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SÃO PAULO – Em matéria publicada na última segunda-feira, o jornal britânico Financial Times destacou “o ambicioso plano de privatização de US$ 14 bilhões” anunciado pelo governo Michel Temer na semana passada. De acordo com a publicação, a proposta de venda de ativos é bem vinda, inclusive em meio à necessidade de ajuste fiscal. Contudo, as medidas – que incluem a privatização da Eletrobras – enfrentam alguns obstáculos.
O primeiro obstáculo é o tempo. Segundo aponta o FT, Temer tem pouco tempo já que as eleições presidenciais são em outubro do próximo ano – e muitas das vendas propostas são bastante complexas. O mesmo acontece com alguns dos outros 57 ativos, que incluem rodovias, portos e aeroportos.
Um segundo problema são os motivos fiscais urgentes para a privatização, ressalta o FT, lembrando da rigorosa PEC do teto de gastos, que congelou as despesas do governo em termos reais por vinte anos. “A aprovação foi boa na teoria e reforça a promessa do governo de voltar a assumir o controle da dívida nacional. O problema reside na prática. A recessão reduziu as receitas e os ajustes que Temer planejou, como os que seriam promovidos com a reforma da Previdência, não aconteceram. Como resultado, o déficit orçamentário é agora de 9% do PIB. O processo de privatização ajudaria a preencher essa lacuna. Mas é uma economia pobre usando vendas de ativos para cobrir as despesas correntes”, aponta a publicação.
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Um terceiro problema é a falta de apoio popular de Temer, diz o FT, que lembra que ele tem uma aprovação de apenas 5%. O sentimento de desconfiança com o presidente se soma ainda ao fato dos brasileiros geralmente desconfiarem das privatizações. “O ceticismo público sobre a campanha de privatização, já captado pela oposição e contando com a contrariedade dos sindicatos, poderia impulsionar o Brasil numa direção populista nas eleições de 2018. Mas ninguém sabe com certeza”, afirma o jornal.
Para o Financial Times, Temer e sua equipe econômica têm feito importantes progressos na estabilização da economia brasileira e a sua campanha de privatização parece projetada para mostrar que ele quer levar isso a cabo (inclusive enfatizando o programa em viagem à China nesta semana). Se também impulsionar o mercado de ações do Brasil, melhor ainda, diz o jornal. “Em um ciclo virtuoso, fortaleceria a sua posição no setor empresarial local, expandindo suas chances de sobrevivência política e, portanto, aumenta a chance de mais reformas”, diz a publicação.
Contudo, as barreiras práticas e políticas são grandes. E, embora as crises muitas vezes ajudem a promover reformas difíceis, elas também podem sabotá-las de maneiras inesperadas, diz o FT. Assim, alerta o jornal britânico, os grandes anúncios como este, por mais bem-vindos que sejam, precisam ser vistos com uma grande dose de cautela.
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