Os gráficos que indicam que Michel Temer não conseguirá aprovar a Reforma da Previdência

Fora da equipe econômica do governo, cada vez menos aliados acreditam no êxito da proposta no parlamento

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A cada dia que passa, mais difícil fica para o presidente Michel Temer concluir seu mandato com uma reforma da Previdência considerada satisfatória pelo mercado para a recuperação da saúde das contas públicas aprovada pelo Congresso Nacional. Com a aproximação das eleições, menos parlamentares mostram disposição em encampar uma bandeira tão impopular e que pode lhes custar a recondução ao cargo que hoje ocupam ou frustrar sonhos maiores na política. Por se tratar de proposta de emenda à Constituição, a medida precisa passar por dois turnos de votação no plenário da Câmara e do Senado com maioria de 3/5 de cada casa, o que corresponde a 308 deputados e 49 senadores.

Com o calendário eleitoral se sobrepondo à agenda econômica, dificilmente o governo conseguirá dar maior tração à PEC 287/2016, que chegou a estar perto de ser votada em primeiro turno pelos deputados quando a revelação de áudio de conversa mantida pelo empresário Joesley Batista com o presidente Michel Temer implodir os planos do governo. De quebra, além de congelar a reforma da Previdência, que desapareceu dos discursos da base governista no Legislativo, o episódio colocou o peemedebista na condição inédita de presidente denunciado. Na primeira vez, a flechada do ex-procurador Rodrigo Janot saiu do arco perigosa, mas chegou ao parlamento sem ponta. Agora, Temer responde a uma segunda denúncia, que marcou a última flechada do então PGR no comando da instituição. A narrativa apresentada é mais consistente, mas o peemedebista corre poucos riscos e ainda opera com os deputados para evitar uma “zebra”.

Embora ofereça poucos riscos ao governo, a segunda denúncia contra o presidente impossibilita a Câmara de discutir temas maiores, como a reforma da Previdência, além de oferecer fatos novos que tornam mais caro o apoio a Temer — cotação também sujeita ao calendário eleitoral. Quanto mais tempo o presidente demorar para se livrar da nova peça, menores as chances de fazer avançar qualquer reforma da Previdência até o fim do ano. A despeito da boa vontade dos presidentes da Câmara e do Senado com a medida, não há sombra de apoio suficiente para êxito governista.

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“Outras pautas devem ficar suspensas no Congresso enquanto durar a novela da denúncia contra Temer. Para a Previdência, há que se analisar o placar, o timing e a situação da base ao final do processo, bem como se o governo terá munição e autoridade suficientes para voltar com o tema”, observou a equipe de análise política da XP Investimentos.

Até o momento, o que há em termos de reforma da Previdência são orações do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. O episódio virou motivo de piada no meio político, com parlamentares ironicamente se solidarizando a compor a corrente de fé, mas não de colocar as digitais em um projeto tão custoso, sobretudo a um ano da disputa nas urnas. Uma avaliação quantitativa dos discursos proferidos no parlamento e nas redes sociais por deputados e senadores sobre reforma previdenciária durante o ano indica o arrefecimento do tema. A situação piora quando se observa o teor das falas. Poucos parlamentares se aventuram a ocupar a tribuna para defender a medida.

Como não há nada ruim que não possa piorar, as pesquisas de avaliação do governo trataram de dar os últimos golpes sobre os pontos ainda pendentes da agenda de reformas. Nesta quinta-feira, foi divulgado o novo levantamento CNI/Ibope, com o quarto trimestre de queda na popularidade de Michel Temer e a renovação do recorde histórico de desaprovação. Segundo a pesquisa, 3% dos entrevistados consideram a gestão do peemedebista ótima ou boa, contra 5% registrados em julho. O percentual dos brasileiros que consideram o atual governo ruim ou péssimo saltou de 70% para 77%, segundo a pesquisa. Já os que consideram a gestão regular caíram de 21% em julho para 16% no último levantamento.

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Nem mesmo nas comparações com a ex-presidente Dilma Rousseff o peemedebista se saiu bem. O percentual dos que avaliam o governo de Temer pior saltou de 52% para 59%, ao passo que 8% consideram melhor — em julho, o percentual era 11%. Quanto às perspectivas para o restante do mandato de Temer, o percentual dos brasileiros que esperam uma gestão ruim ou péssima subiu de 65% para 72%, enquanto o percentual dos que apostam em um restante de mandato ótimo ou bom oscilou de 9% para 6%.

Se depender dos gráficos da série histórica da recente pesquisa, a Reforma da Previdência passará longe dos parlamentares:

Ao plenário, com ou sem votos

Nos bastidores, uma ala aliada do governo defende que a medida precisa ser levada a votação em plenário mesmo que não se tenham votos para aprová-la. Essa é a posição defendida pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), que, em entrevista ao portal Poder360 em junho, disse que, se a PEC não fosse aprovada o governo construiria outra solução. Na pior das hipóteses, reuniria um conjunto de propostas para equacionar a questão previdenciária e as encaminharia ao sucessor. A estratégia do all in pode não ter a eficácia desejada, mas poderia funcionar como elemento retórico dos governistas ao mercado, em uma espécie de “Tentamos”.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.