O grande temor da Polícia Federal em meio a tantas críticas sobre a “Carne Fraca”

Polícia Federal reconheceu algumas falhas na condução da Operação deflagrada na sexta, mas está em alerta que críticas possam se estender para outras operações, como Lava Jato

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Desde a última sexta-feira, a Polícia Federal é alvo de críticas (ainda mais contundentes) por conta da Operação Carne Fraca. O ministro da Agricultura Blairo Maggi e o presidente Michel Temer apontaram para a “espetacularização” da operação, que investiga fraudes e corrupção no setor frigorífico, mas que foi acusada de generalizar as irregularidades e impactando as exportações nacionais. 

Neste cenário, a própria Polícia Federal reconheceu alguns problemas. O presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Carlos Eduardo Sobral, afirmou que houve “falha de comunicação” na divulgação dos resultados da Operação. “A operação foi necessária, havia corrupção, servidores públicos envolvidos e alguns frigoríficos. Havia crime e a investigação aconteceu. Ao final, a nota da PF diz que foi a maior operação da história. Por causa do quê? Do número de mandados. Só que você dizer que é a maior, envolve uma série de variáveis com importância, repercussão econômica, social. Ao dizer que é a maior, dá uma dimensão muito grande, que talvez tenha gerado essa interpretação de que aqueles fatos eram um problema sistêmico de todo o mercado produtivo brasileiro”, afirmou Sobral. Ele ainda disse que apesar da investigação ter durado dois anos, não significa que a saúde dos consumidores tenha sido colocada em risco. 

Já o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef),  Luís Boudens, criticou diretamente o delegado Maurício Morcardi, que concedeu entrevista sobre a operação. “Moscardi, por exemplo, não tem a menor condição de ser apresentado como coordenador de qualquer operação. Seu tempo na Polícia Federal por si só já justifica sua inexperiência para tratar de assuntos delicados”, disse. 

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Porém, Boudens fez um alerta, apontando que “há uma orquestração para descredenciar as investigações de uma categoria que já provou merecer a confiança da sociedade”. 

A percepção de que estão tentando tirar a credibilidade da instituição ecoa dentro da Polícia Federal, com a visão de que se aumente ainda mais o espaço para mais críticas à Operação Lava Jato, principalmente entre os políticos. Conforme destacou a coluna Painel, da Folha de S. Paulo, os reparos à condução criaram o ambiente para que políticos e críticos da Lava Jato no Judiciário incitarem uma onda de censuras à atuação de órgãos de investigação. 

A fala do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes na terça-feira foi uma pequena amostra desse ambiente.  “Um delegado decide fazer a maior operação já realizada no Brasil e anuncia que todos nós estaríamos comendo carne podre, e que o Brasil estava exportando para o mundo carne viciada. Por que ele fez isso? Porque no quadro de debilidade da política não há mais anteparos, perderam os freios. E não querem que se aprove lei de abuso de autoridade. Então, um mero delegado anuncia operação dessa dimensão porque ele vê o crime cometido na Procuradoria da República”, disse o ministro.

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Na mesma sessão, o também ministro Dias Toffoli disse é preciso “evitar pirotecnias” nas operações policiais e afirmou que o Judiciário deve tomar cuidado ao manter o sigilo das diligências autorizadas. “Se todos nós comêssemos carne podre, não estaríamos aqui em sessão, estaríamos no hospital. Não teríamos servidores para fazer sessões, não poderíamos estar aqui porque estaríamos com algum tipo de infecção”, disse Toffoli.

Conforme destaca a Folha, no Congresso, surge clima para relativizar o trabalho da polícia e pôr em marcha propostas que impõem limites ao Ministério Público e à PF. 

A coluna da Folha aponta ainda a percepção do senador Álvaro Dias (PV-PR), que é entusiasta da Operação Lava Jato. Ele reconhece que as implicações da Carne Fraca abriram portas para críticos à atuação da Polícia Federal. “Facilitou o discurso. É fundamental que a PF venha agora com todas as informações”, avalia.

 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.