Os 2 eventos desta quinta que podem definir (de vez) o rumo do Dilma II

Está começando a guinada à esquerda do governo? Dilma defenderá união contra a crise? O Copom sinalizará que pode subir juros ou manterá o tom "dovish" da ata? Boa parte destas perguntas pode ser respondida em breve...

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Além das repercussões sobre a última reunião do Fomc (Federal Open Market Committee), o noticiário econômico brasileiro trará bastante expectativa aos mercados locais na quinta-feira (28). 

E isso por dois motivos principais: a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o “Conselhão”, onde serão discutidas medidas para a reativação da economia, além da ata de uma das reuniões mais conturbadas dos últimos tempos do Copom (Comitê de Política Monetária); o documento será divulgado às 8h30 (horário de Brasília). Na última reunião, o Comitê manteve os juros em 14,25% ao ano, após praticamente dois meses de indicações de que iria subir os juros e mudando o seu viés apenas na véspera da decisão, ao comentar o relatório do FMI (Fundo Monetário Internacional). 

Estes dois eventos podem dar uma grande indicação sobre os próximos passos do segundo governo Dilma II e da equipe econômica, o que pode sinalizar uma guinada à esquerda na economia com novas medidas para estimular a economia em meio às pressões da base aliada, ou uma manutenção do discurso pró-ajuste fiscal e de continuidade da “vigilância” com relação à inflação. 

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Sobre a ata do Copom, os analistas de mercado ouvidos pela Bloomberg esperam que o BC mantenha a porta aberta à alta da Selic, mesmo tendo que fazer “adaptações” no conteúdo após o tom “dovish” da decisão da semana passada. “A ata vai ter elementos dovish, mas o BC vai ter de manter a porta aberta para altas de juros”, diz Rodrigo Melo, economista-chefe da Icatu Vanguarda Administracão de Recursos, ressaltando que um eventual alívio no cenário externo ou uma piora adicional das expectativas de inflação aumentarão a chance de BC elevar a Selic.

Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor da Modal Asset, reforça a ideia de que a ata não deve fechar as portas para uma alta da Selic e que o BC vai tentar “amenizar” a perda de credibilidade após o Copom. 

Porém, destaca o economista-chefe do Haitong, Jankiel Santos, se o BC abandonar totalmente qualquer possibilidade de alta da Selic,  as expectativas de inflação podem ter piora adicional. 

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Apesar da possível mudança do tom do BC na ata, a LCA Consultores reforça: o cenário externo não parece ter se alterado, ao contrário do que sugere o Copom. “Os focos externos de incerteza [como Fed e China] já estavam evidentes desde o começo do ano passado; e, em nossa avaliação, não sofreram nas últimas semanas um recrudescimento significativo ao ponto de justificar a decisão do Banco Central de desarmar o ajuste monetário que ele mesmo vinha sinalizando com veemência”, afirmam os economistas da consultoria.

A LCA ressalta que uma nova rodada de alta da Selic no primeiro semestre deste ano não pode ser descartada mas, dado o conteúdo do comunicado de política monetária publicado na semana passada, possuem um cenário em que o Banco Central mantém a Selic estacionada nos atuais 14,25% ao ano.

“O conteúdo da ata do Copom colocará a teste essa hipótese: se o Banco Central, por exemplo, afirmar que apenas adiou o ajuste e reforçar seu comprometimento com a adoção ‘das medidas necessárias’ para trazer a inflação ao teto da meta em 2016 e ao centro da meta em 2017, uma nova rodada de elevação da Selic voltará à cena. Mas, dadas as declarações recentes das autoridades monetárias, esse cenário não parece preponderar”, conclui. Vale destacar que a decisão do Copom gerou temores sobre interferência do governo na atuação do BC. Assim, dependendo da ata, essa hipótese pode ser reforçada ou dirimida. 

Conselhão
O mercado também seguirá atento à primeira reunião do Conselhão do ano: embora a intenção do governo seja ouvir as sugestões dos conselheiros, o formato da primeira reunião, após a reativação do órgão, prevê que pelo menos cinco ministros façam apresentações, além da própria presidente Dilma Rousseff.

 O discurso de Nelson Barbosa, titular da Fazenda, é o mais aguardado devido à possibilidade de anunciar medidas econômicas para salvar o país do momento de retração atual. 

Conforme informa o jornal O Estado de S. Paulo, o governo está cauteloso em relação aos discursos, pois não quer que se crie expectativa de que a reunião seja feita para fazer anúncios. Contudo, o ministro da Fazenda deve anunciar a liberação de cerca de R$ 50 bilhões em linhas de crédito do Banco do Brasil, BNDES e Caixa (incluindo recursos do FGTS) no esforço para a retomada dos investimentos e do crescimento da economia. O governo também usará a reunião para anunciar a ampliação de linhas do BNDES para financiar o “pré-embarque” dos exportadores, que são linhas que apoiam a produção de bens e serviços destinados à exportação.

Na terça, Dilma se reuniu com oito ministros para discutir os preparativos para a reunião, entre eles, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Ela pediu que o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro Neto, dê as linhas gerais sobre ações que o governo pretende concentrar este ano no âmbito das exportações, no intuito de retomar a economia. O ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Valdir Simão, falará aos conselheiros sobre a reforma administrativa que vem sendo conduzida pelo governo para eliminar gastos públicos. Também estão previstas as falas da ministra da Agricultura, Kátia Abreu, e do ministro da Saúde, Marcelo Castro, que prepara material sobre o combate ao mosquito transmissor do vírus Zika, que pode causar microcefalia em bebês.

Temas como a reforma da Previdência e a possibilidade de uso do FGTS |(Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) como garantia para empréstimo consignado de trabalhadores também poderão ser propostos por Nelson Barbosa como temas a serem discutidos no colegiado. Ele também pretende fazer um balanço da sua participação na semana passada no Fórum Econômico Mundial, na Suíça. A ideia é que após o encontro desta quinta, o Conselhão crie grupos temáticos para receber as colaborações de forma mais sistematizada.

Além disso, uma das grandes expectativas é de que a presidente, durante a reunião do Conselho, faça acenos à oposição, conforme informa o jornal O Globo. “Há uma série de nomes citados por pessoas próximas à presidente com quem ela poderia iniciar esse diálogo. Entre eles, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os governadores tucanos Beto Richa (PR) e Geraldo Alckmin (SP)”. 

Assim, vale ficar atento aos dois eventos: o BC colocará por terra novas altas de juros ou sinalizará que pode elevar a Selic? Novas medidas serão adotadas pelo governo para estimular a economia ou haverá cautela para anunciar novas medidas? Estes movimentos devem ser observados com atenção pelo mercado.

(Com informações da Agência Estado, Agência Brasil e Bloomberg)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.