O governo se põe nas mãos de Renan e dos senadores do PMDB

Depois de conversar com os ministros da Fazenda e do Planejamento e com Dilma Rousseff, o presidente do Senado voltou atrás no que havia anunciado na semana passada e prometeu votar ainda este ano a proposta de aumento da contribuição das empresas para a Previdência

José Marcio Mendonça

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Pelo menos inicialmente (pois nunca se sabe ao certo, em política no Brasil amanhã é sempre outro dia) funcionou a ofensiva do governo para utilizar o Senado, liderado pelo presidente da Casa, Renan Calheiros, para barrar as “pautas-bombas” que saem da Câmara por iniciativa do presidente Eduardo Cunha.

Antes mesmo do jantar dos líderes com a presidente no Palácio da Alvorada, que selaria conversas de aproximação iniciadas na semana passada, Renan Calheiros recebeu em sua residência oficial os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, e aceitou colaborar inteiramente com o governo, como contraponto a seu colega da Câmara. No encontro também estavam os ministros peemedebistas Eduardo Braga (Minas e Energia) e Edinho Araújo (Portos).

Calheiros estava acompanhado de Eunício Oliveira e Romero Jucá, as duas mais expressivas figuras do PMDB no Senado depois dele. Após o encontro, Renan, desdizendo o que vinha anunciando até a semana passada, prometeu botar em votação e aprovar a tempo de a nova regra começar a valer ainda este ano, a proposta do pacote de ajuste fiscal de Levy aumentando a contribuição patronal para a Previdência Social.

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O presidente do Senado assumiu o papel de “bombeiro” em contraposição ao “incendiário” Cunha. Disse, por exemplo, que colocar em votação as contas da presidente Dilma Rousseff agora e discutir a questão do impeachment é “colocar fogo no país”.

Para se sentir a importância dada ao governo à reaproximação com Calheiros, basta ver o quorum do jantar de ontem em contraste com o da semana passada, quando a presidente Dilma fez também um gesto a aproximação com a bancada aliada na Câmara. Naquela ocasião, desafeto da presidente, Cunha nem foi convidado para o convescote. Agora, o presidente do Senado foi o centro das atenções governistas. Nada menos do que 21 ministros compareceram, séquito bem maior que o que prestigiou os deputados.

Renan, para mostrar sua nova postura, apresentou aos ministros Levy e Barbosa o que ele chamou de agenda Brasil: um conjunto de 27 medidas a serem tomadas pelo governo e/ou aprovadas pelo Congresso Nacional para a retomada do crescimento após o ajuste fiscal.

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Um conjunto requentado de coisas que já vêm sendo discutidas desde sempre e que nunca andam e algumas novidades. Inclui, por exemplo, a adoção da idade mínima para a aposentadoria, a cobrança do SUS por faixa etária, a reforma em impostos (os projetos da unificação do ICMS, mudanças no PIS/Cofins), a criação de mecanismos rápidos para licenciamento ambiental.

Segundo alguns políticos experientes, mais uma “agenda” para esquentar as conversas durante alguns dias e depois ser esquecida. Mas justifica a adesão de Calheiros e dá tinturas de boa política às barganhas de sempre. O PMDB deve crescer dentro do governo – e um dos papéis de Lula será acalmar o PT que será o perdedor.

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Dilma e o otimismo
Antes de se encontrar com os Senadores em Brasília, a presidente Dilma esteve em mais um evento de inaugurações do “Minha Casa Minha Vida”, desta vez no Maranhão, e fez novamente um discurso inflamado. Pediu aos brasileiros que repudiem o vale tudo da política e ponham o Brasil à frente de seus projetos pessoais e partidários.

A presidente, porém, continua a não dar a atenção ao conselho que tem recebido de alguns ministros de começar a reconhecer que cometeu alguns erros na condução da política econômica no primeiro mandato e também ser mais realista neste momento. Seria a maneira de começar a recuperar um pouco da confiança perdida depois da reeleição. Ontem ele voltou a afirmar que a situação atual é transitória e a recuperação recomeça logo. Uma perspectiva otimista que não está no horizonte nem de seus ministros econômicos.

A Frente Nacional dos Prefeitos, por exemplo, não está nada satisfeita e traz à tona dificuldades reais. A FNP divulgou ontem uma carta com recados para o governo e o Congresso. O documento também destaca a queda da arrecadação como principal fator para o adiamento de investimentos nos municípios brasileiros, com queda na qualidade dos serviços, uma das fontes de insatisfação da sociedade.

Muitas prefeituras, sem recursos, informa o “Painel” da “Folha de S. Paulo”, perdem os certificados para firmar convênios com o governo federal – o que impede a liberação de emendas e agrava a revolta da base aliada.

Os números da economia também estão saindo sempre piores que o soneto presidencial.

Informa o “Valor Econômico” que Dilma e Lula vão se reunir esta semana, depois de mais de um mês sem se encontrarem (e no meio com alguns ressentimentos de parte a parte) para discutir crise, soluções – e reforma ministerial. Lula também tem um encontro na capital com o vice Michel Temer. Em seu blog no UOL, Josias de Sousa notícia que a reunião será conjunta – um almoço de Dilma, Temer e Lula. E talvez com a presença do novo”poderoso” Renan Calheiros.

Dizem os repórteres Andréa Jube e Lucas Marchesini que Dilma determinou aos ministros petistas convidarem o ex-presidente para o novo ministério – e que ele recusou.

O convite foi feito na sexta-feira quando Aloizio Mercadante (Casa Civil), Jaques Wagner (Defesa) e Edinho Araújo (Comunicação Social) estiveram no Instituto Lula em São Paulo.

Ainda no “Valor”, Raimundo Costa informa que emissários de Dilma fizeram sondagens na sociedade civil de nomes para seu futuro ministério e não encontraram receptividade. O que explica o fato de a presidente haver recuado na intenção de fazer a reforma, anunciada na semana passada e descartada no domingo.

O governo e o PT preparam um contraponto às manifestações de domingo, marcadas para protestar contra a presidente. Amanhã, Dilma e Lula deverão participar da “Marcha das Margaridas”, organizada pela Contag para defender a mulher no campo. Deve se transformar numa manifestação pró-presidente. A UNE prepara, junto com outros movimentos sociais, a convocação de um ato pela legalidade e pela democracia no dia 20.

Lula também inicia sexta-feira, por Brasília, seu novo périplo nacional, uma nova “caravana da Cidadania. Agora, diz que vai focar seu tema em educação, no projeto “Pátria Educadora”, um dos novos slogans do governo Dilma. O ex-presidente vai defender o governo e o legado do PT naturalmente vai também sua popularidade, sentir até onde o desgaste do PT e do governo o atingiram. A mira é, de fato, 2018.

Outros destaques dos

jornais do dia

– “Cunha cobrou da AGU pedido para anular provas da Lava-Jato” (Globo/Estadão/Folha)

– “Lava-Jato faz mais 6 réus e delator vai pagar multa de R$ 70 milhões (Globo/Estadão)

– “Alemanha lucra 100 bilhões de euros com a crise grega” (Globo)

– “Crise nos caminhões; Brasil perde quatro fábricas” (Globo)

– “Funcionários da GM [5 mil} estão de braços cruzados” (Globo)

– “Comércio amarga o dia dos pais mais fraco em dez anos” (Globo/Estadão)

– “Reajuste do salário-mínimo elevará em R$ 40 bi gasto da Previdência em 2016” (Estadão)

– “Economia encolheu 1,8% no segundo trimestre, estima FGV” (Estadão)

– “Superávit da balança atinge US$ 5,3 bi no ano” (Valor)

LEITURAS SUGERIDAS

  1. Miriam Leitão – “País à deriva” (diz que os cenários da economia continuam piorando, com riscos de uma recessão mais prolongada e que Dilma precisa tornar seu governo mais operacional e recuperar a confiança de quem votou nela) – Globo
  2. José Paulo Kupfer – “É a política, estúpido!” (diz que diante das instabilidades e incertezas políticas, empresas e investidores adotaram posição defensiva e que se repete, de certo modo, o quadro de 2002) – Estadão
  3. Editorial – “Tarde demais” (diz que é louvável a presidente procurar o diálogo, mas que o preço político a ser pago aos aliados é caro demais devido ao desgaste do governo) – Estadão
  4. Celso Ming – “Baralho incerto” (diz que a falta de horizonte político tira a previsibilidade da economia. A qualquer momento as regras do jogo estão sujeitas a mudanças.E o diabo, completa, é que nunca se pode dizer que as coisas estejam tão ruins que não possam piorar) – Estadão
  5. Delfim Netto – “Mais ação, menos agitação” (analisa o quadro político e econômico e diz que o ideal para o futuro do Brasil é que Dilma recupere o prestígio e o respeito que recebeu da maioria dos votos válidos na eleição) – Valor