! Mau-caráter! E faz tudo que essa força-tarefa (Lava Jato) quer.

MACHADO – É, ele não manda. E ele é mau caráter. E ele quer sair como herói. E tem que se encontrar uma fórmula de dar um chega pra lá nessa negociação ampla pra poder segurar esse pessoal (Lava Jato). Eles estão se achando o dono do mundo.

RENAN – Dono do mundo.

[2]

 MACHADO – Agora uma coisa eu tenho certeza: sobre você não tem nada ainda.

RENAN – Nesse mistério todo, a gente nem sabe por que eles vivem nessa obsessão.

MACHADO –  Hoje, eu acho que vocês não poderiam ter reconduzido esse b***, não. Aquele cara ali…

RENAN – Quem?

MACHADO – Ter reconduzido o Janot. Tinha que ter comprado uma briga ali.

RENAN – Eu tentei… Mas eu estava só.

JOSÉ SARNEY 

José Sarney - presidente do Senado - 03/07/12

José Sarney fala em ajudar Sérgio Machado sem “advogado no meio”

MACHADO – Eu soube que o senhor teve uma conversa com o Michel.

SARNEY – Eu tive. Ele está consciente disso. Pelo menos não é ele que…

MACHADO – Temos que fazer um governo, presidente, de união nacional.

SARNEY  – Sim, tudo isso está na cabeça dele, tudo isso ele já sabe, tudo isso ele já sabe. Agora, nós temos é que fazer o nosso negócio e ver como é que está o teu advogado, até onde eles falando com ele em delação premiada.

MACHADO – Não estão falando.

SARNEY – Até falando isso para saber até onde ele vai, onde é mentira e onde é valorização dele.

MACHADO – Não é valoriz… Essa história é verdadeira, e não é o advogado querendo, e não é diretamente. É [a PGR] dizendo como uma oportunidade, porque ‘como não encontrou nada…’ É nessa.

SARNEY  – Sim, mas nós temos é que conseguir isso. Sem meter advogado no meio.

MACHADO – Não, advogado não pode participar disso, eu nem quero conversa com advogado. Eu não quero advogado nesse momento, não quero advogado nessa conversa.

SARNEY – Sem meter advogado, sem meter advogado, sem meter advogado.

MACHADO – De jeito nenhum. Advogado é perigoso.

José Sarney – Odebrecht vai “pegar a Dilma e livrar o Lula”

SARNEY –  A Odebrecht […] vão abrir, vão contar tudo. Vão livrar a cara do Lula. E vão pegar a Dilma. Porque foi com ele quem tratou diretamente sobre o pagamento do João Santana foi ela. Então eles vão fazer. Porque isso tudo foi muito ruim pra eles. Com isso não tem jeito. Agora precisa se armar. Como vamos fazer com essa situação. A oposição não vai aceitar. Vamos ter que fazer um acordo geral com tudo isso.

MACHADO –  Inclusive com o Supremo. E disse com o Supremo, com os jornais, com todo mundo.

José Sarney – Odebrecht é metralhadora ponto 100

SARNEY -­ Nenhuma saída para ela. Eles não aceitam nem parlamentarismo com ela.

MACHADO  ­- Tem que ser muito rápido.

SARNEY -­ E vai, está marchando para ser muito rápido.

MACHADO ­- Que as delações são as que vem, vem às pencas, não é?

SARNEY -­ Odebrecht vem com uma metralhadora de ponto 100.

Sarney reclama da ditadura da Justiça 

MACHADO –  Não teve um jurista que se manifestasse e a mídia está parcial assim. Eu nunca vi uma coisa tão parcial. Gente, eu vivi a revolução (…) não tinha esse terror que tem hoje, não. A ditatura da toga tá f***.

SARNEY – A ditadura da Justiça tá implantada, é a pior de todas!

MACHADO – E eles vão querer tomar o poder. Para poder acabar o trabalho.

Sarney – Dilma insiste em continuar no poder e Lula acabou

SARNEY – Ela [Dilma] não sai. (…) Resiste…diz que até a última bala.

MACHADO – Não tem rabo, não tem nada.

SARNEY – Acha que não tem rabo. Tudo isso foi…é o governo, meu Deus! Esse negócio da Petrobras são os empresários que vão pagar, os políticos! E o governo que fez isso tudo?

MACHADO – Acabou o Lula, presidente.

SARNEY – O Lula acabou. O Lula, coitado, ele está em uma depressão tão grande.

MACHADO – O Lula. E não houve nenhuma solidariedade da parte dela.

Outro lado
Em resposta, Sarney se queixou do vazamento de conversas particulares suas com Machado, afirmando que sua relação com o ex-presidente da Transpetro é de amizade. “As conversas que tive com ele nos últimos tempos foram sempre marcadas, de minha parte, pelo sentimento de solidariedade, característica de minha personalidade. Nesse sentido, muitas vezes procurei dizer palavras que, em seu momento de aflição e nervosismo, levantassem sua confiança e a esperança de superar as acusações que enfrentava”, disse Sarney.

Em diferentes notas, Renan reiterou pela assessoria de imprensa da presidência do Senado, que “não tomou nenhuma iniciativa” ou fez gestões para “dificultar ou obstruir” as investigações da operação Lava Jato. O senador afirmou que as investigações da Lava Jato são “intocáveis”. Sobre Janot, Renan afirmou que trabalhou para acelerar a sua recondução à PGR.

Em nota desta semana, o PSDB se pronunciou sobre a citação do presidente nacional do partido, Aécio Neves, dizendo que o delator não apresentou nenhuma prova que comprove as acusações contra o senador. “Fica cada vez mais clara a tentativa deliberada e criminosa do senhor Sérgio Machado de envolver em suspeições o PSDB e o nome do senador Aécio Neves, em especial, sem apontar um único fato que as justifique. As gravações se limitam a reproduzir comentários feitos pelo próprio autor, com o objetivo específico de serem gravados e divulgados”, diz a nota.

Já a presidente afastada Dilma Rousseff negou  pagamento irregular ao publicitário João Santana, responsável pela sua campanha em 2014. Segundo ela, os repasses a João Santana na campanha de 2014 totalizaram R$ 70 milhões, sendo R$ 50 milhões no primeiro turno e R$ 20 milhões no segundo turno. “Os valores destinados ao pagamento do publicitário, conforme indica a prestação de contas, demonstram por si só a falsidade de qualquer tentativa de que teria havido outro pagamento não contabilizado para a remuneração dos serviços prestados”, afirma a nota. Dilma diz ainda que acha “curioso” que pessoas que estavam distantes da coordenação de sua campanha presidencial possam dar informações de “como foram pagos e contabilizados os recursos arrecadados legalmente para a sua realização”. De acordo com a presidente afastada, comentários em conversas entre terceiros não indicam a origem das informações e não têm credibilidade.


Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.