Nível da pressão política em nova gestão da Vale é mais importante que nome de CEO

Com a saída de Agnelli, avaliação é que Governo deve tentar cada vez mais alinhar a mineradora com suas estratégias

Julia Ramos M. Leite

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SÃO PAULO – A confirmação de que a Vale (VALE3, VALE5) terá mesmo um novo CEO em 2011 pode ter encerrado um dos principais assuntos discutidos pelo mercado brasileiro nos últimos dias, mas deixou duas interrogações importantes no ar.

A primeira, e a mais simples, é quem substituirá Roger Agnelli à frente da mineradora. A segunda, que não deve ser respondida tão cedo, é o quanto vai aumentar a pressão política do Governo sobre a empresa, uma das maiores do País.

O provável novo CEO
O nome dado como mais certo para a posição é o de Tito Martins, atual diretor da Inco, subsidiária canadense da Vale e diretor-executivo de Operações e Metais Básicos da companhia.

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Seu nome ganhou força na disputa depois que surgiram rumores de que alguns membros da diretoria planejavam uma “demissão coletiva” em solidariedade à Agnelli. Assim, o Governo passou a procurar uma alternativa “caseira” para a substituição do CEO, uma solução que criaria menos atrito na empresa. O executivo, graduado em ciências econômicas pela Universidade Federal de Minas Gerais e com especializações no Brasil, EUA e França, está na Vale desde 1985.

Para Marcelo Varejão, analista da Socopa, Martins já é considerado como nome certo – segundo ele a nomeação de outra pessoa para o posto de CEO seria vista pelo mercado como uma surpresa. Alessandro Barreto, gestor de recursos da Geral Investimentos, é da mesma opinião. “Acredito que já esteja até aceito”, diz o gestor.

Mas indefinição prevalece
Para alguns, contudo, a nomeação de Martins não é vista como tão decidida assim. A hipótese de que o nome não está tão fechado assim foi reforçada pela decisão da Valepar em contratar uma empresa de head hunter para fazer uma lista tríplice para que então o Conselho escolha um executivo para a cadeira de Agnelli.

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“Nos últimos três meses, todo mundo foi cotado para ser presidente da Vale”, aponta Fernando Dantas, gestor da Meta Asset. No mesmo sentido, Márcio Cardoso, diretor da Título Corretora, diz que o nome de Martins é “especulação pura”.

“É preciso entender como será feita essa mudança, qual o objetivo, etc. Por mais que eu ache que o presidente da Vale é super importante, ele faz parte de um todo”, pontua Cardoso. “É importante que ele seja substituído por alguém de qualidade, e um nome de peso, como é o Agnelli, para dar continuidade ao excelente trabalho feito pelo CEO”.

Mas alguns veem o movimento da Valepar como mero jogo de cena. “A impressão que eu fiquei é que é uma figuração. O Governo fez uma pressão tremenda para fazer a troca do comando, depois de todos os meios de comunicação terem anunciado o Tito Martins como potencial substituto, fez um anúncio, parece que foi para tirar o peso do governo”, aponta Barreto.

Para Leonardo Boguszewski, gestor de renda variável da Paraná Asset Management, a contratação de uma empresa de head hunters indica exatamente a vontade do Bradesco em mostrar liderança no processo, dando provas de que o bloco privado de acionistas ainda está à frente e que sucessão está sendo feita de maneira profissional. “Mas a questão é se o mercado irá acreditar nisso”, destaca o gestor.

Jogos de poder
A decisão de quem será o novo CEO passa também por questões de poder entre os acionistas controladores. Um dos muitos nomes apontados ainda em 2010 para saída de Agnelli foi Fabio Barbosa, do Santander Brasil (SANB11).

Entretanto, o Bradesco (BBDC4) teria vetado a indicação de qualquer diretor de um banco concorrente para o posto – inviabilizando também a indicação de nomes saídos do Banco do Brasil (BBAS3). Outro nome veiculado como possível substituto de Agnelli é o de José Carlos Martins, diretor de Vendas e Marketing.

A questão política
A ressalva em comum entre analistas e gestores é que o nome não seja político. “Tudo depende do nome, porque reflete como o processo de decisão foi feito. Se o governo for última palavra, vai colocar alguém alinhado, e a gente percebe que esse caminho para siderurgia seria alternativa mais provável”, frisa Boguszewski.

A hipótese ganha força com a notícia – já negada pelo Governo – de elevação da taxação sobre o minério de ferro, forçando a Vale a se voltar para siderurgia. “A intenção é sobretaxar o minério e aliviar para o aço. É uma forma de pressionar a mineradora a fazer os investimentos que o governo quer, para exportar volumes de maior volume agregado”. Para Varejão, é um processo longo, mas que deve criar muita pressão entre os envolvidos.

“Vamos ver se o governo vai continuar interferindo – no plano de investimentos, por exemplo. Isso pode prejudicar um pouco na direção”, diz o analista. Ele lembra que a insatisfação com o Agnelli é política, e se arrasta desde 2008. “No anúncio do plano de investimento da empresa, o Governo pressionou para investir mais no mercado interno. Agora resta saber como isso vai interferir na estratégia”, completa o analista da Socopa.

Sob pressão
A troca de comando na Vale traz essa exata pergunta à tona: com Agnelli fora, qual será o tamanho da pressão do Governo para alinhar a Vale com seus objetivos? Para os analistas, a tendência é que a intensidade da influência estatal na empresa só aumente daqui para frente, já que o defensor mais ferrenho do status privado da Vale e de seu compromisso com os acionistas era o próprio Agnelli.

“O Roger foi exemplo claro de alguém que conseguiu viver com pressões, mas acabou ficando insustentável”, destaca Fernando Dantas, gestor da Meta Asset. Para Oswaldo Telles, analista chefe da Banif Corretora, a força política do novo CEO é importante independentemente de seu bom trabalho – interferências políticas são uma variável sempre em jogo.

E Rene Kleyweg, analista do UBS, afirma que a expectativa é de que as pressões políticas sobre a mineradora sejam maiores. Neste cenário, Kleyweg avalia que com Martins à frente da Vale, o Governo conseguiria cumprir seu objetivo de tornar a troca de comando na companhia mais amigável para o mercado, apontando alguém de dentro da empresa.

Mas quão forte é Tito Martins? “Eles [Agnelli e Martins] trabalharam juntos muito tempo, espero que ele tenha uma certa resistência. Mas a intenção do Governo é trocar [o CEO] para ter mais facilidade em impor suas exigências. Não sei quão resistente ele vai conseguir ser”, diz Varejão.

Além disso, não é o CEO que deve sair do cargo – são esperadas também mudanças em algumas diretorias da mineradora. “A situação só deve ficar clara para a empresa a hora que tivermos um novo executivo e for possível observar como ele irá se posicionar diante das pressões do Governo”, destaca Dantas.

O futuro de Agnelli
E quanto ao futuro do próprio Agnelli? Rumores indicam que o executivo não deve voltar ao Bradesco, onde construiu a primeira parte de sua carreira. Também afirmam que o executivo já recebeu diversas propostas de bancos no Brasil e no exterior, e que pode estar até mesmo considerando uma carreira política.

Para Oswaldo Telles, da Banif, o próximo passo do executivo pode ser outro: exatamente uma concorrente da Vale. “A chance de ele aparecer como diretor de uma concorrente num espaço curto é muito grande. Quem não quer Roger Agnelli na sua empresa?”, completa.

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