Os 10 problemas não solucionados no Brasil faltando 10 dias para a Copa do Mundo

Obras inacabadas, segurança, ameça de greve foram problemas não solucionados para a Copa no Brasil, mas não devem ameaçar realização do evento

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A apenas dez dias da Copa do Mundo no Brasil, o povo brasileiro ainda mostra uma certa desconfiança com a realização do evento.

Além do alto custo da Copa, que muitos dizem que poderiam ser canalizados para áreas da saúde e educação, obras inacabadas e problemas de segurança são algumas das questões que desanimam a população nacional. 

Enquanto muitas manifestações abalam o status quo do evento, assim como as ameaças de greve de importantes categorias, o problema energético não foi solucionado para a Copa, apesar de não representar uma ameaça para a realização do evento. Confira 10 problemas enfrentados pelo Brasil há 10 dias da realização da Copa:

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1. Obras e mais obras inacabadas 
Há poucos dias da Copa, muitas obras ainda estão inacabadas. Como ressalta matéria do Estado de S. Paulo, o estádio de abertura do evento – Arena Corinthians, ou o popular Itaquerão – ainda está em fase de realização de evento teste. Espera-se que pelo menos metade das obras prometidas para o evento não seja concluída até o dia 12, primeiro jogo da Copa entre Brasil e Croácia, enquanto muitas serão entregues parcialmente. 

As obras inacabadas não se tratam somente de estádios, mas também de mobilidade urbana. Um dos casos emblemáticos é Fortaleza, que tem seis obras de mobilidade urbana, mas apenas duas – dois corredores de ônibus – ficarão prontas para o evento. 

Os aeroportos também são um problema. As obras em Confins, em Minas Gerais, nem as do Galeão e as de Cuiaba ficarão prontas. Porém, o governo destaca que não haverá caos em saguões e terminais. Aliás, a presidente Dilma Rousseff inaugurou a nova área de embarque internacional do terminal 2 do Aeroporto Internacional do Galeão, na Ilha do Governador, na zona norte do Rio. A reforma dos terminais 1 e 2 do Galeão custou R$ 354,75 milhões de reais, segundo a Infraero, mas está inacabada e não ficará pronta para a Copa. 

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Em meio a tantas obras inacabadas, dois publicitários gaúchos se inspiraram a discutir o tema de forma irreverente. Fernando Leite e Eduardo Menezes estão dando o que falar com o site “Não vai sair, parece”, que nada mais é uma galeria de notícias que mostra o que o governo prometeu – e não cumpriu – para a Copa, fazendo uma contagem regressiva do evento. A cada dia, o site é atualizado com novas matérias sobre o tema, que são confrontadas com aquelas publicadas a partir de 2007.

2. Risco de racionamento 
Apesar do governo negar que haja risco de racionamento de energia, e que ele é seis vezes menor do que em 2001, quando houve diversos “apagões”, a verdade é que a situação para o setor elétrico está complicada. 

O governo evita falar em um racionamento e diz que não iniciará campanha de economia de energia mas, com as chuvas de verão decepcionando, o cenário é de pressão para o setor. No início de abril, o banco Safra destacou acreditar que o Brasil corre um sério de risco de racionamento, mas que ele pode vir só no final do ano, o que asseguraria energia até o evento esportivo. Vale ressaltar que, no início de março, o banco Brasil Plural destacou que a chance de ocorrência de um racionamento de energia ainda este ano era total e que seria inevitável que ele ocorresse. 

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Já a consultoria PSR,  uma das principais consultorias do setor elétrico do País, chegou a recomendar que o Brasil implementasse um racionamento de 8% da demanda de energia entre maio e novembro deste ano, o que até agora não ocorreu. Sem o racionamento de energia, a pressão aumenta posteriormente e a conta pode chegar mais alta para os consumidores. 

Enquanto isso, a falta de chuvas no País também afeta o nível dos reservatórios. O nível do Cantareira, que abastece a maior parte da Grande São Paulo, tem registrado sucessivas quedas e foi necessária a utilização do chamado “volume morto” – reserva armazenada abaixo dos pontos de captação. Mesmo assim, desde o início da captação há 15 dias, o volume das reservas registra baixas. No último domingo, o índice caiu mais 0,2 ponto percentual na comparação com sexta-feira e chegou a 24,8% de sua capacidade. Na última quarta-feira, o diretor metropolitano da Sabesp (SBSP3), Paulo Massato, disse que “nós vamos distribuir água com canequinha”, se uma crise maior ocorrer no próximo verão. Neste cenário, percebe-se os riscos de falta de água e energia durante o evento não são desprezíveis.

3. Segurança: estrangeiros recomendam usar “bolsa do ladrão”
A segurança tem sido reforçada para a realização do Mundial, como destacam os ministérios da Justiça e Defesa. Eo próprio governo brasileiro divulgará uma cartilha com recomendações sobre como os estrangeiros deverão agir em caso de serem vítimas de assalto ou roubo: “não reaja, não grite e não discuta” estão entre as principais recomendações.

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Mesmo assim, em meio aos conhecidos problemas de segurança do Brasil, os próprios países que terão suas seleções participando do evento fazem as suas recomendações. O governo alemão, por exemplo, além de pedir que o turista não resista, ainda aconselha levar o “dinheiro do ladrão” em caso de assalto. Alemães também aconselham nunca deixar suas bebidas sozinhas ou com estranhos.

Os norte-americanos também têm as suas recomendações. Eles afirmam que, caso um turista pareça perdido ou tendo problemas de comunicação, uma oferta aparentemente inocente dada por uma pessoa pode ser um esquema criminoso. Os franceses, por sua vez, têm recomendação parecida com a dos alemães: tenha sempre a “carteira do ladrão” em caso de assalto. 

4. Preços exorbitantes: mais repasses à vista
Um dos problemas que tanto os turistas quanto os locais que quiserem acompanhar a Copa será lidar com os preços exorbitantes, principalmente dentro dos estádios. 

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Uma cerveja valerá no mínimo R$ 10, enquanto que um cachorro-quente custará o mesmo preço, de acordo com tabela de preços divulgada pela Fifa para ser praticado dentro dos estádios. A água custará R$ 6. Vale ressaltar que, na Copa das Confederações de 2013, também realizada no Brasil, houve muitas reclamações sobre os valores e os serviços prestados. Bebidas mal refrigeradas e comidas pouco atrativas eram algumas das principais reclamações, contrastando com os altos preços. 

Enquanto há pressão dentro dos estádios, pelo menos há um certo alívio caso algum turista de última hora queira ir aos jogos. Os preços das diárias de imóveis alugados por temporada no Rio estão 25% mais baratos do que os praticados no início deste ano, de acordo com estudo feito pelo Creci-RJ. Enquanto os estrangeiros fizeram reservas há mais de um ano, brasileiros deixaram para o último momento. 

5. Novos protestos abalam status quo do evento
Cerca de um ano após as manifestações de junho de 2013, novos protestos estão no radar e, mais uma vez, os Black Blocs chamam a atenção e também ganham destaque na mídia internacional.

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Uma matéria do Global Post, por exemplo, explicou quem são os “anarquistas” algozes da Copa, em referência aos Black Blocs, que ganhou destaque por insurgir contra a polícia e causar tumultos durante as manifestações.

De acordo com a reportagem, a polícia alega que os militantes formam um grupo extremista, enquanto a imprensa local tem publicado denúncias alegando que os Black Blocs são financiados por estrangeiros com a intenção de estragar o momento de glória da nação. Porém, em declarações ao Global Post, um veterano do movimento afirmou que o Black Bloc não é exatamente uma organização. Pelo contrário, eles não têm liderança, mas afirmou estão com raiva e determinados a levantar o inferno.

O veterano, chamado de AM, explicou ao jornal que está irritado com os gastos de US$ 11 bilhões na Copa do Mundo, enquanto o Brasil se defronta com diversas deficiências no campo da educação e saúde. “A crise é mundial. As pessoas estão vendo que a democracia representativa não representa ninguém – seja no Brasil, Londres, na Grécia ou em qualquer lugar. Quando as pessoas vão para as ruas, elas se tornam atores políticos”, ressaltou.

6. População está descontente com o evento
Mas não só os Black Blocs que mostram descontentamento com o governo. Além de grupos sindicais e movimentos de trabalhadores sem terra e sem teto, a população em geral também mostra descontentamento com o evento. 

Reportagem da Bloomberg destaca que, este ano a Copa não está animando tanto os brasileiros. “Murais aparecem em paredes, cartazes e bandeirolas são pendurados em postes de luz e as ruas mostram mensagens pedindo ao maior vencedor na história do esporte a conquista de mais um título. Contudo, olhe ao redor na Cidade Maravilhosa, a somente 15 dias do começo da Copa, e você achará poucos sinais do ambiente típico de Copa no Rio.”

A reportagem destaca que o futebol é paixão no Brasil e, quando o País obteve a oportunidade de sediar a Copa do Mundo em 2007, milhares de pessoas saíram às ruas para celebrar. Desde então, o ânimo azedou, pois o maior país da América do Sul passou por dificuldades com os preparativos, em meio à indignação pública com o custo de US$ 11 bilhões, ressalta. 

“Turistas: não fiquem doentes. Temos estádios, mas não hospitais”, dizem grafites em frente ao hospital Pedro Ernesto, que fica a somente 800 metros do estádio Maracanã. Até mesmo loucos por futebol destacam que sediar o evento não foi uma boa ideia, mostrando que o País deveria estar mais preocupado com a saúde e o crime do que com fazer uma Copa. 

Segundo o Datafolha, em São Paulo, a população está bem dividida: 45% estão a favor do evento e 43% são contra, enquanto 10% mostram indiferença. 

7. Questão de saúde: Dengue e sarampo ameaçam
Às vésperas da Copa, a possibilidade de surtos de sarampo e dengue preocupa o Ministério da Saúde. Controlada no Brasil, o sarampo voltou a aparecer, principalmente no Nordeste. Em 2014, cerca de 190 casos já foram confirmados até o início de maio. 

Enquanto isso, apesar de não haver ocorrências importantes de dengue no período mais frio, a doença também preocupa. De acordo com um estudo publicado em uma revista britânica, Natal, Fortaleza e Recife têm mais chances de epidemia. Vale ressaltar ainda que larvas do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, foram descobertas ao redor do gramado e também próximo às traves do estádio Mané Garrincha, em Brasília, uma das 12 sedes da Copa do Mundo, conforme apontou o site da revista Veja. 

Mas, conforme aponta o jornal baiano O Tempo, sintomas parecidos com a da dengue são os da febre chikungunya, transmitida pelo mesmo mosquito, e que já acontece na África, Ásia e Europa. Alguns epidemiologistas afirmam que a chegada da doença no Brasil é inevitável: a Copa apenas potencializa o risco da febre chegar no País. Enquanto isso, Manaus concentra alguns riscos adicionais, com febre amarela e malária. 

8. Risco de conectividade
Além dos problemas de mobilidade urbana e dos aeroportos, também há riscos de conectividade, que é tão conhecida entre os brasileiros na Copa do Mundo. Há um grande risco de internet e celular terem falhas nos estádios.

Isto pode acontecer em pelo menos seis estádios da Copa, pois equipamentos não foram instalados em tempo para a realização dos testes necessários de modo a oferecer um serviço de qualidade. Para sindicatos de empresas de telecomunicações, a cobertura não ficará completa nos estádios. 

9. Greves durante o evento
Nas últimas semanas, policiais de algumas cidades e trabalhadores que prestam serviços de transportes paralisaram e levaram o caos para essas regiões. E estes movimentos não devem parar. No mês da Copa, o Brasil está com pelo menos 40 movimentos grevistas, que vão desde o transporte, policiamento e até a educação, serviços estes essenciais. 

Em meio ao momento de maior visibilidade internacional e coincidência com datas-base de trabalhadores, os governos de municípios e estados têm enfrentado maiores dificuldades para lidar com as reivindicações dos trabalhadores. Porém, mesmo com muitos transtornos que uma possível continuidade das greves durante o evento acarrete, especialistas destacam que eles não devem impedir a realização do evento. Isso porque o governo dispõe de planos de contingência para lidar com os problemas. 

10. Benefícios superam custos ou vice-versa? 
Este não é exatamente um problema que não foi resolvido, mas também é algo que deve ser levado em conta. Enquanto acredita-se que o País não será impacto significativamente em seu crescimento pelo evento, por outro, os custos da Copa podem ser altos.

Estima-se um custo de cerca de R$ 25,8 bilhões para a realização da Copa, enquanto ela deve causar pouco impacto econômico, conforme apontou a agência de classificação de risco Moody’s. A competição deve gerar apenas 0,4% do crescimento do PIB no período de dez anos. Os gastos com infraestrutura representam apenas 0,7% do total de investimentos previstos para o período entre 2010 e 2014. 

Em entrevista ao Financial Times no final de março, a analista Barbara Mattos destacou que a economia brasileira é muito grande  assim, por causa da curta duração da Copa do Mundo e porque os investimentos são concentrados em algumas cidades e estados, o impacto não é tão grande. Vale ressaltar que isso ocorre num cenário em que a economia brasileira anda a passos bem lentos. Após um fraco crescimento no primeiro trimestre de 2014, de apenas 0,2%, alguns casas de análise já revisaram as perspectivas do PIB deste ano para baixo, para cerca de 1,5%. Assim, um impacto positivo da Copa seria bem vindo, mas não deve ser o que acontecerá. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.