O grande risco para Geraldo Alckmin ao assumir a presidência do PSDB

Com a máquina partidária na mão, muitos acreditam que o governador irá consolidar sua candidatura. Há controvérsias

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A percepção de que o aceite do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para assumir a presidência do PSDB a um ano das eleições representa um inequívoco passo no sentido da pacificação interna do partido pode ser precipitada no momento. Após a desistência dos representantes de dois polos opostos em meio ao processo de autofagia tucana — Marconi Perillo e Tasso Jereissati –, o paulista entrou em um vespeiro, empurrado para uma situação que inicialmente procurou evitar. Mas nem sempre a política permite margem de manobra para escolhas.

Alckmin é hoje o nome mais cotado dentro do PSDB para concorrer à sucessão de Michel Temer no Palácio do Planalto. Com a máquina partidária na mão, muitos acreditam que o governador irá consolidar sua candidatura. Por outro lado, os problemas internos do ninho tucano não podem ser subestimados. “Assumindo [o comando do partido], ele teria, de um lado, o desafio de gerenciar um partido que está muito fracionado do ponto de vista interno, mas, em compensação, se tiver êxito nisso, terá um partido unido em 2018″, observou o analista político Carlos Eduardo Borenstein, da consultoria Arko Advice em participação no programa Conexão Brasília, pela InfoMoneyTV. Em eventual fracasso, contudo, a candidatura de Alckmin pode esfriar, evidenciada por uma incapacidade de gerenciar os problemas em sua própria casa.

“Alckmin controlará a máquina do segundo partido que mais elegeu prefeitos, e que terá candidaturas competitivas em vários estados. Controlar esta máquina colocará o governador de São Paulo com muitas ferramentas para fechar alianças para seu projeto nacional”, observou a equipe de análise da XP Investimentos. Por outro lado, é necessário observar como o governador paulista passará a se posicionar sobre os grandes temas nacionais à medida em que sua candidatura se consolida. 

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Na avaliação do analista de cenários Leopoldo Vieira, além de buscar um trampolim para sua candidatura presidencial com o comando do tucanato, Alckmin usa um programa para atrair simpatia com os liberais e simultaneamente acenar a uma esquerda, porém em uma iniciativa ineficaz até mesmo quando direcionada à ala mais ao centro desse campo político. “No máximo, [o governador] pisca para a Rede, de Marina Silva, ao abordar a sustentabilidade como um soft power nacional. Uma piscadela caolha, pois, além de abordar mal a questão mais cara para o agrupamento da ex-ministra de Lula, Alckmin disputará a via do meio exatamente com ela”, observou o especialista.

Para Vieira, o programa do Instituto Teotônio Vilela pode representar “um Destino Manifesto da tragédia de Alckmin”. “Dificilmente ele chegaria ao segundo turno desbancando Jair Bolsonaro pela direita e, muito menos, Lula, à esquerda. Sem o ex-presidente no jogo, mas ele como cabo eleitoral num contexto de comoção por sua interdição e/ou prisão, o cenário de convergência da centro esquerda para Alckmin é uma ilusão”, afirmou o analista político. Ele acredita que o governador paulista estaria mais próximo de ser empurrado ao abismo do que para assumir um papel de liderança necessária no tucanato. Neste caso, Vieira sustenta que um dos voluntários para dar o empurrãozinho seria o próprio presidente Michel Temer.

Com um desempenho baixo nas pesquisas e dificuldades de apresentar contraposição aos movimentos de Jair Bolsonaro em direção ao mercado financeiro e à centro-direita, Geraldo Alckmin ainda precisará mostrar a que veio. Do contrário, o governismo terá de contar com outro nome para competir no pleito de 2018.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.