O tempo para Temer parece curto, mas teremos uma eternidade até 2018, avalia Rio Bravo

Em relatório de estratégia, gestora ressalta pontos positivos e "confusões" do governo interino de Michel Temer

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em relatório de estratégia sobre o mês de maio, a gestora Rio Bravo Investimentos traçou um quadro sobre os primeiros dias do governo interino de Michel Temer, ressaltando os erros e os acertos da etapá inicial. 

A Rio Bravo avalia que, desde que o Senado decidiu pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff no dia 12 de maio, a “política afigura-se bastante mais confusa do que se esperava com Michel Temer ocupando a presidência da República, ao passo que a economia parece tomada por um misto de alívio com ansiedade”. A gestora destaca as duas trocas de ministério, com a saída de Fabiano Silveira (Transparência) e Romero Jucá (Planejamento), além do ressurgimento do ministério da Cultura. 

Os gestores afirmam ser natural que houvesse alguma dificuldade de acomodação das forças políticas após o afastamento da presidente, inclusive com os aliados do PT voltando à sua posição histórica de protagonizar protestos e “atos pirotécnicos”. “O imaginário da ‘resistência’ se manteve vivo, com a inestimável ajuda dos tropeços administrativos e políticos nas primeiras duas semanas, o que ajudou a acentuar a percepção de provisoriedade do novo governo e a reduzir o entusiasmo daqueles que acreditavam que a nova administração pudesse começar de forma retumbante, enfunado pelas novidades na economia”, ressaltam.

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Por outro lado, eles apontam que as escolhas presidenciais para a equipe econômica foram imensamente bem recebidas pelos mercados. “Com efeito, as indicações para a Petrobras (Pedro Parente) e BNDES (Maria Silvia Marques) ultrapassaram as melhores expectativas, sem desdouro para os escolhidos para a Fazenda e o Banco Central, pois já se esperava que viessem nomes como os de Henrique Meirelles e Ilan Goldfajn, respectivamente. Os indicados para o segundo escalão também vêm mantendo um padrão muito bom, caracterizando um upgrade muito grande e muito bem-vindo relativamente aos ocupantes anteriores dessas mesmas posições”, afirmam os gestores.

Para eles, os primeiros sinais foram bons, mas apenas um anúncio relevante de medidas teve lugar, “uma combinação meio heterogênea de iniciativas não pode ser tomada senão como um aperitivo do que virá a seguir”. Entre as medidas, a Rio Bravo destaca a extinção do Fundo Soberano e a devolução das transferências que o Tesouro fez ao BNDES em valores acumulados que ultrapassaram R$ 500 bilhões. O anúncio foi que R$ 100 bilhões seriam devolvidos em três tranches, o que deve levar a uma economia de R$ 7 bilhões anuais, “muito relevantes”. Sobre os obstáculos burocráticos, a Rio Bravo ressalta que “é curioso que uma operação que foi questionável na ida seja questionável na volta”. A terceira medida ressaltada foi a mudança de meta para um déficit primário de R$ 170 bilhões. “Na verdade, não se deve entender este número como uma ‘meta’, mas como uma estimativa realista do que ocorrerá uma vez mantidas as coisas como estão, ou o legado fiscal recebido por Michel Temer de Dilma Rousseff”, ressalta.

Para a Rio Bravo, não se deve subestimar a importância política de bem estabelecer a herança recebida uma vez que, ao divulgar a inteira extensão dos problemas recebidos, os novos ocupantes dos postos chave da economia livram-se da paternidade de problemas criados pela administração anterior. “E a responsabilidade pelos desmandos na economia é central para o julgamento que está correndo no Senado Federal”, afirma.

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Além disso, Meirelles anunciou apoio ao governo a dois projetos que nasceram no Congresso: mudança nas regras do pré-sal e lei da responsabilidade fiscal das estatais. “Em ambos os casos, o patrocínio do governo significará que os projetos poderão ganhar novas direções na fase final de sua tramitação, fenômeno que se espera que ocorra também com o já longo e tortuoso processo de renovação da DRU (Desvinculação de Receitas Orçamentárias)”, afirmam os gestores. A principal novidade foi ainda a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) com intuito de limitar o crescimento da despesa primária total. 

A gestora ressalta que a atmosfera parece favorável para o encaminhamento de temas fiscais difíceis, inclusive os associados à previdência. Sugere-se, com isso, refletir uma ampliação de horizontes que acha expressão na melhora significativa nos índices de confiança referentes ao mês de maio relativamente a abril. 

A Rio Bravo reforça que muita coisa aconteceu na esfera política, afirmando que as revelações na economia e os novos andamentos propostos pela nova equipe dificilmente darão muito alento à presidente afastada. “Seus apoiadores continuarão barulhentos e intrusivos, papel que sempre souberam desempenhar, e serão instrumentais para lembrar ao presidente interino que ele não vai trabalhar com consensos, mas com escolhas que sempre terão adversários e minorias desagradadas”, destacam os gestores.

Eles reforçam que o governo precisa recuperar a turbina da economia, que vinha bastante danificada, afirmando ser provável que esteja caminhando na direção certa, a julgar pelos seus primeiros movimentos. “Subitamente, há um enorme horizonte de possibilidades, como há muito não se via. Uma vez interrompida a escalada recessiva, o presidente ganha muitos graus de liberdade na esfera política e pode compor seu apoio no parlamento com menos recurso à lógica de loteamento do ministério. O tempo parece curto, mas, a julgar pelos últimos 15 dias, temos uma eternidade até as próximas eleições presidenciais em 2018, onde tudo pode acontecer, inclusive, e com boa chance, uma recuperação na economia”, concluem.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.