O pior ainda está por vir? O que os economistas acharam do rebaixamento do rating

Após rebaixamento da Fitch, análise do mercado é de que a agência, assim como a Moody's devem rebaixar o rating do Brasil para "junk"

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A decisão da agência Fitch Ratings de rebaixar o rating de BBB para BBB- não chegou a surpreender o mercado, mas é mais um ponto de atenção para o Brasil em meio ao cenário de deterioração fiscal e dificuldade política.

Aliás, o ponto destacado pela agência é de que o país pode em breve perder a chancela de bom pagador diante do cenário econômico e político conturbado. A Fitch destacou que a perspectiva negativa para rating do Brasil indica probabilidade de 50% de novo rebaixamento em 12 a 24 meses. 

Segundo o Goldman Sachs, tanto a Fitch quando a Moody’s podem se juntar a Standard & Poor’s já em 2016 e também rebaixarem a nota de crédito do Brasil para “”junk”, em meio ao cenário de deterioração econômica. A S&P cortou a nota do Brasil para grau especulativo no início do mês passado. Assim, o pior pode não ter passado para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que luta para o Brasil manter o grau de investimento. 

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“Em nossa avaliação, a decisão da Fitch de hoje não chega a surpreender, dado o cenário macroeconômico bastante desafiador, erosão significativa dos fundamentos fiscais e menor progresso em uma agenda criticamente necessária de consolidação fiscal nos curto e médio prazos”, avalia o diretor de pesquisa econômica do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos. 

Além disso, as limitações políticas políticas (particularmente evidentes nos aspectos fiscais) e o instável e incerto cenário político reduz muito a probabilidade de uma reviravolta significativa no curto prazo. “Como tal, esperamos que as perspectivas de médio prazo para o crescimento permaneçam fracas, assim como o progresso na frente de consolidação fiscal deve ser limitado e, consequentemente, a dívida pública bruta para continuar a subir”, afirma o economista.

O Barclays afirma esperar que o rating do Brasil seja rebaixado pela Moody’s e/ou Fitch ainda no primeiro semestre de 2016. A Fitch, afirma o economista Bruno Rovai, gostaria de ver as condições políticas e econômicas se materializando de modo a quebrar o ciclo negativo entre ambas as crises e, assim, evitar o rebaixamento. Porém, isso está longe de acontecer.

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“Em relação a Moody’s, acreditamos que o amplo espaço para surpresas negativas no cenário base da agência farão com que seja quase inevitável que ela ajuste o rating soberano, também durante o primeiro semestre do próximo ano”, afirma Rovai. Assim, as condições para o outro rebaixamento estão perto do cenário-base do Barclays. 

Em entrevista para a Bloomberg, Rovai ainda acrescentou que o “Congresso não está se mostrando sensível a ações das agências. Está claro que a CPMF é condição necessária para fugir de um déficit no ano que vem e continuamos ouvindo que as chances de passar são muito baixas”. 

Também para a Bloomberg, o diretor de research para América Latina do Natixis, Juan Carlos Rodado, ressaltou que novos rebaixamentos devem vir, completando: “Realmente não entendo a falta de reação de Moody’s e mesmo da Fitch, que estava dois degraus acima da S&P”. Segundo ele, o aumento da dívida pública é espetacular ao longo do ano passado e o Brasil coleciona uma “tonelada de problemas”. 

Reação contida
Os mercados financeiros tiveram reação relativamente contida ao rebaixamento da Fitch nesta quinta-feira, uma vez que boa parte dos investidores já esperava a decisão. “Algumas pessoas esperavam rebaixamento de dois degraus, embora eu acreditasse que isso não fosse realista… Mas a perspectiva negativa deve ser suficiente para deixar o mercado mais sensível nos próximos dias”, afirmou o economista da 4Cast Pedro Tuesta.

O Brasil ainda possui o selo de bom pagador por duas das mais importantes agências de risco, algo tido por muitos investidores como condição para continuarem aplicando seus recursos no país. “A Fitch está nos dando algum tempo para que avancemos na direção dos ajustes necessários para o próximo ano… Se esse avanço não vier, podemos perder o grau de investimento no primeiro trimestre (de 2016)”, afirmou o economista-chefe do banco Safra e ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall.

Metodologia de notas das principais agências:

S&P Moody´s Fitch Grau
AAA
AA+
AA
AA-
A+
A
A-
BBB+
BBB
BBB-
Aaa
Aa1
Aa2
Aa3
A1
A2
A3
Baa1
Baa2
Baa3
AAA
AA+
AA
AA-
A+
A
A-
BBB+
BBB
BBB-
Investimento
BB+
BB
BB-
B+
B
B-
CCC
CC
C
D
Ba1
Ba2
Ba3
B1
B2
B3
Caa
Ca
C
Wr
BB+
BB
BB-
B+
B
B-
CCC
CC
C
D
Especulativo

  

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.