“O pior inimigo para Dilma Rousseff é ela mesma”, avalia cientista político

Enquanto cenário é de estabilidade no primeiro turno, segundo turno revela rejeição à presidente petista; início de campanha e cenário econômico serão cruciais para candidatos

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A situação que Dilma Rousseff (PT) enfrenta atualmente não é nada confortável. Se, no começo do ano, a presidente tinha uma diferença bastante confortável em relação aos seus principais adversários agora, ela vê os seus rivais se aproximarem, conforme apontam as pesquisas eleitorais divulgadas desde a semana passada, com um cenário um pouco mais favorável de acordo com o Ibope. E, um dos principais pontos de preocupação para o comitê de campanha é tentar estancar o aumento da rejeição de Dilma, que indica que o principal adversário para a presidente é ela mesma.

Se o Datafolha não mostrou muita diferença nas intenções de voto para o 1º turno, percebemos um “empate técnico” entre Dilma e Aécio Neves, considerando a diferença de 2 pontos percentuais na margem de erro. A petista está na frente por 44% a 40%, bem diferente do cenário relatado pela mesma pesquisa em fevereiro – Dilma tinha 54% de intenções de voto, contra 27% do candidato do PSDB. 

O quadro se repetiu no Sensus, que apontou empate técnico entre Dilma e Aécio por 36,3% a 36,2% no segundo turno, apesar de não ter havido tantas variações no primeiro. Por outro lado, o cenário apontado pelo Ibope foi mais positivo para Dilma, que venceria no segundo turno com 41% dos votos contra 33% do tucano, mas estreitando a diferença em relação aos 43% ante 30% da pesquisa anterior. 

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“Este número reflete o aumento da rejeição ao governo, algo que ela tem que estancar para conseguir reverter este quadro negativo”, reforça o cientista político e professor da FGV (Fundação Getulio Vargas), Marco Antonio Carvalho Teixeira. 

Em relação à pesquisa Datafolha anterior, a taxa de rejeição a Dilma subiu de 32% para 35%, enquanto o segundo mais rejeitado é o candidato Pastor Everaldo (PSC), que tem 3% das intenções de voto, mas 18% de rejeição. A exceção ficou para o Ibope, com uma queda da rejeição da petista, de 38% para 36%, mas ainda dentro da margem de erro. Porém, apesar de favorita, Dilma continua com a maior taxa de rejeição: Aécio é rejeitado por 16% e Campos, por 8%.

Para Teixeira, o que explica a queda de Dilma na avaliação do segundo turno é que, mesmo não havendo uma preferência clara para os eleitores num conjunto amplo de candidatos, quando os entrevistados se deparam com uma opção de voto somente entre Dilma e Aécio ou Campos, eles estão tendendo a votar cada vez mais no candidato oposicionista, dada a insatisfação com o governo atual.

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E o desapontamento ocorre em meio a um cenário de maior pressão inflacionária e desaceleração do mercado de trabalho, este último um dos trunfos do governo petista. Na última quinta-feira, foram divulgados os dados do Caged, mostrando a menor criação de vagas de trabalho em 16 anos.

E, enquanto estes números vão piorando, a possibilidade de que atrelar a imagem de Dilma ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que Dilma se recupere parece ser cada vez menor, aponta Teixeira. Isso porque um dos legados do presidente, que era o aumento do poder de compra e da classe média, está sendo colocado em risco com os persistentes aumentos de preços. Soma-se a isso o cenário de baixo crescimento da economia do País e a diminuição da confiança, tanto da população em geral quanto do empresariado. “Os conjuntos de medidas que foram tomadas no curto prazo para estimular a economia não tiveram efeito e as pessoas passaram a buscar alternativas”, avalia Teixeira.

“Desta forma, o pior inimigo para Dilma Rousseff nas eleições é ela mesma, e não os seus adversários”, em meio a incapacidade do governo em reverter o quadro mais negativo da economia e também devido à falta de carisma da presidente. Até mesmo o seu padrinho político, Lula, teria afirmado que Dilma demorou para “defender a Copa do Mundo” e de falar bem de sua atuação na economia, o que denota a falta de jogo político da atual presidente. 

O consultor político e blogueiro do InfoMoney, Vítor Oliveira, reforça esta visão, destacando que o que chama atenção novamente é novamente a dificuldade dos candidatos oposicionistas em apresentar uma melhora na intenção de voto ainda no primeiro turno. Há um descasamento do voto que rejeita Dilma, no segundo turno, em relação ao voto que prefere um oposicionista, no primeiro turno.

Isto tudo reforça a percepção de que este aumento das chances oposicionistas está muito mais ligado ao crescimento da rejeição a Dilma, que a uma preferência por projetos políticos ou candidatos da oposição. Isso ainda está descasado”, aponta Oliveira avaliando, contudo, que a diferença entre “rejeição” e “intenção de voto” é sutil, por vezes, enganosa, mas que ajuda a entender a trajetória das pesquisas dado o contexto atual.

Oliveira destaca ainda que muito se falou da importância de São Paulo e do desempenho favorável de Geraldo Alckmin para a candidatura de Aécio, mas o Datafolha não mostrou grandes variações de voto na região. Por outro lado, aponta, houve uma queda de 6 pontos percentuais da intenção de voto na presidente nos estados do nordeste, algo muito significativo, por se tratar de uma região que votou favoravelmente aos candidatos petistas nas últimas eleições.

E os adversários de Dilma, onde ficam?
Se de um lado, Dilma sofre com a maior rejeição, por outro, a postura mais amigável de Aécio, reconhecendo os feitos do governo anterior e como discurso de que irá continuar com o que está dando certo, está trazendo efeitos positivos para a candidatura do tucano. Soma-se a isso o discurso de que ele não vai cortar gastos e sim promoverá ajustes na economia através de uma aceleração da economia brasileira. “Aécio se distanciou do discurso que tomaria medidas impopulares para dizer que tomará as medidas necessárias”, avalia o professor da FGV, o que dá um resultado indireto para ele. 

Já a candidatura de Campos ainda não parece decolar, ressalta Teixeira, uma vez que ele não conseguiu se firmar como uma terceira via, tem pouca estrutura e ainda não conseguiu captar os “marineiros”. Eles são os eleitores de 2010 de Marina Silva, hoje candidata a vice na chapa do ex-governador de Pernambucano. “O cenário que se desenhava era que não haveria uma polarização entre PT e PSDB, mas não foi isso que aconteceu”, afirma o cientista político. 

Cenário cada vez mais complicado
O cientista político aponta que é um pouco difícil apontar que o tucano seria o favorito mas, aponta, o cenário está cada vez mais complicado para a presidente. “A batalha será mais dura”, afirma, mas não há como afirmar nada, uma vez que a disputa ainda não começou. 

“Teremos que esperar novidades, como os indicadores econômicos e o programa eleitoral. Ainda mais do que isso, o que será feito com o tempo de TV dos candidatos”, afirma Teixeira.

Com a campanha começando de fato neste final de julho, Oliveira ressalta que, a oposição precisará trabalhar muito bem no primeiro turno, utilizando seu tempo relativamente pequeno de televisão e rádio, para confirmar o cenário de chances elevadas de levar a disputa para o segundo turno, destacando que boa parte do eleitorado ainda não conhece as alternativas à Dilma, principalmente Eduardo Campos.

“O eleitor deverá ser capaz de antecipar o resultado do jogo, adaptando a rejeição do segundo turno à sua intenção de voto, conforme a campanha avançar. Mas esse é um cenário que ainda precisa ser confirmado pelas próximas pesquisas”, conclui o consultor.

Ibope: mais favorável, mas com ressalvas
Conforme ressalta a LCA Consultores, a pesquisa Ibope apresentou uma grande estabilidade entre os principais cadidatos à presidência, com Dilma oscilando apenas um ponto percentual para baixo, de 39% para 38%. A soma das intenções de voto dos dez adversários de Dilma chega a 37%, um ponto a menos que a taxa da petista. Assim, fica incerto um 2.º turno.

Porém, aponta a consultoria, uma mudança importante neste levantamento é o aumento no número de eleitores que querem mudanças no governo: de 65% para 70%. Outro aspecto negativo para Dilma é que 53% dos entrevistados entendem que o Brasil está no “rumo errado”. A avaliação positiva do governo Dilma se manteve em 31% em julho. Apesar disso, a maioria dos pesquisados – 52% –  acha que sua situação econômica estará melhor em 2015. Outro ponto contraditório é que 54% dos eleitores preveem que Dilma conquistará novo mandato em outubro.

Os números do Ibope para a disputa do segundo turno – e apenas para a disputa do segundo turno, é importante frisar – são mais positivos para a presidente Dilma, contra Aécio ou contra Campos, do que os registrados pelo Datafolha na semana passada”, avaliam os consultores. Porém, reforçam, a evolução da disputa de segundo turno retratada pelo Ibope é muito semelhante à do Datafolha. Ambos mostram que a distância entre Dilma e seus adversários vem caindo desde o início do ano.

Neste cenário, o tempo de televisão e o modo como a campanha será conduzida serão cruciais para mostrar aos eleitores porque Dilma merece um segundo mandato, enquanto os outros candidatos devem tentar convencer o eleitor porque eles deveriam ocupar o lugar da atual presidente a partir de 2015. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.