O porquê do fracasso do plano anti-crise está no cidadão norte-americano

Embora discurso de democrata não tenha favorecido, 'não' dos republicanos deve-se muito mais à reprovação de seus eleitores

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SÃO PAULO – Quando se pensa que a crise financeira atingiu seu ápice e vivenciou seu episódio mais emblemático, as turbulências revelam-se ainda mais significativas. Após a Bear Stearns, veio o resgate às agências Fannie Mae e Freddie Mac, sucedido por sua vez pelo socorro prestado à AIG e pela falência do Lehman Brothers. Todos estes episódios tiveram efeito devastador sobre a renda variável internacional. Mas os investidores tiveram, de longe, as maiores perdas na última segunda-feira (29).

Após dias de intensas negociações entre congressistas democratas e Henry Paulson, secretário do Tesouro dos EUA e grande arquiteto do plano anti-crise, foia própria bancada republicada a principal responsável pelo Congresso norte-americano não ter concedido seu aval ao socorro às instituições financeiras de Wall Street.

Por 228 votos a 205, o pacote foi barrado e bolsas desabaram ao redor do globo, em um pregão histórico, mas que muitos investidores gostariam de nunca terem vivenciado. Agora, resta a esperança de que o plano possa ser resgatado e submetido em breve à nova votação entre os legisladores. Mas em tempos de eleições presidenciais, a empreitada é, no mínimo, um tanto difícil.

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A política sobre a economia

A aparente contradição na recusa da maioria dos republicanos ao pacote é facilmente explicada quando vista sob o prisma do contexto político atual nos EUA. Para analistas, grande parte da bancada do partido vem tentando separar a imagem de seu candidato presidencial John McCain da figura do atual presidente norte-americano, George W. Bush, desgastada com a Guerra do Iraque e, agora, com a intensificação da crise.

A situação teria sido agravada ainda mais com o discurso de Nanci Pelosi, líder do Congresso nos EUA e representante democrata. A fala foi feita antes do início da sessão de aprovação do pacote e veio marcada por diversas referências partidárias, que, para muitos, teria ocasionado certo ressentimento entre republicanos mais conservadores.

“No ano novo, com um novo Congresso e um novo presidente, nós nos libertaremos deste passado falido e direcionaremos a América em uma nova direção, para um futuro melhor”, afirmou a congressista democrata.

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Sem o aval da população

Mas a situação é muito mais complexa que simples rixas políticas. Ainda que o discurso de Pelosi não tenha propriamente estabelecido um ambiente dos mais propícios à aprovação do pacote, este foi barrado principalmente pelo temor dos congressistas quanto à resposta que teriam de seus eleitores. Pesquisas conduzidas em diversos canais da imprensa norte-americana revelam que a maior parte dos cidadãos do país são contrários ao socorro a Wall Street.

Com a situação fiscal do país por si só já deteriorada, a percepção de muitos é de que os US$ 700 bilhões seriam utilizados para socorrer instituições financeiras poderosas, que se deixaram levar pelas tentações do mercado e arriscaram mais do que deviam. Nada mais justo que, portanto, pagassem agora pelos seus próprios excessos cometidos no passado.

Além disso, com inflação em alta, crise imobiliária contínua e taxa de desemprego crescente, o cidadão comum dos EUA não vê com bons olhos a possibilidade de ter que pagar mais impostos para que o governo possa socorrer os grandes empresários de Wall Street.

Por fim, há ainda o temor de se abrir um precedente sem igual na história financeira moderna. “O plano pode mudar fundamentalmente e permanentemente o papel do governo norte-americano no livre mercado”, afirmou o republicano Jeb Hensarling, do Texas.

Esforços conjuntos

Nesse sentido, diversas declarações foram dadas – e ainda vêm sendo dadas – pelas autoridades interessadas na aprovação do pacote para pôr fim à separação que o norte-americano faz entre o mercado financeiro e o dia-a-dia de suas contas. Ben Bernanke, presidente do Fed, e Henry Paulson por diversas vezes lembraram que, com instituições financeiras à beira da falência, a tendência é que o crédito torne-se cada vez mais escasso, o que afeta diretamente o lado real da economia e o cidadão.

Outro que não vem poupando esforços no sentido de buscar uma aprovação maior do povo em relação ao pacote é o presidente dos EUA, George W. Bush, que, em discurso feito nesta terça-feira, afirmou que, por mais que US$ 700 bilhões sejam um peso considerável aos contribuintes, o fracasso de uma ajuda a Wall Street neste momento de crise será ainda mais desastroso. “Nossa economia depende de uma ação decisiva do Congresso”, afirmou.

Se, de fato, uma inflexão na percepção dos norte-americanos e dos congressistas republicanos mais conservadores será atingida por Bush, Paulson e Bernanke, somente o tempo irá dizer. E este está mais perto do que parece: diversas figuras políticas manifestaram intenções de submeter o pacote à nova sessão de aprovação no Congresso já na próxima quarta-feira.

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