Os desafios – nada triviais – de Dilma Rousseff após a sua reeleição

Dilma terá que se reconciliar com a sua própria base aliada e adotar medidas para a retomada do crescimento econômico - mas tendo que enfrentar um 2015 bastante duro

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A presidente Dilma Rousseff (PT) está comemorando a sua reeleição desde domingo (26), quando ganhou de Aécio Neves (PSDB) por 51,6% contra 48,4% do tucano. 

Porém, não vai haver muito tempo para comemorar, em meio aos desafios que o seu novo governo terá em 2015 – e que já vem se refletindo neste ano. Recuperar a confiança do empresariado, retomar o crescimento – e também há a questão da governabilidade. 

De acordo com a análise da LCA Consultores, não são triviais as dificuldades de ordem política que a presidente Dilma terá de enfrentar após ter conquistado legitimamente o direito de continuar a comandar o governo federal por mais quatro anos.

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“A vitória apertada nas urnas não parece representar um problema; ao contrário, pode até trabalhar a favor, caso tenha sido absorvida como sinal de alerta e incentivo à correção de rumos na economia e na política”, afirma a consultoria.

As dificuldades começam pelo revigoramento da oposição, afirma a LCA: o PSDB saiu da eleição mais aparelhado para combater programaticamente o PT e, por conta do jogo bruto da campanha, muito provavelmente, mais disposto a marcar sob pressão o novo governo.

Os problemas também atingem a base aliada: os conflitos passados e outros que surgiram nesta eleição, especialmente com o PMDB, exigirão cuidadoso trabalho de reparação de danos por parte dos operadores políticos do governo. Além disso, a fragmentação do Congresso também imporá mais dificuldades à relação do Planalto com a Câmara e o Senado.

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Soma-se a isso o andamento da operação Lava Jato, que promete provocar muita ebulição no próximo ano: a depender de quão perto as denúncias chegarem do ex-presidente Lula e da presidente Dilma – ou do financiamento de suas campanhas –, o clima político poderá azedar de vez.

E, segundo a consultoria, agitar a bandeira da reforma política, como fez neste domingo, não ajudará Dilma a enfrentar esses problemas. Para eles, a reforma política, por certo, é uma demanda crescente da sociedade. Porém, ao menos até o momento, não se traduz em medidas concretas. “A reforma política mais divide do que une os partidos. E mobilizar um plebiscito para tratar do assunto em meio a um ambiente político conturbado pode ser bastante conturbado”. Vale ressaltar que, logo após a reeleição da presidente, a Câmara já impôs a primeira derrota a ela, após votação anular o decreto da Política Nacional de Participação Social.

“Em seu discurso no domingo à noite, a presidente Dilma afirmou que está mais madura, preparada e serena para enfrentar o segundo mandato. Precisará mesmo de muita maturidade, preparo e serenidade, pois a tempestade perfeita que ameaçou a economia este ano e acabou se dissipando, pode desabar sobreo Planalto em 2015 sob a forma de crise política”, afirma a consultoria LCA.

Choque de credibilidade
Em editorial na edição da última terça-feira (28), o jornal britânico Financial Times destacou o que Dilma precisa fazer. Para a publicação, “o Brasil precisa desesperadamente de um choque de credibilidade”.

“Dilma Rousseff deve agora traçar um novo curso para um país dividido que sofre de desaceleração da economia em meio a um ambiente global cada vez mais difícil. A necessidade de mudança é urgente”, afirmou.

Para a publicação, a presidente reeleita tem que fazer esse choque de modo a retomar a confiança do sul do País, que votou em peso a favor do seu adversário nas eleições de domingo. O FT disse que, sem o apoio da região, “há pouca esperança de alcançar o maior investimento que o Brasil precisa”.

A receita para isso é extensa, mas consiste como medida mais urgente nomear um novo ministro da Fazenda “com estatura e autonomia suficientes para resolver os problemas econômicos do Brasil”. “Se ela não o fizer, os mercados financeiros irão forçar um ajuste. Os investidores não estão dispostos a dar o benefício da dúvida”.

Em matéria do blog Beyond Brics, do FT, a publicação fez recomendações para Dilma em seu novo mandato. Reequilíbrio fiscal, estabilização dos fundamentos macroeconômicos em meio ao cenário de crescimento baixo e inflação alta, fechamento dos gargalos de infraestrutura, melhorar a qualidade da educação e aumentar o comércio internacional são alguns dos compromissos que a presidente deveria assumir.

Assim, Dilma também terá que delegar mais e ser menos centralizadora, além de adotar medidas impopulares no início para retomar a estabilidade macroeconômica. Assim, após a comemoração, Dilma terá que retomar rapidamente os trabalhos para ter um início de segundo mandato mais tranquilo. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.