O jogo nas sombras do PT pela permanência de Michel Temer na presidência

Por trás dos esforços na construção de discursos, o pragmatismo segue dando as cartas no partido

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – É difícil precisar o real peso da posição do PT na sessão de ontem na Câmara dos Deputados para a conquista do quórum necessário para a realização da votação da denúncia contra o presidente Michel Temer. Enquanto o líder do partido na casa, Carlos Zaratini (SP), se empenhou em convencer o restante da oposição de que o melhor a ser feito seria marcar presença para garantir que se alcançasse a marca dos 432 presentes, sob a alegação formal de que não seria possível evitar que a votação ocorresse, outros dizem que o jogo não foi bem esse.

O deputado Silvio Costa (PTdoB-PE) expôs suspeitas sobre a estratégia de alguns membros da oposição ainda durante a sessão de ontem. “Estou indignado. Já colocaram 300 deputados na Casa ao meio-dia. Estou desconfiado que tem muita gente fazendo o jogo do governo. Estamos cometendo um erro terrível”, chegou a afirmar.

Reforçam as suspeitas a decisão do governador da Bahia, Rui Costa (PT), de exonerar dois secretários estaduais para retomarem seus mandatos de deputado federal e votassem pelo arquivamento da denúncia apresentada pelo procurador-geral Rodrigo Janot, ou seja, a favor do relatório de Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG). Aliados justificaram que um possível afastamento do presidente seria ruim para o governador, isso porque a ascensão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) — presidente da Câmara, primeiro na linha sucessória de Temer e um dos nomes mais cogitados para sair vitorioso em eventual eleição indireta — poderia dar força a ACM Neto (DEM), rival petista na Bahia.

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As manifestações populares contra o peemedebista no dia decisivo também foram fracas e não contaram com aparato de movimentos sociais ligados ao PT compatível com a importância do evento.

Dois fatores podem explicar possível preferência do partido na continuidade de um dos algozes do impeachment de Dilma Rousseff na presidência: 1) manter Michel Temer sangrando no cargo pode tornar o tabuleiro político mais favorável à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2018, mesmo com todos os riscos jurídicos observados; 2) os esforços do governo em enfrentar a operação Lava Jato tendem a beneficiar diversas bancadas, como a do PT.

Em uma avaliação pós-votação, o jornalista Kennedy Alencar chamou atenção para derrotados na batalha. Além do PSDB, de um modo geral, ele incluiu à lista grandes grupos empresariais que apoiaram a queda de Temer, além da parcela da oposição com o mesmo objetivo e o próprio PT, caso se levasse em conta a possibilidade de adiar a sessão. No entanto, chama atenção a presença de outra classe no hall de derrotados. “Outro grande perdedor é o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A votação de ontem é um recado claro do Congresso à Lava Jato. Expoentes da operação, que têm emparedado o Legislativo, como o juiz Sergio Moro ao dizer que os políticos não querem combater a corrupção, ou como os procuradores da República Deltan Dallagnol e Carlos Fernando dos Santos Lima, que vivem a criticar o Congresso em entrevistas e nas redes sociais, recebem uma resposta dos deputados federais. Ajudou Temer um espírito de corpo da Câmara contra o que considera abusos do Ministério Público e do Judiciário”, observou o experiente jornalista em seu comentário diário pela rádio CBN.

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Conforme salienta o jornalista Tales Faria, editor do portal Poder360, tudo tem saído de acordo com o script do PT — e isso acontece desde o impeachment de Dilma Rousseff, na ótica de parte do establishment do partido. Por trás dos esforços na construção de discursos, o pragmatismo segue dando as cartas no PT.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.