Nomura: o balanço da eleição pós-Marina – e o que esperar para as próximas semanas

Mesmo com Marina perdendo forças na reta final antes do primeiro turno, expectativa é de que ela recupere ganhos; passos do PSDB devem ser monitorados com atenção

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Desde a morte de Eduardo Campos, o Brasil vive uma nova eleição. Marina Silva (PSB) foi catapultada pela comoção com a morte do cabeça de chapa da campanha presidencial, além de ter se beneficiado do seu recall de 20 milhões de votos em 2010 e, devido à sua história pessoal, era vista como a candidata da mudança, algo desejado por entre 70% e 80% do eleitorado. 

Isso fez dela uma candidata imediatamente competitiva contra o titular Dilma Rousseff, que enfrenta uma economia fraca e o cansaço com um grupo político já 12 anos no poder.

Conforme ressalta o diretor para mercados emergentes do Nomura, Tony Volpon, enquanto os brasileiros querem mudança, eles querem claramente uma mudança “segura” ou “confiável” que não vai colocar os ganhos econômicos da última década em risco. Assim, desde o início, ficou claro que Marina Silva seria atacada exatamente sobre este ponto: como não confiável e despreparada para a presidência. Com Marina perdendo forças e o primeiro turno se aproximando, a questão é: Marina irá se recuperar? O banco japonês Nomura fez uma análise sobre os próximos passos para as eleições. 

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Apesar de seus pontos fortes, Marina teve falta do que sobrou aos seus dois adversários mais fortes, os “recursos políticos”: o tempo de TV; trabalhadores de campanha e mais palanques; e uma estratégia de marketing bem organizada e planejada. “Isso, nós sempre sentimos, diminuiria fortemente a vantagem inicial de Marina”. 

Somado a isso, a campanha de Marina Silva fez uma série de “erros não forçados” desde o início, como se apressando para publicar um plano de governo de 240 páginas que proporcionou muita “bala canhão” para os seus adversários. Um constrangedor recuo sobre propostas por direitos LBGT ajudou a fortalecer a crítica de que Marina Silva tinha convicções fracas e faltou disciplina. 

A campanha de Dilma Rousseff entrou rapidamente em modo de ataque e, apesar dos muitos problemas que ela enfrenta como candidata, incluindo baixos índices de aprovação pessoal, a sua campanha tem sido muito eficiente na sua comunicação imponente, obstinadamente usando a sua grande vantagem em tempo de TV para atacar Marina e definir a agenda diária e ditando o ciclo de notícias. A campanha de Marina Silva, por outro lado, tem sido constantemente reativa, “mudando o foco” para temas que atingem Dilma  (tais como a recessão). 

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Mas talvez o mais surpreendente – e prejudicial – na campanha de Marina Silva tem sido os ataques de Aécio, que também já chamou Marina de despreparada e não confiável.

“Podemos ver isso claramente os detalhes do último Ibope pesquisa divulgada esta semana. Comparando os resultados da primeira rodada de 3 de setembro, vemos apoio para Dilma aumentando em apenas um ponto, de 37% para 38%, enquanto que Marina caiu de 33% para 29% e o apoio a Aécio passou de 15% a 19%. Então, efetivamente, houve uma transferência de votos de Marina Silva a Aécio”, afirmou.

Infelizmente para Marina, os novos eleitores de Aécio no primeiro turno se tornam eleitores de Dilma. Em simulações de segunda turno, Marina caiu de 46% para 41%, com Dilma subindo de 39% para 41%. “Marina perdeu o apoio de dois grupos distintos, mostrando os efeitos da ‘batalha de duas frentes’, ela sofreu no Nordeste, com Dilma angariando mais votos. E ela também perdeu muito apoio no Sul mais rico. Vemos o mesmo padrão, se olharmos para os eleitores com formação universitária, que apoiam Marina, mas que também diminuíram o seu apoio”. 
Com as pesquisas empatadas entre Marina e Dilma, o que pode acontecer? Segundo a Nomura, a grande questão é se Marina pode reconquistar os eleitores que perdeu com os ataques de Aécio. A também outra questão: pode a oposição no Brasil, que se desuniu após a morte de Eduardo Campos, se unir na segunda rodada? 

“Acreditamos que o PSDB de Aécio ‘irá se dividir sobre esta questão. Parece-nos muito provável que, pensando em uma corrida de 2018. No entanto, outros membros do PSDB poderiam muito provavelmente apoiar Marina Silva contra a “inimiga comum”, Dilma Rousseff. No final, nós pensamos que Marina vai ter capacidade política para recuperar votos que eram dela algumas semanas atrás. Nós ainda acreditamos que ela vai fazer isso, mas isso ainda parece destinada a ser uma eleição em que se vai se lutar até o final”, afirma

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.