No Chile, presidente tem a mesma rejeição de Dilma – e as coincidências não param por aí

A rejeição de ambas está em 68%, enquanto a economia e os escândalos de corrupção trazem consequências bastante ruins para a popularidade de ambas

Lara Rizério

Publicidade

SÃO PAULO – Enquanto a presidente brasileira Dilma Rousseff está às voltas com a sua baixa popularidade (amanhã, uma nova pesquisa de popularidade será divulgada) – e os anseios políticos que isso causa na oposição – a situação não é muito diferente para a presidente do Chile, Michelle Bachelet. 

E, em duas pesquisas divulgadas em julho, o cenário que apareceu foi surpreendentemente parecido para ambas. O Ibope mostrou no dia 1 que apenas 9% dos entrevistados consideram o governo Dilma ótimo/bom, o índice de Bachelet ficou em 27% em junho. O índice de aprovação da chilena foi maior, mas nem de longe é uma boa notícia para ela. 

A aprovação da chilena ficou em 27% em junho, a porcentagem mais baixa do atual mandato e do anterior (2006-2010), conforme destacou ontem a firma Adimark. No mês passado, a aprovação da governante caiu dois pontos com relação ao mês anterior, os mesmos que subiu a rejeição, que chegou a 68% em junho, segundo a pesquisa. Os índices que mais caíram foram “sua capacidade para solucionar os problemas do país”, “ser ativa e enérgica” e “sua capacidade para enfrentar situações de crise”. 

Continua depois da publicidade

Já no Brasil, um fato curioso: o percentual que avalia o governo Dilma como ruim ou péssimo subiu de 64%, em março, para 68% em junho. 

E esses números parecidos não são mera coincidência. Enquanto o Brasil enfrenta uma recessão econômica de grandes proporções, com a expectativa de que o PIB registre queda de cerca de 1,5% em 2015, os dados ruins da economia chilena, que registra um crescimento mais lento, também afeta a popularidade de Bachelet.

O ministro das Finanças chileno, Rodrigo Valdes, cortou a previsão de 2015 o PIB do Chile para 2,5% (de 3,6%), e subiu a taxa de inflação no final do ano para 3,5% e déficit fiscal para 3% do PIB; em linha com as estimativas do mercado.

Estes números serão a base para a preparação do orçamento de 2016, a ser aprovado em setembro deste ano. A declaração virá no final da resposta fiscal do governo para estimular a economia. Segundo avaliam os analistas do BTG Pactual, Cesar Perez-Novoa e Alex Sadzawka, o ministro tem feito o que pode.

O BTG também afirmou que, em contraste com o ex-ministro das Finanças, este governo chileno reconhece a desaceleração, “por isso acreditamos que o mercado vai acolher um conjunto de forma mais clara as previsões macroeconômicas mais ‘sinceras’ – criando uma oportunidade para mais debates sobre como estimular o crescimento, talvez de acordo com um papel maior para o setor privado”. 

Algo bastante parecido com o que acontece no Brasil. Enquanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, era um “poço de otimismo”, assim como Dilma no primeiro mandato. Agora, assim como o governo de Bachelet, o Brasil trabalha com projeções mais realistas. 

Embora tenha iniciado com um índice de aprovação de 54%, os chilenos foram ficando cada vez mais descontentes com a presidente. Além do crescimento econômico lento, pesa ainda negativamente os escândalos políticos, inclusive envolvendo seu filho e sua nora, que abalaram o Chile. Outros fatores são: os protestos de estudantes por reforma no setor, reações da demora de Bachelet em substituir o ministro e a poluição do ar.

Enquanto isso, no Brasil, apesar de não ter atingido a família ou a presidente Dilma Rousseff, o escândalo de corrupção na Petrobras segue afetando a popularidade do governo. “As causas da elevada desaprovação são econômicas, como o aumento da taxa de desemprego, a queda do crescimento da renda e inflação elevada, e políticas por conta dos escândalos de corrupção que assolam a sua principal empresa, a Petrobras. Assim, não esperamos uma reversão rápida da desaprovação do governo, dado o cenário econômico negativo”, destacou a LCA Consultores, em relatório logo após a divulgação do CNI/Ibope. 

Enquanto isso, como não poderia deixar de ser, o futebol. A pesquisa da Adimark afirma que, apesar da Copa América 2015 e que tomou grande parte dos noticiários, o governo se viu afetado nesse período por vários episódios, entre eles a renúncia do ministro da Secretária-Geral da presidência menos de um mês depois de ter assumido. Pelo menos o país de Bachelet ganhou o título. Enquanto isso, o Brasil caiu nas quartas-de-final para o Paraguai, nos penâltis, após ter empatado por 1 a 1 no tempo regular. De qualquer forma, não há perspectivas positivas para as duas presidentes, já que a economia continua pesando bem mais nos índices de aprovação do que o futebol.

Newsletter

Infomorning

Receba no seu e-mail logo pela manhã as notícias que vão mexer com os mercados, com os seus investimentos e o seu bolso durante o dia

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.