O parlamentarismo é possível no Brasil? Confira a opinião de 5 ministros e ex-ministros do STF

Para Ayres Britto, Constituição brasileira atual não permite parlamentarismo - mas há visões dissonantes sobre o assunto

Lara Rizério

Publicidade

SÃO PAULO – Em meio à forte crise política que se instalou no Brasil a proposta de substituir o atual sistema presidencialista pelo parlamentarista voltou a ganhar forças no Congresso. Em meados do ano passado, no auge da crise, foi lançada uma ampla frente parlamentar para tirar da gaveta uma proposta de emenda à Constituição apresentada em 1995 pelo então deputado petista Eduardo Jorge (SP), hoje do PV.

Apesar do assunto ter saído um pouco do radar político após o impeachment da presidente Dilma Rousseff, ele sempre ganha forças quando uma crise política se aproxima, ainda mais quando o diagnóstico que se faz: o presidencialismo se esgotou. Porém, muitas dúvidas sobre a adoção do parlamentarismo no Brasil, se ele daria certo ou até se poderia ser implantado levando em conta a atual Constituição brasileira existem e geram diversos debates sobre o assunto. 

Em seminário intitulado realizado pela Fecomércia na última segunda-feira chamado “Parlamentarismo no Brasil: utopia ou possibilidade?”, ministros e ex-ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) destacaram os seus diferentes pontos de vista sobre o assunto. 

Continua depois da publicidade

Carlos Ayres Britto, ex-presidente do STF, é um entusiasta do Parlamentarismo como sistema ideal. Contudo, segundo ele, a Constituição Federal brasileira não o permitiria sem uma nova Constituinte.

“Embora o parlamentarismo seja o que menos enseja crises institucionais, a atual Constituição não permite tal sistema. A Carta Magna descreve todos os atributos provenientes da Presidência da República e no Artigo 5º lista os três poderes independentes: Legislativo, Executivo e Judiciário que não podem ser aglutinados. E para alterar alguma cláusula pétrea deverá se convocar novamente uma Constituinte”, apontou Britto. A Constituição evidentemente precisa de renovação e melhorias, afirma ele, mas os antídotos para as crises estão nela mesma. “Já retiramos dois presidentes, a questão da proliferação dos partidos políticos também pode ser resolvida com base na Constituição e muitos outros problemas podem ser solucionados da mesma maneira”, destacou.

Porém, mesmo essa interpretação é discutida pelos jurista. O ex-presidente do STF, Carlos Velloso, discordou da interpretação de Ayres Britto sobre a afirmação que a mudança política para o parlamentarismo feriria a cláusula pétrea. “Não fere em nada a Constituição, pois não irá extinguir os poderes e sim todos ajudariam a colaborar para um novo sistema”, apontou Velloso. De acordo com ele, o parlamentarismo seria viável se implantado de maneira gradual e com regras bem estabelecidas não correria o risco de se tornar ingovernável como acontece na Espanha.

O ministro do STF José Antonio Dias Toffoli, por sua vez, destacou ainda a importância de uma reforma política. Ele avalia que, após as eleições de 2018, a sociedade civil terá capacidade de se envolver para propor uma reforma que resolverá os problemas do País. “O sistema eleitoral proporcional é o responsável pela proliferação dos partidos políticos, muitos sem peso. Então deveria se ter uma cláusula de desempenho, que aumentaria gradualmente conforme os resultados das eleições e os partidos que não alcançassem o peso mínimo político irão se juntar a outros ou desaparecer. Essa medida, a meu ver, é possível sem necessidade de emenda constitucional”, apontou Toffoli.

Já a respeito do sistema parlamentarista, Toffoli concorda com o ex-ministro Ayres Britto que uma Constituinte seria necessária. Porém, tal evento não seria a solução para o País, pelas incertezas que poderia gerar. “Uma Constituinte a gente sabe como começa, mas não sabe como termina”, apontou Toffoli.

Nelson Jobim, ex-ministro do Supremo, destacou por sua vez que não existem sistemas políticos melhores ou piores e sim os que funcionam em determinado momento ou os que deixou de ser eficientes. Para ele, o sistema político brasileiro não é eficiente e é favorável à adoção gradual do parlamentarismo no Brasil e encontrar a fórmula perfeita para findar os conflitos políticos atuais. Isso porque, mesmo com a mudança do sistema, os interesses partidários paralisariam o País.

Gilmar Mendes, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) destacou ser necessária uma mudança no sistema político, ressaltando os atuais casos de corrupção. Ao mesmo tempo, ele apontou a importância de refletir qual será a mudança política. “Fora o período da Velha República que tivemos certa estabilidade, o presidencialismo tem dado sinais insatisfatórios. A corrupção afeta qualquer forma de governo, então precisamos fazer muitas correções, antes de decidir uma forma de governo”, apontou. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.