O que está adoecendo o Brasil? Diretor do FMI, Otaviano Canuto aponta 4 fatores

Em artigo para o Project Syndicate, Canuto ressalta que, para o Brasil restaurar um crescimento forte,  o fator-chave será a maior confiabilidade

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em artigo publicado na segunda-feira (15) pelo Project Syndicate, o diretor brasileiro do FMI (Fundo Monetário Internacional), Otaviano Canuto, destacou a pergunta: “o que está adoecendo o Brasil?”

Canuto ressalta que, depois de décadas de rápido crescimento econômico e aumento da renda per capita, o Brasil atravessa momentos difíceis. De acordo com estimativas do Fundo, o PIB  (Produto Interno Bruto) deve registrar uma contração de 7% durante o período 2015-2016. E somente um fator não é suficiente para explicar esta situação, afirma o economista: quatro fatores são necessários para explicar esta situação. 

O primeiro fator é a tendência estrutural de aumento do gasto primário do governo como proporção do PIB, passando de 22% em 1991 para 36% em 2014. “Este aumento reflete uma vontade política de combater a pobreza e a desigualdade que não foram abordados nas décadas anteriores. Para suportar este aumento, o governo brasileiro aumentou os impostos sobre consumo e promoveu um passo para a formalização do mercado de trabalho. No entanto, o investimento público, particularmente em infraestrutura, foi atingido. Na verdade, exceto para o período 2005-2008, o investimento total em percentagem do PIB manteve-se abaixo de 20% desde 1991”.

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Em segundo lugar, está o fim do superciclo de commodities, com a alta dos preços iniciada em 2004 trazendo muitos benefícios para o Brasil: superávit externo, acúmulo de reservas internacionais, efeitos positivos para a renda e maiores investimentos em setores relacionados à exploração de recursos naturais. “Adicionando a este cenário a valorização da taxa de câmbio e o aumento do salário mínimo, o Brasil entrou em um ciclo virtuoso com a procura por serviços e emprego formal”, ressalta Canuto. Porém, o problema foi o fato do Brasil ter usado esse ciclo simplesmente para reforçar o modelo subjacente, ao invés de preparar a economia para a queda inevitável dos preços das commodities. 

O terceiro ponto apontado por Canuto é que, apesar do governo brasileiro ter feito ajustes em seu padrão de crescimento após a crise financeira mundial de 2008-2009, ele foi feito através de um atalho, apoiando-se em políticas fiscais e monetárias anticíclicas, a fim de impulsionar o crescimento, contribuindo para as atribulações que afetam o Brasil de hoje.

Enquanto a primeira e justificada rodada de políticas expansionistas levou o PIB a subir mais de 7% em 2010, o crescimento voltou rapidamente para níveis mais baixos. O governo foi então forçado a implementar uma nova rodada de políticas de estímulo durante o período 2012-2014, em torno do qual incluiu um pacote substancial de benefícios fiscais, exigências de conteúdo local, e a expansão do crédito. Em uma tentativa de conter a inflação sem elevar as taxas de juros, o governo também manteve represou os preços administrados. Levando em conta os fatores estruturais, no entanto, o principal resultado desta segunda rodada de estímulo foi a deterioração fiscal. Em 2015, o Brasil se esforçou para escapar do atalho que tentou tomar e o reajuste dos preços administrados produziu um choque inflacionário, enquanto o Banco Central aumentou as taxas de juros. 

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O quarto fator que prejudicou o desempenho econômico nacional cresceu de forma inesperada no ano passado, aponta o economista: o escândalo de corrupção investigado no âmbito da Operação Lava Jato envolvendo a Petrobras, levando a um colapso do investimento privado em meio ao envolvimento de grandes empresas no imbróglio. Enquanto isso, os investidores externos adotaram a abordagem “esperar para ver”. “A crise política resultante reforçou a paralisia do investimento – e tem também prejudicou a adoção das medidas de ajuste fiscal”, ressalta o economista.

Porém, a médio prazo, a vantagem é que a investigação demonstra o compromisso do Brasil com o estado direito, afirma Canuto, e isso significa que a reputação do país entre os investidores vai se recuperar. “No curto prazo, porém, o Brasil pode esperar que a investigação em curso continuará a ter impacto negativo sobre o PIB e, portanto, levando à queda de receita através de impostos, dificultando ainda mais os esforços de consolidação orçamentária”, avalia.

Assim, Canuto ressalta as atuais propostas para minimizar o déficit, como a CPMF e impostos sobre os ganhos de capital. Entre as despesas a serem revistas, estão os gastos com pensão. Além disso, os esforços para aumentar a flexibilidade do mercado de trabalho e reduzir o custo de cumprimento das obrigações fiscais também vão ajudar a melhorar o clima de investimento no Brasil. “Para restaurar um crescimento forte, no entanto, o fator-chave será a maior confiabilidade – e a confiança depende em grande medida da capacidade do governo para superar a crise política atual. Se ele falhar, a retração econômica atual, que o Brasil pode se converter, muito provavelmente, um pântano”. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.