O que esperar de Bolsonaro na presidência? 3 analistas traçam cenários após a eleição

Para analistas, discursos de candidato e presidente ainda se confundem, mas algumas sinalizações já foram dadas neste domingo

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Os próximos dias que sucedem a consagração de Jair Bolsonaro (PSL) pelas urnas serão acompanhados por muitas especulações sobre como será seu governo. O militar reformado derrotou o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad (PT) por 55,13% dos votos válidos contra 44,87%, em uma campanha marcada pelo tom antipetista e pelo discurso de uma nova política, contra todos os protocolos da política tradicional. Mas, na prática, onde os sinais dados desaguarão a partir de 1º de janeiro de 2019?

Para traçar projeções sobre o próximo governo e como se dará sua relação com os eleitores, o Congresso formado e os novos governadores eleitos, a InfoMoneyTV recebeu três especialistas na noite deste domingo (28): Paulo Gama, analista político da XP Investimentos; Ricardo Ribeiro, analista político da MCM Consultores; e Suelma Rosa, vice-presidente do conselho deliberativo do Irelgov (Instituto de Relações Governamentais). Assista a íntegra do programa pelo vídeo localizado ao final desta matéria.

“A combinação [do Bolsonaro candidato e do Bolsonaro eleito] vai dar um pouco o cenário de como vai ser a relação dele com o Congresso. Ele tem pela frente o desafio de manter sua tropa animada ao mesmo tempo em que vai precisar fazer concessões para conversar com esse Congresso. Tivemos uma renovação grande, mas ainda temos praticamente metade da Câmara que funciona com a chavinha da anterior. Ele vai ter que, de alguma maneira, conciliar esse discurso antipolítico e antiestablishment com as relações que ele vai de fato ter de manter com o Congresso”, observou o analista político Paulo Gama, da XP Investimentos.

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Para o especialista, Bolsonaro deverá insistir em construir um canal importante para sua governabilidade a partir de bancadas suprapartidárias no parlamento, caso dos ruralistas e evangélicos, por exemplo. Mas tal iniciativa tem suas limitações. “Esses são alguns pontos de apoio, que dão a ele certa tranquilidade para iniciar sua relação com o Congresso, mas não tem como fugir da articulação via partido político. Quando conversamos com os integrantes dessas frentes mesmo, eles concordam que é um bom início de aproximação, mas só isso, passando à margem dos partidos, é difícil ter uma governabilidade que dê tranquilidade para tocar pautas constitucionais que exigem maiorias qualificadas”, complementou.

O novo presidente contará com a segunda maior bancada na Câmara dos Deputados, com 52 dos 513 representantes. No Senado, serão 4 representantes de um total de 81, o que exigirá habilidade para a construção de uma maioria sustentável, sobretudo quando se consideram os desafios que virão pela frente e o teor de algumas das pautas apresentadas em seu programa de governo e ao longo dos últimos meses. No início do mandato, a expectativa é que o clima de lua de mel seja suficiente para dar boas vitórias a Bolsonaro. Mas a dúvida está em como essa relação será mantida passados alguns meses ou após o primeiro ano de governo.

“Ainda precisamos entender o que é ruído de campanha, ruído eleitoral, e o que será Bolsonaro presidente. O Bolsonaro presidente é um homem experiente de Congresso, ele sabe que precisa fazer algumas concessões, ele sabe que precisa formar coalizão. Ele propõe formar coalizões de uma maneira diferente, que não seja dividindo as pastas ministeriais. Vamos ver até quando ele consegue fazer isso. Seu partido é uma vitória expressiva. Talvez seu maior sucesso tenha sido eleger 52 deputados com uma bancada que ainda pode crescer mais. Ainda podemos esperar muitas adesões. No entanto, a equipe que está ao redor dele ainda é uma equipe inexperiente de gestão. São nomes que não estiveram no Executivo e a máquina tem suas particularidades. Acho que o tom da transição vai nos dizer muito o que será esse governo”, pontuou a cientista política Suelma Rosa, vice-presidente do conselho deliberativo do Irelgov.

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Para a especialista, outro grande desafio do novo presidente será lidar com a massa de outsiders eleita para as duas casas legislativas, assim como a construção de uma identidade para seu partido. Hoje, o que se nota é que muitos dos nomes eleitos pelo PSL não venceram nas urnas com o mesmo discurso liberal defendido pelo economista Paulo Guedes, o “posto Ipiranga” de Bolsonaro durante a campanha. Além disso, Suelma acredita que o militar reformado deverá enfrentar situações complexas na gestão de interesses federativos e na administração de interesses e demandas de distintos grupos de sua coalizão.

“São grupos que não necessariamente vão se harmonizar. Aliás, durante a campanha e mesmo no momento em que Bolsonaro se transformou em franco-favorito e aí já começaram a passar algumas das ideias que estão elaborando para executar o governo, percebemos que há alguns conflitos. Não sabemos exatamente como serão resolvidos. Os militares impõem um limite ao liberalismo de Paulo Guedes. Os políticos, de certa forma, também. Esse grupo que cerca Bolsonaro é um grupo que, por exemplo no caso da reforma da Previdência, sempre foi muito crítico, sempre foi muito vocal até no questionamento à medida”, avaliou Ricardo Ribeiro, analista político da MCM Consultores.

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Para o especialista, mesmo com tantos desafios, Bolsonaro deverá ter êxito na gestão da coalizão ao menos durante os primeiros meses de mandato. Ribeiro espera que o novo presidente combine uma agenda de medidas econômicas a pautas mais associadas à segurança, tema caro de sua campanha. Nesse sentido, um bom aperitivo para o mercado financeiro deverá ser a aprovação da autonomia do Banco Central logo de início, o que poderia sinalizar compromisso com uma agenda liberal, a despeito do histórico como deputado federal.

Assista à íntegra do programa pelo vídeo abaixo:

BLOCO 1

BLOCO 2

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.