O que pode acontecer com Dilma? Barclays traça 3 cenários para o labirinto político

De acordo com o Barclays, há três cenários para a presidente: continuar no poder até 2018, sofrer impeachment ou ter a chapa cassada pelo TSE; confira o que muda em cada um dos cenários

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em meio ao cenário de crise no Brasil em diversas frentes, o Barclays publicou uma análise sobre quais são as alternativas para o País, em relatório chamado “Labirinto Político”. 

De acordo com o Barclays, há três cenários para a presidente Dilma Rousseff: 1) a presidente Dilma Rousseff consegue se manter no poder até as eleições de 2018; 2) a presidente sofre impeachment, levando o vice-presidente assumir o poder; ou 3) há a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para anular as eleições presidenciais do ano passado devido a irregularidades campanha, o que leva a novas eleições.

A partir daí, entre as diversas hipóteses que cercam o cenário político, como quem seria o novo presidente caso fossem convocadas novas eleições, se a Lava Jato trará novas revelações e/ou se o governo conseguirá consenso sobre a agenda econômica, entre outros elementos. 

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Com tantos cenários intrincados, há três consequências principais: uma melhora da dinâmica política, um cenário de “empurrando com a barriga”, com a política se arrastando até 2018 e, por fim, uma deterioração ainda maior.

“Vemos um cenário de que a presidente se ‘arrasta’, agarrando-se ao poder como o resultado mais provável, mesmo com a deterioração econômica mais acentuada.

O relatório do Barclays aponta que a elevada fragmentação da oposição  e muitas incertezas jurídicas fazem um impeachment menos provável. Da mesma forma, o cancelamento sem precedentes de uma eleição federal também parece um risco marginal. O problema, então, implica na perspectiva econômica difícil, e o cenário de dificuldades para aprovação de medidas reformistas. A expectativa fica pelos esforços e pela aprovação destas na melhor das hipóteses.

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Enquanto a saída de Dilma do poder poderia, a princípio, abrir portas para cenários mais construtivos, a situação provavelmente tende a piorar antes de ser criada uma situação melhor, mais construtiva”, avalia o banco, que ressalta que as perspectivas para o País continuarão obscuras por algum tempo.

Conforme destacam os economistas Bruno Rovai e Alejandro Grisanti, um impeachment não levaria necessariamente a um bom cenário, uma vez que o Congresso precisa aprovar as reformas. Além disso, no curto prazo, a incerteza seria maior.

Sucesso agora se prova o fracasso
No relatório, os economistas observam ainda que o que levou ao sucesso econômico brasileiro, ao levar os pobres a formarem a nova classe média, também causou uma grande resistência para que se mudasse o modelo econômico, baseado no consumo.

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“A atual recessão econômica sublinhou a falta de sustentação de largos programas de transferência e o Brasil parece estar à beira de um precipício econômico. Um agravamento da situação econômica dos brasileiros pode colocar milhões deles de volta à pobreza”, afirmam.

Rovai e Grisanti destacam ainda que, em meio à profunda crise política, o debate se concentra em reformas fiscais isoladas, mas são necessárias mudanças maiores no País. O cenário de alta de gastos sociais se embasa na Constituição de 1988. O viés social da Constituição tem levado a uma ascensão dos gastos do governo em uma média de 0,4 ponto percentual do PIB para cada um dos últimos 25 anos. 

Em meio ao boom econômico que ocorreu, a característica mais notável foi a redução significativa do nível elevado de desigualdade econômica. Porém, este ambiente pode estar ameaçado.

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Os três cenários para Dilma

Cenário I: presidente continua no poder
Conforme destacam os economistas, a capacidade da presidente permanecer no poder também passará pelas condições econômicas dos próximos 12 a 18 meses. E, caso elas se deteriorem, poderíamos passar pelos outros dois cenários.

Caso haja uma queda da atividade muito maior do que a esperada, levando a um descontentamento da sociedade e da classe empresarial, Dilma poderia renunciar. Se isso vier a acontecer, haverá discussões sobre se o vice, Michel Temer, assumiria, ou se seriam convocadas novas eleições.

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Por outro lado, o que seria plausível, o Congresso poderia trabalhar a “favor do País” e aprove as medidas de ajustes.  Isso só aconteceria se houvesse pressão social significativo para tanto. Até agora, a única pressão social é para derrubar Dilma.

Se Dilma permanecer, ela continua assombrada pelas investigações na Petrobras feitas pela Operação Lava Jato. Basicamente, existem duas possibilidades aqui: a primeira é que a investigação não conseguirá progredir além do estágio atual e Dilma pode se perder ainda mais popularidade. 

A segunda possibilidade para Rovai é que as investigações da Petrobras aumentem a sua abrangência com um fortalecimento do Sistema Judiciário independente. Isso cria um cenário insustentável para certos membros do Congresso, notadamente para o presidente da Câmara Eduardo Cunha.

Os analistas também destacam que a crise política é relevante para o rating soberano brasileiro e ela está sendo um grande entrave para reformas estruturais. 

Cenário II: impeachment de Dilma
Para que abra o processo de impeachment, a ser liderado pelo presidente da Câmara Eduardo Cunha, são necessários 342 votos. Se isso acontecer, Dilma tem que se afastar do cargo por seis meses pelo menos até o impeachment ser votado pelo Senado.

Assumindo que o processo seja concluído e Dilma seja impedida, o próximo na linha de sucessão é o vice Michel Temer, que pode assumir ou não. Se, por qualquer razão, ele não assuma o cargo antes do final de 2016, novas eleições seriam convocada. No entanto, se isso acontecer depois de 2016, em seguida, seriam convocadas eleições indiretas, apenas com os membros com direito a voto do Congresso.

Se Temer assumir, nada garante que ele tenha amplo apoio do Congresso. O PT deve ir para a oposição, enquanto outros partidos de esquerda devem fazer o mesmo. Quanto ao PSDB, espera-se que ele se afaste de qualquer coalizão com o PMDB e evitar ser culpado pelo ajuste fiscal. Mas apenas um amplo apoio no Congresso pode fazer com que as condições econômicas melhorem.

E, vale ressaltar, se Dilma for impedida, o vice pode ficar numa posição frágil para conquistar a unidade necessária. A letargia deve se manter, com persistência da incerteza política e econômica.

Os economistas também destacam a divergência na oposição: enquanto uns integrantes do PSDB são a favor do impeachment, outros estão contra. Além disso, o enfraquecimento de Cunha pode afetar as chances de impeachment. Por último, há uma questão sobre se há fundamentos jurídicos em que o processo de impeachment seria baseado.

Cenário III: TSE anula eleições

A última opção seria o TSE anular as últimas eleições com a alegação de que haveria irregularidades no financiamento de campanha da presidente Dilma. Neste quadro, presidente e vice seriam depostos e novas eleições seriam convocadas.

Neste cenário, haveria quatro quadros principais: Aécio Neves (PSDB), Marina Silva (Rede), Lula (PT) e Eduardo Paes (PMDB).

Aécio Neves, que concorreu contra Dilma em uma corrida apertada no ano passado, provavelmente se tornaria o novo presidente nesse cenário. O mercado gostaria disso, na verdade. O PMDB apoiaria PSDB e o PT se tornaria partido de oposição. Mas, dado o envolvimento do último partido na Lava Jato, a sua relevância no Congresso deve diminuir.

Confira os cenários para a presidente Dilma Rousseff (em inglês):

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.