Nova composição do Congresso mostra crescimento do PT

No entanto, nenhum dos blocos atuais consegue a maioria, o que deve dificultar o trabalho do próximo Presidente

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SÃO PAULO – A proximidade do fim da apuração dos votos da eleição do último domingo já permite desenhar os contornos da próxima legislatura do Congresso Nacional. O resultado das urnas revela uma expressiva vitória da esquerda brasileira, com o substancial crescimento da presença do PT no Congresso.

Por outro lado, o maior derrotado nas eleições para o Poder Legislativo, pelo menos após o término do primeiro turno, foi o partido do presidente Fernando Henrique, o PSDB, que viu sua participação no Congresso diminuída. Além disto, vale destacar que forças tradicionais da política brasileira também perderam espaço, indicando para muitos o início do fim das antigas estruturas coronelistas no Brasil.

Outra grande conclusão é que, independentemente do vencedor do segundo turno, o próximo presidente não contará com maioria absoluta no Congresso.

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Esquerda registra sua maior vitória nas urnas

O resultado das eleições deste último domingo representou a maior vitória da esquerda brasileira em todos os tempos. O expressivo crescimento nas urnas do Partido dos Trabalhadores dará ao partido a maior bancada de sua história, que pode inclusive se tornar a terceira maior do país, atrás apenas de tradicionais campeões de votos como o PFL e o PMDB.

Embora a apuração dos votos não tenha sido concluída ainda, os dados atuais apontam para um crescimento da atual bancada do PT na Câmara dos Deputados de 58 deputados para até 94 deputados federais. O Partido da Frente Liberal, o PFL, deve ficar com a segunda maior participação, elegendo até 88 representantes, frente aos atuais 97 deputados.

Já o PMDB, Partido do Movimento Democrático Nacional deve acumular cerca de 75 deputados, perdendo mais que um décimo dos seus 87 deputados na próxima legislatura.

PSDB é o maior perdedor no Legislativo

No entanto, o maior perdedor, em termos do Poder Legislativo, deve ser mesmo os tucanos, o Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB, que deverá sofrer uma significativa redução de sua bancada. Dos atuais 95 deputados, segunda maior bancada, o partido do presidente Fernando Henrique deverá manter apenas cerca de 75 deputados federais.

A derrota tucana pode ser atribuída às fortes críticas que o partido vem sofrendo em função dos tímidos resultados da gestão FHC relativos a crescimento econômico. Além disto, a perda de ícones nos últimos anos como o Mário Covas, o próprio afastamento da liderança do PSBD de Tasso Jereissati e principalmente a eventual perda do governo federal, deve custar caro politicamente aos tucanos.

Apoio do PMDB será essencial para governabilidade

Com a polarização entre o PT e o PSDB no segundo turno das eleições presidenciais, o eventual apoio do PMDB ao próximo governo deverá ser essencial para garantir sua sustentabilidade, já que sem o partido de Michel Temer, a situação seria minoria no Congresso.

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O desgaste do processo eleitoral deve criar rusgas entre o PT e o PSDB, impedindo que no caso de vitória de Lula, o Partido dos Trabalhadores possa receber o apoio dos tucanos, mais próximos ideologicamente da agremiação. Desta forma, para que um eventual governo petista consiga maioria simples no Congresso será fundamental o apoio do PMDB.

No entanto, já para garantir a votação de questões que exijam mais de dois terços da Câmara, os PT será obrigado a negociar com o próprio PSBD, a despeito de qualquer seqüela eleitoral, e também com o PFL, o que permite antever vida dura para um governo Lula.

Por outro lado, uma vitória de José Serra, tende a reconstruir a aliança de centro-direita que pendurou durante a maior parte do governo Fernando Henrique. Embora o bloco formado por PMDB, PSDB, PPB e PFL possuirá maioria simples desde o início, para a realização das grandes reformas estruturais do país, que exigem maioria absoluta da Câmara, seria indispensável o apoio dos partidos de esquerda.

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PL, PT, PC do B e PRONA devem obter maior crescimento

Curiosamente, os partidos que obtiveram o maior incremento de suas bancadas possuem expressivas diferenças ideológicas. O PRONA, pequeno partido sem nenhum deputado federal até então, terá seis deputados na próxima legislatura. A principal razão para isto é a votação histórica da principal figura do partido, o Enéas, que recebeu mais de um milhão e meio de votos em São Paulo.

Com isto, o PRONA elegerá candidatos com votação sem nenhuma expressão, como o candidato Vanderlei Assim, com apenas 274 votos, Ilderi Araújo, com 381, Elimar, com 481, Professor Irapuan Teixeira com 997 votos e finalmente, Amauri Gasques, este com 18.322 votos.

Os demais partidos, todos orbitando em torno da candidatura petista, portanto, de esquerda, registraram significativo crescimento. O mais expressivo deles foi o do Partido Liberal que deverá passar dos atuais 23 deputados para algo por volta de 26. Já o PC do B deverá ficar com 12, número superior aos atuais dez deputados federais.

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No Senado, PT é o grande campeão de votos

Com a escolha dos próximos senadores praticamente encerrada, a nova composição do Senado Federal também deverá refletir o bom desempenho da esquerda nas urnas. O grande vencedor foi o Partido dos Trabalhadores, que registrou um crescimento de quase 75% na sua bancada, passando dos atuais oito senadores para catorze.

Outro partido com crescimento na bancada é o PFL, que contará na próxima legislatura com dezenove senadores, contra os atuais dezoito, tornando-se junto, com o PMDB, a principal bancada no Senado. Vale frisar a volta do principal cacique do partido, Antonio Carlos Magalhães a Casa, após ter renunciado devido aos escândalo dos painéis.

PSBD e PMDB são principais derrotados

Os partidos da candidatura de José Serra, o PMDB e o PSBD são os grandes derrotados desta eleição para o Senado. Embora o sucessor do MDB ainda seja, junto com o PFL, o a maior agremiação da Casa, o partido perdeu quatro dos seus vinte e três senadores.

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Já os tucanos, também encolheram, caindo dos atuais catorze senadores para apenas onze. Desta forma, no caso de uma eventual vitória tucana, o governo o apoio do PFL será fundamental para a sustentabilidade do governo.

Equilíbrio ideológico no Senado a partir de 2003
A nova configuração do Senador deverá conferir a Casa relativo equilíbrio ideológico. Considerando teoricamente o bloco de direita formado pelo PPB e o PFL, a direita no Brasil possuiria vinte parlamentares, ou seja, 24,69% dos senadores. Já o futuro bloco de esquerda, comandado pelo PT, formado provavelmente pelo PC do B, PL, PSB, PTD, PPS, teria 34,56% da Casa, ou vinte oito senadores.

Finalmente, um bloco de centro, podendo ocasionalmente compor ora com um eventual governo PT, ou sendo a própria situação no caso de vitória de José Serra, possui trinta e três senadores, cerca de 40,74%. Desta forma, qualquer que seja o próximo governo, sua vida no Senado também não será fácil.