O Brasil não tem partido de oposição, quem faz esse papel é a mídia, diz Lula

Ex-presidente deu entrevista para Glenn Greenwald, do site The Intercept, e falou sobre impeachment, Lava Jato, além de direitos LGBT e atuação da imprensa

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu uma entrevista exclusiva ao jornalista Glenn Greenwald, que ficou mundialmente conhecido por ser responsável na divulgação das informações de Edward Snowden sobre espionagem nos Estados Unidos em 2013. A conversa foi publicada pelo site “The Intercept“, com versões em português e inglês e vídeo da entrevista.

A entrevista durou 45 minutos e nela o ex-presidente falou sobre diversos temas, não apenas sobre Lava Jato ou impeachment, mas também sobre direitos LGBT, aborto e deu um grande destaque às críticas à imprensa nacional, que, segundo ele, tem assumido o papel de oposição nos últimos anos, sendo responsável, inclusive, por gerar ódio na população.

Na conversa, tanto o jornalista quando o petista citaram a revista Veja, além do Estadão e da Globo como veículos que tem tido um papel importante como oposição no Brasil. “Eu penso que o ideal no mundo era que você tivesse uma imprensa altamente democrática, que tivesse sua opinião política e ela fosse expressa num editorial, mas que fosse muito, muito fiel aos fatos. Que não tivesse versão, tivesse os fatos. Pois bem, aqui no Brasil hoje você não tem partido de oposição. Aqui no Brasil quem faz a oposição é, na verdade, a mídia”, afirmou Lula.

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O ex-presidente disse acreditar que “estamos vivendo um momento em que o ódio é estimulado 24 horas por dia contra o PT”. E segundo ele, este ódio é estimulado por pessoas que “não sabem repartir os espaços públicos com aqueles do andar de baixo”. Apesar disso, ele afirmou que está confiante de que as acusações contra si mesmo não serão comprovadas e que o estímulo ao ódio “não vai durar a vida toda”.

Lula ainda exaltou o governo do PT e disse que o partido criou as condições necessárias para o Ministério Público e a Polícia Federal “funcionarem corretamente”. Por outro lado, o ex-presidente afirmou que a Operação Lava Jato faz espetáculo de pirotecnia. “Foi no nosso governo que nós consolidamos a autonomia do Ministério Público, fomos nós que fizemos a Polícia Federal funcionar. Fomos nós que criamos o Portal da Transparência, fomos nós que criamos a lei que permite que qualquer jornalista tenha toda a informação que quiser todo santo dia do governo”, disse. 

Ele disse ainda achar estranho o vazamento seletivo de delações premiadas: “o empresário que está preso vai se livrar da prisão tentando jogar a culpa do crime em cima de alguém”. “O que eu acho fantástico e hilariante é que as empresas têm dois cofres. Um cofre de dinheiro honesto e um cofre de dinheiro corrupto. O cofre de dinheiro honesto é para o PSDB, para o PMDB e para outros partidos. O cofre de dinheiro podre é para o PT. É no mínimo insanidade mental acreditar nisso”, ironizou.

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Impeachment
Lula voltou a defender a tese de golpe com o impeachment e disse que não houve crime de responsabilidade, além do fato de que Dilma não cometeu nada ilegal. “O que está acontecendo é a tentativa de algumas pessoas tentarem chegar ao poder desrespeitando o voto popular. Ou seja, qualquer um tem o direito de querer chegar à Presidência da República, qualquer um, é só disputar”.

Greenwald lembrou que o PT pediu o impeachment dos três presidentes anteriores a Lula. Questionado se os governantes cometeram crimes de responsabilidade que justificavam o impeachment, o petista disse que o de Fernando Collor aconteceu porque ele tinha cometido, mas os de Fernando Henrique Cardoso foram negados pela Câmara “talvez porque não tivesse crime de responsabilidade”.

O ex-presidente ainda falou mais uma vez na tese de que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, estaria se vingando do governo. Segundo ele, o processo contra Dilma segue adiante porque “o presidente da Câmara ficou zangado, porque o PT não votou com ele na Comissão de Ética e ele resolveu se vingar do PT, tentando criar o impeachment da presidenta Dilma, o que eu acho um abuso muito grande neste momento político”.

Confira a entrevista completa:

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.